Açúcar Azul - Capítulo 08
Seo Jong-yeol foi condenado a três anos de prisão, com pena suspensa por quatro anos. De forma incomum, a sentença considerada leniente provocou uma enxurrada de críticas da opinião pública, que a classificou como mais um caso de favorecimento aos chaebols. Como sempre, porém, tratou-se apenas de uma comoção passageira.
Alegando que precisava se recolher e refletir, Seo Jong-yeol afastou-se temporariamente da linha de frente da gestão. Com isso, a questão da sucessão administrativa, que havia vindo à tona por conta do agravamento do estado de saúde do presidente Seo, acabou se dissipando sem maiores consequências. Isso porque até mesmo Seo Hanyeol — que, com o apoio do presidente Seo, havia despontado como um poderoso cavalo negro — declarou sentir responsabilidade pelo ocorrido e recuou um passo.
No fim das contas, o presidente Seo retornou à gestão assim que recebeu alta do hospital. A Seo Juwon, que durante todo esse período havia corrido de um lado para o outro sozinha, coube o cargo de diretora-executiva da Ilsin System, uma das principais afiliadas do grupo. Era a primeira vez, na história do Grupo Ilsin, que uma mulher assumia o posto de presidente.
Seo Hanyeol, por sua vez, passou dias igualmente atarefados. Isso porque ele conseguiu firmar um contrato de exclusividade com In-Ara, cujo valor de mercado havia disparado vertiginosamente, fazendo com que o negócio de entretenimento entrasse rapidamente em plena operação. O prédio da empresa já havia sido construído dois anos antes, com dois subsolos e cinco andares acima do solo, e ele ofereceu salários mais de 200% superiores aos anteriores para atrair especialistas de cada área — planejamento, divulgação, operações e gestão. O fato de que a empresa, que acabou de dar seus primeiros passos sob o nome de “SSIN Entertainment”, tinha por trás um dos maiores conglomerados do país despertou enorme interesse. Chegaram até a circular rumores de que o CEO, Seo Hanyeol, mantinha uma relação imprópria com In-Ara. Tão ousados haviam sido seus movimentos.
No início, a empresa chamou atenção simplesmente por ter sido escolhida por In-Ara, mas, aos poucos, o foco passou a recair sobre o motivo que levou o herdeiro do Grupo Ilsin a iniciar repentinamente um negócio no setor de entretenimento. Pedidos de entrevista se avolumaram não apenas da imprensa especializada em celebridades, mas também de diversos jornais econômicos. Ele não atendeu a nenhuma das solicitações, mas as matérias relacionadas continuaram a surgir sem cessar.
Seo Hanyeol passou os olhos com indiferença pelo tablet que segurava e, em seguida, o entregou à secretária Yang.
— A equipe de relações públicas acha que publicar uma entrevista do senhor em um jornal de grande prestígio ou em uma revista econômica famosa também teria um efeito bastante positivo.
— Efeito positivo?
— Sim. É um negócio que o senhor acabou de iniciar e há muitos olhares atentos, então acreditam que seja importante construir uma boa imagem.
— Em que momento eu disse que iria abrir capital?
— Como?
— Agora ou no futuro, pedir dinheiro aos outros? Isso não vai acontecer. Não estou inflando a empresa para vendê-la em algum lugar. Uma agência só precisa administrar bem os artistas que representa. Que importância tem essa tal imagem externa?
— Ainda assim, já que o senhor decidiu tocar o negócio, se alcançar resultados excelentes, não seria bom receber reconhecimento do presidente e dos acionistas?
— Reconhecimento… senhor secretário. Acho que você está confundindo as coisas. Eu não tenho o menor interesse nisso. E também não tenho a menor intenção de deixar terceiros se meterem no meu trabalho.
Seo Hanyeol encarou diretamente a secretária Yang através do espelho. Diante daquele olhar firme, claramente um aviso, ela se calou. Nesse momento, o cabeleireiro disse “com licença” e ergueu a mão à frente da testa de Seo Hanyeol, como um visor. Em seguida, borrifou o spray de forma uniforme e começou a finalizar o penteado.
— Do outro lado, não há nenhuma novidade?
Com os olhos fechados, Seo Hanyeol perguntou.
— Desde logo após a assinatura do contrato com a senhorita In-Ara, propostas para publicidade e roteiros de projetos continuam chegando. Sobre isso, o senhor receberá um relatório na reunião da equipe de planejamento de hoje.
— …Não é isso.
Seo Hanyeol continuava de olhos fechados. Em seu rosto sereno, percebia-se uma paciência incomum. Tentando adivinhar a intenção por trás da pergunta, a secretária Yang murmurou um suave “ah”.
— Daquele lado, ainda não há nada.
