Açúcar Azul - Capítulo 09
Em vez de responder, ele balançou a cabeça lentamente. O gerente Kang não teve dificuldade em imaginar como Baek Eon-hee o encontrou.
— Então foi pelas redes sociais ou algo assim?
Mesmo sem trocarem sequer mensagens nesse meio-tempo, o gerente Kang também estava a par da situação recente de Baek Sang-hee. Isso porque, dia após dia, o termo “estado atual de Ji Geon-oh” vinha ganhando destaque em portais, redes sociais e comunidades on-line. Alguns chegavam até a suspeitar, de forma velada, que ele estivesse se preparando para um retorno, tamanha era a atenção do público sobre sua vida transformada. A opinião pública ainda era majoritariamente negativa, mas, se ele endurecesse o coração, não parecia impossível falar em reerguimento. Afinal, o que seria noise marketing? Até entre as pessoas ao redor do gerente Kang, não eram poucos os que perguntavam como Ji Geon-oh andava ultimamente, se pensava em voltar a atuar.
(Noise Marketing refere-se ao excesso de estímulos publicitários que bombardeiam os consumidores, dificultando que uma mensagem específica se destaque.)
Ainda assim, Baek Sang-hee parecia pouco interessado em tudo isso. Seus pensamentos continuavam presos à irmã.
— Eu não sabia, mas parece que os cobradores vinham incomodando ela sem parar.
— Ah…
— A dívida é minha. Por que ir atrás dela também?
— Você acha que aqueles caras são chamados de agiotas à toa? Se eles fossem do tipo que leva a situação em consideração, nem teriam se metido nesse tipo de jogatina imunda desde o começo.
O gerente Kang engoliu o gosto amargo com um gole de cerveja. Tentando aliviar o aperto no peito, acabou bebendo sem parar. O copo de 500 ml logo ficou vazio.
— Desculpa. Não consegui te ajudar em nada.
— O que o senhor fez de errado para pedir desculpa?
— Por mais apertado que estivesse, eu não devia ter lidado com aquilo daquele jeito. Quem diria que alguém que comia do mesmo prato seria o primeiro a nos apunhalar pelas costas?
— Deixa pra lá. Isso já passou, e foi algo que eu mesmo provoquei.
Um breve silêncio se instalou. O funcionário que recolhia os copos vazios lançava olhares discretos na direção dos dois. Nem o boné que ele se dera ao trabalho de usar parecia adiantar muita coisa. O gerente Kang soltou um longo suspiro e, então, perguntou com franqueza.
— Depois de sair e viver três meses por conta própria, como está sendo? Só de juros, a dívida já aumentou em cento e vinte milhões, e nenhuma solução concreta apareceu, não é?
Desde o início, não era uma pergunta que esperasse resposta. Baek Sang-hee permaneceu em silêncio, limitando-se a raspar distraidamente a superfície do copo. Observando-o calado, o gerente Kang tentou convencê-lo mais uma vez.
— Não faz isso… liga pra sua mãe, Geon-oh.
— Por que o senhor insiste em falar dessa mulher? Faz anos que não vejo a cara dela.
— Porque, por mais que eu pense, a única pessoa que ainda pode te salvar é ela. Gostando ou não, é sangue do seu sangue. Da última vez que o escândalo estourou, ela também ajudou.
— Aquilo não foi ajuda daquela mulher.
Baek Sang-hee empurrou o copo que vinha girando com os dedos. Como se o rumo da conversa não lhe agradasse nem um pouco, seu olhar já havia se desviado para outro ponto qualquer.
Foi na época em que, após o caso de agressão, não apenas a opinião pública, mas também a agência lhe viraram as costas. A parte prejudicada não demonstrava a menor intenção de acordo. Ele percorreu inúmeros escritórios de advocacia, mas não encontrou um único advogado que garantisse livrá-lo da prisão. Independentemente do motivo, se fosse condenado a pena efetiva, sua carreira no entretenimento chegaria ali mesmo ao fim. Multas contratuais de dezenas de bilhões já estavam previstas. Era um valor impossível de ser pago por alguém expulso da indústria e isolado da sociedade. Sua vida inteira seria destruída.
Sem ter a quem recorrer, encurralado, Baek Sang-hee mencionou pela primeira vez sua mãe ao gerente Kang. Não entrou em detalhes. Não explicou nada. Apenas disse, de passagem, que talvez fosse melhor procurá-la.
O gerente Kang acabou não encontrando Baek Yeonghwa pessoalmente. Em vez disso, explicou a situação a um familiar que perguntou o motivo da visita. Pouco tempo depois, uma equipe de advogados foi atrás de Baek Sang-hee. Eram de um renomado escritório de advocacia, conhecido não só pelos honorários exorbitantes, mas também pela dificuldade de sequer conseguir contratá-los. Com a intervenção deles, foi possível chegar a um acordo de forma dramática, e a pena de prisão acabou sendo evitada.
