Arrogância - Capítulo 01
Os penetrantes olhos azuis do Arquiduque não haviam perdido o brilho, mesmo após vinte anos. Em vez do ardor da juventude, a experiência ocupava seu lugar, conferindo-lhe uma aparência mais madura. Seus traços fortes e distintos eram o suficiente para agitar o coração de quem o visse, suas bochechas saudáveis e lábios vermelhos despertavam um desejo de tocá-los imediatamente.
Merda, merda.
Luke lutou para conter o tremor e a excitação. Esperava ser consumido por uma fúria ardente ao ver seu antigo amante, aquele que o traiu, vivendo bem. No entanto, aconteceu o oposto.
Sentiu uma dor pesada no peito, uma onda de familiaridade e o bater acelerado do coração, tudo isso misturado com ressentimento e raiva.
Emoções conflitantes, aparentemente impossíveis de coexistir, explodiam dentro dele, exigindo toda sua concentração para manter a fachada cuidadosamente construída.
O rosto de Richard estava tão bonito quanto antes, exatamente como em sua juventude. Contudo, as sombras sob seus olhos e as leves rugas que começavam a surgir o faziam parecer estranhamente vulnerável. O Richard do passado era um homem cruel, que esmagava impiedosamente tudo o que atravessava o caminho, já o Richard de agora parecia que desmoronaria com o mais leve empurrão.
Como uma “presa.”
— …
Verdadeiramente irritante.
Luke descartou todas as emoções complexas que sentia ao ver o antigo amante com uma única palavra — “irritante” — e ofereceu um sorriso tênue. Um brilho estranho, quase lascivo, já cintilava em seus olhos dourados.
Demônios são criaturas movidas puramente pela ganância e prazer. Devem obter o que desejam, custe o que custar, e a palavra “satisfação” não existe em seu vocabulário.
Independente de sua personalidade em vida, no momento em que veem algo que desperta sua cobiça, o desejo inerente começa a se agitar.
Richard, enfraquecido pelo tempo, despertava em Luke um senso de desafio e um sadismo sutil. Ver o homem que não pôde possuir em vida reacendeu nele uma possessividade grotesca.
Durante sua ascensão ao inferno, Luke havia cultivado uma sombria determinação: arruinar completamente Richard Valerion e arrastá-lo para o inferno, assim como ele próprio havia sido.
No entanto, ao vê-lo agora, envelhecido com tamanha elegância, mudou de ideia. Arrastá-lo para o inferno e devorar sua alma aos poucos já não era suficiente.
Ele precisava possuí-lo.
Desejava escravizá-lo, fazer o homem se arrepender e penar por tudo o que havia feito, obrigando-o a servir seu mestre pelo resto da vida.
Flash —
Um relâmpago cortou o céu entre a cortina de chuva.
Com o olhar fixo em Richard, Luke falou novamente:
— A causa da morte do seu filho é algo que ninguém mais conhece. Se quiser saber mais… promete me recompensar?
— Hã!
Richard zombou do pedido de Luke. Não bastasse interromper seu luto, agora aquele homem exigia uma recompensa por informações? Pensava que fosse apenas insolente, mas estava claro que era um completo louco.
— Insolente… Um vagabundo, no fim das contas. Não tenho palavras para trocar com um charlatão. Então vá embora enquanto ainda pode.
Mesmo com a ameaça do duque, Luke não piscou. Em vez disso, como se pudesse enxergar diretamente os pensamentos de Richard, respondeu com uma voz levemente divertida:
『Você quer saber a verdade, não é?』
O sussurro baixo apertou a mente de Richard. E, de repente, sentiu, subitamente, que precisava saber a verdade.
— … Persistente. Então, quanto quer por essa informação? Se for inútil, se prepare para virar comida de cachorro.
Apesar do desconforto, e da sensação de estar sendo forçado, suas palavras saíram antes que pudesse recusar. Enredado pela magia demoníaca de Luke, Richard foi forçado a negociar contra a própria vontade.
— Ahaha, não preciso de dinheiro. Já tenho mais do que o suficiente.
Luke riu suavemente e encarou os olhos do duque.
Ele continuava o mesmo, acreditava que o dinheiro resolvia tudo. Ainda achava que o que Luke queria dele era riqueza.
O demônio, apagando o sorriso do rosto, cravou uma cunha firme na alma por trás dos olhos do duque, garantindo que ele não escapasse.