Mesmo tendo perguntado de propósito, Seo Hanyeol não demonstrou reação alguma. Observando o clima, a secretária Yang tentou confirmar com cuidado a intenção dele.
— Quer que eu descubra o que ele anda fazendo?
— Não.
A resposta veio imediatamente, num tom firme e categórico. Ao abrir os olhos em seguida, o rosto de Seo Hanyeol parecia, de algum modo, teimoso.
(“Daquele lado” refere-se ao Sang-hee ter aceitado a proposta de Han-yeol.)
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— Já fez o seu pedido?
Clique. O som cru do obturador ecoou pelo ambiente. A maioria das fotos era tirada às escondidas, mas alguns sequer se davam ao trabalho de disfarçar, erguendo o celular abertamente na fila de pedidos. Baek Sanghee não se importou com aquela situação opressiva. Mesmo ouvindo seu nome ser mencionado sem pudor nas conversas alheias e sentindo os olhares furtivos pousarem sobre si, ele apenas continuou anotando os pedidos em silêncio.
Já fazia três meses desde que havia sido dispensado do serviço militar. Não podia continuar vivendo às custas dos outros indefinidamente, então procurou um trabalho qualquer. Ainda que fosse num café-restaurante administrado como negócio paralelo por um ator conhecido seu. Graças à longa experiência como funcionário temporário, aprendeu o serviço rapidamente. Não chegou a se entrosar intimamente com os colegas, mas também não ficou totalmente deslocado. O problema era o fato de Baek Sang-hee ser um ator de rosto amplamente conhecido — e de que os últimos dois anos não haviam sido tempo suficiente para que fosse esquecido.
A curiosidade das pessoas não se limitava a encontrar um famoso em um lugar inesperado. Sua trajetória, reputação e até o incidente de dois anos atrás tornaram-se assunto constante, enquanto cada pequeno gesto seu era observado com atenção excessiva. As fotos tiradas sem parar tinham um único propósito: servir de prova. Se fosse antes, talvez fosse diferente, mas agora, após causar polêmica com um caso de agressão e passar dois anos praticamente em fuga dentro do exército, quase ninguém se mostrava disposto a demonstrar boa vontade. Como um guardanapo usado e descartado, a existência de Baek Sang Hee não passava de um tema superficial, consumido e jogado fora sem peso algum.
O gerente manteve o semblante aflito o tempo todo. E não era para menos: desde a chegada de Baek Sang-hee, tornar a operação normal havia se tornado difícil. No início, os clientes começaram a reconhecê-lo um a um; agora, havia mais gente aparecendo apenas para observá-lo, a ponto de a situação ter saído do controle. À primeira vista, não se encontrava uma única mesa vazia e as vendas haviam aumentado visivelmente, mas não era algo de que se pudesse simplesmente se alegrar. O estabelecimento, que se orgulhava de um espaço amplo, cercado por tetos altos e grandes janelas, embalado por um suave BGM, agora era tomado apenas por cochichos baratos e pelo incessante som de obturadores.
Os clientes habituais evitavam aquele clima desconfortável, saindo mais cedo ou deixando de frequentar o lugar. Ainda que houvesse ordens do proprietário, era questionável se manter uma figura tão barulhenta ali era realmente vantajoso. Havia até o receio de que a imagem do café fosse prejudicada. Ainda assim, Baek Sang-hee não era um funcionário incompetente, de modo que não havia um motivo claro para apontar como problema. A situação era delicada — ainda mais por não existir um prazo definido.
Logo após sua dispensa do serviço militar, a notícia de seu retorno foi divulgada por alguns veículos de imprensa. No entanto, o próprio Baek Sang-hee não demonstrou qualquer intenção de voltar ao meio artístico. Ele nunca havia idolatrado a profissão de ator em toda a vida. Sua estreia aconteceu por acaso e, por sorte, ganhou destaque relativamente cedo. Não houve tempo sequer de se preparar para a queda. Mesmo no instante em que despencou no abismo, Baek Sang Hee não debateu uma única vez. Não era algo pelo qual fosse desesperadamente apaixonado. O que restava era apenas uma morte miserável.
Ainda assim, ele não sentia saudades daquela vida extravagante e caótica de então. Mesmo que o problema tivesse sido outro, por quanto tempo mais uma existência sem entusiasmo poderia ter continuado? O preço pago por uma vida de esgoto que ousou buscar a luz voltou na forma de uma dívida de 1,4 bilhão de wons.
