Arrogância - Capítulo 00
Prólogo
BAQUE
O mundo girou quando uma lâmina afiada trespassou sua garganta.
— …!
Seus olhos se arregalaram involuntariamente diante do choque sem precedentes. Luke tossiu, soltando um fôlego que talvez fosse o último, e tombou para frente.
Sob o céu limpo, os rostos daqueles sentados nas arquibancadas começaram a embaçar. Então, como se fosse atingido por uma onda súbita de vertigem, sua visão escureceu rapidamente.
Jamais em sua vida havia sofrido um ferimento grave caçando dragões. Não imaginou que encontraria seu fim pelas mãos de um carrasco com uma esgrima tão desajeitada.
‘Que expressão o homem que me condenou à morte estaria agora?’ Instintivamente tentou virar a cabeça para olhar, mas ela jazia caída no chão separada do corpo.
‘Richard… Por quê?’
Naturalmente, ele não conseguia falar. Nem mesmo mover os dedos ou piscar os olhos.
‘… É assim que eu morro, de forma tão miserável?’
‘Por favor, me diga que isso não é real.’
A alma de Luke ressoava em tristeza. Mas havia apenas um destino para alguém abandonado por Deus.
O momento que acreditou ser o fim foi apenas o início da queda. Sua alma, que antes brilhava intensamente, mergulhou em um abismo sem fundo.
— Aaaah!
Enquanto caía no vazio, Luke percebeu que estava queimando. Embora não tivesse mais carne, ossos ou sangue, a sensação que sentia por meio da alma era puro calor.
‘Salve-me!’
Ninguém ouviu seu apelo desesperado. Incontáveis outras almas, como ele, caíam como meteoros, atraídas pela gravidade do inferno.
— Aaaah!
Memórias acendiam, se tornando combustível para as chamas. Os nomes de todos que amava foram distorcidos pelo calor, e seus arrependimentos se transformaram em cinzas, se espalhando no vazio do inferno.
Mesmo sem ossos, ele os sentia queimando. Não tinha mais um coração, porém o sentia explodindo. A dor não era mais uma sensação, mas a própria essência de sua alma ardendo.
‘Richard! Richard! Seu desgraçado!’
Enquanto os rostos daqueles que conheceu em vida desapareciam simultaneamente, o rosto do seu traidor permaneceu, gravado em sua mente até o fim.
A presença de Richard o envolvia como uma maldição, marcando sua alma.
— Por favor, pare… Está quente demais, pare!
Luke praguejou, rezou e implorou em meio às chamas. E até mesmo essas preces foram consumidas pelo fogo.
Quando a alma miserável, agora coberta de cinzas, finalmente chegou ao fundo do inferno, ele havia se tornado algo completamente diferente.
Ah… ah…
Não apenas seu corpo inteiro estava carbonizado, chamas negras inextinguíveis cintilavam por seu corpo. A cada passo que dava, um som metálico e pesado ecoava.
Como se para provar que um dia fora um cavaleiro, ombreiras e um elmo feitos de ossos negros surgiu firmemente em sua pele. Uma capa de chamas negras cobria suas costas, ondulando de forma sinistra, e a carne exposta por baixo era uma massa contorcida de criaturas negras semelhantes a vermes. Se estendendo por baixo havia, inegavelmente, uma cauda. Tentáculos semelhantes a serpentes, entrelaçados e se contorcendo grotescamente, pendiam da parte inferior do seu corpo.
Ele não era mais sagrado nem nobre. O comandante dos cavaleiros, tendo perdido completamente sua humanidade, soltou um grito angustiado e feroz.
— Aaaah, Richard!
Até mesmo a voz que escapou de sua boca já não era mais humana. Consumido pela maldade, Luke soltou um rugido bestial e socou o chão com os punhos.
Graaaah!
O demônio recém-nascido, consumido por pura fúria, destruía tudo à sua volta, fosse uma rocha rolando no chão ou os restos de qualquer outra coisa.
— Richard Valerion! Seu traidor! Só estarei satisfeito quando te destruir por completo!
O espectro enegrecido derramou lágrimas de sangue, gritando o nome gravado em sua alma caída. Mesmo ofegante, não conseguia conter seus gritos de ódio.