Ainda assim, a dívida gerada pelas multas contratuais ficou inteiramente nas costas de Baek Sang-hee.
— Aqueles caras vão continuar aparecendo e infernizando a sua vida até você quitar tudo. Não é à toa que a sua irmã não aguentou mais e veio te procurar pessoalmente.
O gerente Kang insistia sem parar diante da indiferença de Baek Sang-hee. Ainda assim, ele não parecia ter qualquer intenção de aceitar a proposta. O gerente Kang também não recuou.
— Eu sei que é pedir demais, mas fecha os olhos e aceita ajuda só mais uma vez. Hein?
— Se o senhor continuar com esse assunto, eu vou embora.
Ao ouvir a insistência contínua, Baek Sang-hee se levantou. O gerente Kang se apressou em agarrar seu braço e, em seguida, colocou um cartão de visitas em sua mão.
— É o número da pessoa que nos ajudou da outra vez. Ele disse para ligar a qualquer momento se surgisse alguma emergência. Pelo que ouvi, eles abriram recentemente uma empresa de entretenimento. Você conhece a In-Ara, não conhece? O primeiro contrato exclusivo que essa empresa conseguiu foi justamente com a In-Ara. Nem precisa investigar o tamanho do capital. Quanto ao motivo de eles estarem entrando de repente nesse ramo… nós, que somos de fora, nem temos como adivinhar, mas parece que estão armando algo grande. O setor inteiro está em alvoroço por causa disso.
Quanto a essa notícia, Baek Sang-hee achava que já a tinha visto de relance na internet. Mesmo sem procurar de propósito, era barulhenta o bastante para chamar atenção.
— ……
Ele olhou para o cartão de visitas amassado em sua mão. Nele estavam impressos o nome “Yang Junseok — Gabinete da Presidência” e um número de contato.
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Baek Sang-hee só aparecia na escola quando tinha vontade. Mesmo quando ia, o máximo que fazia era dormir, e logo desaparecia para algum lugar outra vez. Para ele, ir à escola parecia não ter outro significado além de “marcar presença”.
Como consequência, Seo Hanyeol também passou a sofrer de um tédio insuportável. As aulas eram ruins independentemente de quando as assistisse, e o clima da turma nem precisava ser comentado. Não acontecia absolutamente nada entre os recorrentes escândalos escolares que costumavam agitar a imprensa. Nem mesmo o encontro que ele esperava ter com Baek Sang-hee foi interessante, devido ao desprezo absoluto do outro. Baek Yeonghwa não demonstrava o menor interesse pela vida do filho, e Baek Sang-hee era exatamente igual nesse aspecto. Por mais que ele depreciasse e ironizasse a própria mãe, não vinha reação alguma em troca. Aos poucos, Seo Hanyeol começou a se perguntar por que diabos desperdiçava duas horas por dia indo e voltando da escola.
O tempo que passava na piscina foi aumentando gradualmente. Passava a manhã inteira dentro d’água, ficava sonolento e dormia um pouco, depois voltava a nadar até se esgotar de vez, só então saindo. Após o banho, deixava o corpo molhado secar ao sol. Na maioria das vezes, só vestia o uniforme e retornava à sala por volta da quarta aula.
Subia as escadas em silêncio, arrastando os pés, quando ouviu passos vindo logo atrás. Ao se virar, intrigado, viu uma cabeça balançando lentamente enquanto subia. Não chegou a confirmar o rosto, mas, pelo porte físico distinto e pelos gestos, soube imediatamente que era Baek Sang-hee.
Seo Hanyeol parou e ficou imóvel. Aproximando-se cada vez mais, Baek Sang-hee lançou um olhar rápido e distraído para a pessoa que bloqueava seu caminho. Ao reconhecer Seo Hanyeol, apenas desviou o olhar novamente e continuou subindo as escadas.
— ……
Foi um instante, mas a sensação pareceu durar bastante. O aroma que roçou de leve a ponta de seu nariz também ficou gravado com nitidez. Era diferente do cheiro que sentira antes. Ainda assim, continuava sendo uma fragrância do tipo que costuma agradar às mulheres.
Uma sensação estranha tomou conta dele. Perfume também é questão de gosto, e, em geral, as pessoas tendem a preferir sempre a mesma família de fragrâncias. Além disso, fosse perfume, loção corporal ou xampu, não era como se um produto desses acabasse rapidamente. Pelo que ouviu, Baek Sang-hee mal frequentava a casa onde viviam suas irmãs. Todas essas imagens soltas se embaralharam em sua mente e levaram a uma única conclusão: será que ele tinha trocado de mulher nesse meio-tempo?