『O que desejo é o seu favor, Vossa Graça. Vai me concedê-lo?』
‘O que foi isso agora?’
Richard estremeceu, um arrepio percorreu sua espinha, e seu corpo tremeu. Desta vez, sentiu claramente. Seja como fosse, aquele homem tinha o poder de compelir ações de uma pessoa. A súbita urgência em atender o pedido do estranho certamente não era normal.
Seria um mago enviado por algum nobre? Um assassino?
O que quer que seja, não se aproximou com boas intenções. Incapaz de resistir completamente à sugestão, Richard perguntou com desconfiança:
— Não sei que tipo de favor você quer. Deseja que eu lhe conceda um título como recompensa? Ou talvez… terras?
Ele detestava charadas. Sua cabeça latejava a cada pergunta dirigida ao homem. Não era apenas o tédio da conversa, mas um desconforto fisiológico real.
Havia algo estranho e inquietante naquele homem. E então, percebeu o motivo:
Durante toda a conversa, ele não piscou uma única vez. Aqueles olhos dourados e penetrantes permaneceram fixos nele, sem vacilar nem por um segundo.
A menos que fosse um peixe sem pálpebras, isso não era humano. Quando Richard começou a pensar que, — Há algo de errado aqui—, a voz insidiosa deslizou em seu ouvido:
『Vamos entrar e conversar? Você está encharcado. Ao menos deveria se secar.』
Isso não era um convite comum. Para o dono da casa, convidar um demônio para entrar havia um significado especial, e Luke suplicou com ar sério, como se esperasse que o duque concedesse a esse desejo.
— …
Richard estreitou os olhos ao ouvir o pedido. Mais uma vez, sentiu aquela incômoda urgência em permitir a entrada do estranho. Enquanto uma pessoa comum talvez sentisse uma doçura sonhadora diante da voz enfeitiçada, o orgulhoso duque se irritou por estar cedendo tão facilmente a todos os pedidos do homem.
Mesmo assim, não conseguia recusar. Sem conseguir pensar em uma desculpa plausível, Richard apenas virou as costas para Luke e fez um gesto com o queixo, indicando que o seguisse, ignorando o guarda-chuva que lhe foi oferecido.
— Obrigado.
Luke agradeceu educadamente o convite e seguiu atrás dele. Ao deixarem o cemitério da família e caminharem por uma trilha estreita, a chuva se intensificou. Richard continuou à frente, recusando a cortesia do demônio, enquanto Luke seguia com passo calmo, como se já estivesse acostumado a ser tratado daquela forma.
Os jardins da mansão não haviam mudado nada ao longo dos anos. Como sempre, as árvores bem cuidadas e a fonte recebiam os visitantes, e o caminho de terra permanecia impecável, sem uma única erva daninha.
Vinte anos antes, ele havia se encontrado secretamente com Richard sob a sombra daquela mesma árvore. Naquela época, ele era um tanto reservado, mas pelo menos sabia rir de uma piada boba. Agora, com o passar do tempo, tornou-se muito mais rígido e arrogante.
Ao entrarem na mansão, passando pelo local carregado de memórias, Luke fechou o guarda-chuva e falou, em um tom apenas audível ao duque:
『Falaremos de assuntos importantes, peço que ordene que ninguém nos interrompa.』
— …
Como se ele não fosse instruir o mordomo por conta própria. O Arquiduque achou a exigência meticulosa do homem um atrevimento. Estava permitindo sua entrada na sua sala, desmarcando compromissos, apenas porque ele dizia saber algo sobre seu filho, e, ainda assim, o jovem agia com arrogância.
— Revistem-no minuciosamente em busca de itens perigosos antes de deixá-lo entrar. Informem que não é necessário qualquer tipo de hospitalidade especial.
Ou seja, em vez de servir chá, deveriam despir o estranho e revistá-lo como a um criminoso, em busca de armas ou itens mágicos. Os criados, percebendo que se tratava de um visitante indesejado, o escoltaram com certa aspereza, enquanto o duque seguia para a sala de estar.
Agiu com severidade, irritado com a sensação de estar sendo manipulado por aquele homem. Afinal, nem mesmo um dia havia se passado desde o funeral de seu filho. Até o próprio imperador não ousaria exigir uma audiência nesse momento, mas aquele jovem, de nome e origem desconhecidos, claramente estava ultrapassando todos os limites.
Continua….
Tradução: Elisa Erzet