— Haa… haa…
Consumido por uma tristeza profunda, Luke caiu entre os destroços e fez um juramento desesperado de vingança.
— Richard, eu te farei chorar lágrimas de sangue. Sofrerá tanto quanto eu, te levarei a implorar pela morte.
— Irei gargalhar enquanto vejo você sofrer.
— Só mais uma vez, por favor… só por um momento…
— Eu quero te ver.
🌸🌸🌸
O Enlutado Indesejado
Vinte anos depois.
Um homem alto estava sozinho diante de um túmulo. Vestido inteiramente de preto, sem um único adorno, não conseguia esconder sua dignidade inata. Sua figura tomada pela dor pertencia claramente a um homem de linhagem nobre.
— …..
Mesmo após o fim do funeral e o caixão ter sido colocado no sarcófago, o Arquiduque Richard não conseguia se afastar do túmulo. Seus olhos azul-escuro estavam tão sombrios quanto o céu carregado de nuvens.
[Cassiel Valerion (218 – 233)]
[Nasceu sob as estrelas, mas se apagou antes delas. Possuía uma sabedoria mais afiada que uma espada e carregava um destino mais pesado que o sangue.]
O pai enlutado permanecia sobre a chuva, fitando a lápide com o nome do filho. Seus cabelos encharcados grudaram na testa, mas ele parecia alheio a isso.
Seu rosto inexpressivo não revelava emoção, impossibilitando discernir seus pensamentos.
— ….
Foi então que alguém, silenciosamente, segurou um guarda-chuva sobre ele. Em vez de perguntar quem era, Richard levantou a cabeça.
— Perdoe minha intromissão. Te chamei várias vezes, mas o senhor não respondeu, Vossa Graça.
A voz atrás dele tinha um tom suave e juvenil. No entanto, Richard respondeu friamente ao estranho gentil.
— Dei ordens específicas para que ninguém me perturbasse. Quero ficar sozinho, então não me importune.
Apesar da ordem cortante do duque, o jovem não se abalou. Continuou falando com um tom ainda mais gentil.
— Não posso imaginar sua dor pela perda do seu filho, Vossa Graça. Mas há algo que preciso dizer.
— Eu disse que quero ficar sozinho.
Richard respondeu com a voz carregada de raiva, e o estranho fez uma pausa, respirando fundo. Então, como se tivesse tomado uma decisão difícil, falou com cautela:
— … É sobre seu filho. O senhor não quer saber quem matou Cassiel?
As grossas sobrancelhas de Richard curvaram ao ouvir o estranho mencionar seu filho. Era uma pergunta presunçosa e pessoal, mas ele não podia ignorá-la completamente.
Não houve testemunhas do acidente de carruagem que levou à morte do filho, e a investigação concluiu que foi causado pela negligência do cocheiro.
No entanto, aquele jovem desconhecido falava como se houvesse outro culpado. Richard não pôde evitar ficar tenso.
— Se isso for só um rumor infundado, eu nã—
Richard se virou, rosnando para o homem que segurava o guarda-chuva sobre ele. Mas no instante em que seus olhos se encontraram, ele não conseguiu terminar a frase.
O homem era mais alto que o Arquiduque, e seus olhos amarelos brilhavam intensamente, como ouro derretido. Em contraste, sua pele morena era tão atraente quanto a areia dourada, seu nariz era reto, e seus lábios curvavam-se suavemente. O jovem, dotado de uma beleza de uma estátua esculpida, exibia uma expressão de genuína preocupação pelo Arquiduque.
No entanto, seus olhos não revelavam emoção. Apenas um olhar persistente e intenso, como o de um predador observando sua presa, criando uma estranha sensação de inquietação.
— É verdade. Pode cortar minha cabeça se for apenas rumores.
O jovem falou com convicção. Se aproximou, fitando o Arquiduque de cima, a uma distância tão próxima que suas respirações se misturavam.
— ….
Richard não foi o único surpreendido com o encontro. Luke suspirou internamente ao ver o rosto do homem.
‘Richard Valerion.’
‘Você continua lindo, imponente e frio.’
Continua…
Tradução: Elisa Erzet