Seo Hanyeol ergueu o olhar, observando Baek Sang-hee se afastar. Quando ele abriu um longo bocejo e coçou a nuca, por dentro da camisa fina era possível ver suas costas largas…
Dava para ver os músculos se contraindo de forma tensa sob a pele. Mesmo sem tocar, era possível sentir aquela firmeza compacta, preenchida sem qualquer folga.
Em termos estritos, Baek Sang-hee era um ano mais velho e já um adulto de pleno direito. Ainda assim, a diferença entre os dois não vinha apenas desse único ano de tempo absoluto. Na verdade, não só Seo Hanyeol, mas ninguém da mesma idade chegaria aos pés de Baek Sang-hee. Para além da aparência visivelmente contrastante, havia algo diferente em sua aura — uma espécie de desprendimento, quase como se tivesse alcançado a iluminação.
Isso porque Baek Sang-hee foi alguém lançado cedo demais ao mundo. O universo de quem precisou amadurecer às pressas não podia ser o mesmo daquele que foi cuidadosamente protegido para não se machucar. Era natural que a profundidade e a amplitude do olhar fossem distintas. Talvez o fato de Baek Sang-hee ignorar Seo Hanyeol viesse dessa mesma lógica. Assim como não atribuía grande significado ao espaço chamado escola, tudo ali dentro — incluindo Seo Hanyeol — simplesmente não valia a pena ser levado em consideração.
Uma sensação de vazio o tomou. Ao mesmo tempo, surgiu uma inquietação inexplicável.
— Ei, pessoal, vamos acordar.
A professora de matemática bateu na mesa, despertando os alunos que dormiam. Disse que iria explicar as questões que cairiam na prova final e, à força, fez com que os que estavam debruçados se sentassem. Reclamações surgiram por toda parte. A professora de matemática parecia já ter criado certa imunidade a esse tipo de reação. Seu primeiro local de trabalho fora, por azar, um colégio masculino — ainda por cima, uma turma em que a maioria havia desistido da matemática —, então no início parecia ter tido dificuldade para se adaptar. Mas, àquela altura, já não era alguém que chorava por qualquer coisa.
Claro, fora ela ter ficado mais calejada, nada havia mudado. Ninguém temia a jovem professora. No máximo, cediam a contragosto de vez em quando, mas continuavam a encará-la com olhares insolentes.
— Quem é o aluno que está deitado ali?
A professora de matemática ergueu os calcanhares e lançou um olhar para o canto da sala. Todos seguiram a direção de seu olhar e viraram a cabeça. Logo, uma silhueta familiar entrou em seu campo de visão.
— É o Baek Sang-hee.
— Ele dorme o tempo todo.
De vários lados vieram comentários de que acordá-lo não adiantaria de nada. Seo Hanyeol também logo desviou o olhar que havia pousado sobre Baek Sang-hee. Seria mais fácil simplesmente deixar pra lá, mas a professora de matemática não desistiu. Ela respirou fundo, como se tivesse tomado uma decisão, e então desceu da plataforma em direção a Baek Sang-hee. Diante desse desfecho inesperado, os olhos de Seo Hanyeol — assim como os de toda a turma — acompanharam seus passos.
Por causa de seu porte pequeno, a professora e Baek Sang-hee, debruçado sobre a carteira, pareciam quase do mesmo tamanho. Com a régua de madeira, que nunca fora usada como instrumento de castigo, ela bateu de leve num canto da mesa dele. Como previsto, Baek Sang-hee não se mexeu. Quem acabou ficando vermelha foi apenas a professora.
Ainda assim, recuar naquele ponto era impossível, com tantos olhares fixos sobre ela. Pensando no que viria depois, ela precisava preservar, de qualquer forma, sua autoridade como docente.
— Sang-hee.
Um tom levemente apressado escapou de sua voz. Alguns alunos riram baixinho, observando a situação constrangedora da professora.
— Baek Sang-hee.
Agora com mais firmeza, ela chamou seu nome e tocou de leve seu ombro com a régua. Só então Baek Sang-hee se mexeu um pouco — e apenas isso. A respiração pesada e profunda continuou sem dar sinais de cessar.
— Você pode se levantar um momento?
Persistente, a professora segurou o ombro dele e o sacudiu. No instante seguinte, Baek Sang-hee ergueu o braço e, sem perceber, segurou suavemente o pulso dela. O sobressalto da professora diante do contato inesperado era visível. Ela tentou puxar a mão de volta às pressas, mas Baek Sang-hee envolveu com delicadeza os dedos que escapavam, acabando por mantê-la presa de maneira ambígua. Pouco depois, uma voz carregada de sono escapou de seus lábios:
— Professora…
— Dá um desconto, por favor. Não dormi nem um pouco.
Não havia qualquer intenção de intimidar a outra pessoa. Os caras que aguardavam ansiosos por algum tumulto fizeram logo cara de decepção. A professora de matemática conteve o susto e, percebendo o quanto ele devia estar exausto, perguntou num tom mais gentil:
— Está tão cansado assim?
— Estou quase morrendo.
— Mesmo assim, você veio até a escola… vamos lá, levanta. Eu vou passar o que vai cair na prova.
— Dez minutinhos. Só dez minutos.
— Hm… então daqui a dez minutos você levanta com certeza?
Baek Sang-hee respondeu apenas com um aceno de cabeça. Só com isso a professora conseguiu, enfim, salvar um pouco a própria dignidade e voltou para a mesa. Parecia ter superado um grande obstáculo: os passos ficaram mais leves, assim como a expressão em seu rosto. Àquela altura, os outros alunos desviaram o olhar, como se achassem tudo entediante, mas Seo Hanyeol continuou observando Baek Sang-hee.
Ele parecia outra pessoa. Aquele sujeito frio, quase feito de pedra, agora soava estranhamente diferente ao implorar por dez minutos de sono. Diante da professora, Baek Sanghee parecia até acessível, afável. Dava para perceber uma astúcia sutil — a habilidade de não deixar o outro em situação constrangedora enquanto ainda garantia plenamente o que queria.
Seo Hanyeol virou-se devagar e voltou a olhar para a frente. A professora, com o rosto levemente corado, continuava a aula que ninguém escutava.
Será que tinham se passado mesmo dez minutos? Um brilho satisfeito surgiu no rosto da professora. Os olhos de Seo Hanyeol se arregalaram um pouco ao olhar de relance para trás. Como prometido, Baek Sang-hee estava se erguendo da carteira. Ainda com o sono evidente nos olhos, bocejava sem parar, mas resistiu teimosamente até o fim da aula. Quando a professora explicava o conteúdo que cairia na prova ou dava dicas das questões, ele ouvia como quem não ouve, com as mãos enfiadas nos bolsos — e mesmo assim aguentou até o final.
A professora parecia genuinamente orgulhosa de Baek Sang-hee. Ao sair da sala depois da aula, ela mexeu os lábios na direção dele, como quem dizia “bom trabalho”. Baek Sang-hee, indiferente, apenas voltou a se debruçar sobre a carteira e caiu no sono outra vez.
Não era algo ao qual fosse realmente necessário atribuir qualquer significado. Ainda assim, de repente, a imagem de Baek Sang-hee ao lado da professora de matemática lhe veio à mente. Segurar a mão pequena dela, puxá-la para si, beijá-la — a sequência se desenrolou em sua cabeça de forma estranhamente natural, como água correndo. Não passava de uma fantasia sem fundamento, mas, mesmo assim, não lhe pareceu deslocada.
— ……
De repente, Seo Hanyeol chutou a carteira. Com o impacto, o livro de matemática caiu no chão.
Pensando bem, não era como se ele fosse indiferente a todo mundo. Não ignorava qualquer um. Isso o deixou tomado pela raiva.
— Boato é o que não falta. Dizem que ele anda dormindo por aí com mulheres mais velhas do que ele, isso já é praticamente um fato consumado. E, segundo veteranos que se formaram antes, até professoras que se envolveram com aquele desgraçado dentro da escola já existiram, viu?
Seo Hanyeol lançou um olhar gélido para Im Chanseong. O outro, que tentava se sentar ao seu lado, percebeu o clima e se afastou discretamente. O grupo que ocupava as carteiras próximas se abanava sem parar com os uniformes de educação física encharcados, reclamando do calor. O cheiro forte de suor logo deixou o ar pesado.
Era a entrada do verão, uma época em que o suor brotava só de ficar parado. Até respirar naquele ar quente e imaturo exigia esforço. Nas aulas de educação física, Seo Hanyeol geralmente ficava na sala. Só ia para o pátio nos dias de avaliação prática — e, mesmo assim, fazia a prova o mais rápido possível e voltava direto para a sala.
Ainda assim, naquele dia, ele permaneceu à sombra das arquibancadas, encarando o campo o tempo todo. Baek Sang-hee corria pela pista usando o uniforme escolar. O inspetor disciplinar estava parado bem no meio do campo, observando cada movimento dele. Ao que parecia, tinham pegado Baek Sang-hee cochilando fora da sala durante a aula. Faltas frequentes, atrasos, saídas sem autorização — o inspetor, que vivia à espreita, finalmente encontrou uma boa oportunidade. Mesmo à distância, dava para ver a camisa de Baek Sanghee colada às costas, encharcada de suor.