Apesar disso, Baek Sang-hee não se sentia apressado. Era uma vida familiar: sem ninguém em quem se apoiar, sem nada além do próprio corpo. A existência parecia dar voltas e retornar a mais de dez anos atrás. Por ter o rosto um pouco conhecido, encontraria alguma dificuldade para achar trabalho, e até atos banais como comer ou andar na rua poderiam atrair atenção — mas o tempo daria conta disso. Assim como quando o Baek Sang-hee de vinte e quatro anos se tornou o ator Ji Geon-oh, era apenas o processo inverso: o ator Ji Geon-oh voltando a ser o Baek Sang-hee de trinta anos.
(O nome artístico de Sang-hee é Ji Geon-oh.)
— Já fez o seu pedido?
Baek Sang-hee não se deixou abalar pela atenção que recaía sobre ele. Sua postura profissional ao receber os pedidos e o tom tranquilo de voz permaneciam inalterados. Talvez tenha sido justamente essa indiferença — a capacidade de não se importar nem um pouco com o entorno — que lhe permitiu sobreviver por alguns anos no meio artístico, mesmo sem paixão pela atuação ou um talento extraordinário.
Mesmo após esperar por um bom tempo, não veio qualquer resposta do outro lado do caixa. Diante do silêncio prolongado, Baek Sang-hee ergueu o olhar. Uma mulher o encarava com evidente mau humor. A expressão dele não mudou, mas, desta vez, ele não perguntou “senhora?” nem demonstrou estranheza diante do silêncio alheio.
— Você pode arranjar um tempo?
Quem fez a pergunta não foi outra senão Baek Eon-hee. Sem dizer nada, Baek Sang-hee apenas assentiu com a cabeça.
Havia um leve tremor na mão que segurava a caneca. Consciente disso, Baek Sang-hee ergueu deliberadamente o olhar, afastando-o das mãos de Baek Eon-hee. Não sabia dizer quantos anos haviam se passado desde a última vez que se viram. Desde o alistamento — e mesmo depois de sua estreia como ator — os irmãos mal haviam se encontrado de verdade. Baek Eon-hee não encarava o irmão. Seus olhos vagavam inquietos por algum ponto no chão o tempo todo.
Baek Sanghee não perguntou apressadamente por que ela tinha vindo, nem demonstrou curiosidade sobre como ela estava. Apenas se recostou na cadeira e esperou que Baek Eon-hee abrisse a boca. Simplesmente parecia ser assim que deveria ser. Ao longo dos últimos anos, ele se acostumou a agir desse modo. Por qualquer motivo que fosse, quem vinha primeiro era sempre a irmã mais nova; as conversas aconteciam como comunicados, e Baek Sang -Hee sempre escutava em silêncio o que ela tinha a dizer. Hoje não seria diferente.
— Ouvi dizer que você teve de deixar a casa onde morava por causa das dívidas. Então… onde está vivendo agora?
Ela falou com dificuldade, mas não parecia realmente curiosa. Baek Sang-hee respondeu com naturalidade, apontando com a cabeça para o interior do estabelecimento.
— Tem um quarto ali dentro.
— Mesmo que por enquanto dê para levar assim, você não pode continuar vivendo desse jeito para sempre. O que pretende fazer daqui para frente?
— Fazer o quê? Vou viver como antes.
Pelo visto, a resposta despretensiosa não a agradou nem um pouco. O olhar de Baek Eon-hee, que até então andava disperso, voltou-se de imediato para Baek Sang-hee. Havia clara hostilidade em seus olhos tensos.
— Você ainda acha que tem vinte anos? Você já tem trinta. É uma idade difícil até para recomeçar em outro lugar. E, ainda assim, vai continuar sem plano nenhum?
— E existe mesmo algum plano possível?
O sorriso breve com que ele devolveu a pergunta soou quase como deboche. Sem se alterar nem um pouco, no tom relaxado que lhe era característico, Baek Sang-hee completou:
— Hein? Existe?
Baek Eon-hee abriu a boca, mas voltou a fechá-la. Mordendo o lábio inferior, frustrada, não conseguiu encontrar uma resposta adequada.
— Ouvi dizer que você se endividou bastante.
— Isso é da sua conta?
— Eu também queria que não fosse.
— Então haja como se não fosse.
— Então vai viver em algum lugar fora da vista de todo mundo, sei lá.
— Fora da vista, onde? O quê, quer que eu morra?
— …Não é isso que eu quis dizer.
— Minhas dívidas não vão desaparecer só porque eu sumi. Se declarar falência resolvesse tudo, eu já teria feito isso há muito tempo.
Baek Eonhee também já era, sem dúvida, uma adulta. Não havia como ela desconhecer a lógica óbvia do dinheiro.
Por um instante, a conversa se interrompeu. Baek Sang-hee e acendeu um cigarro e, como quem traça um limite, concluiu:
— A dívida é minha, eu pago. Você não precisa se preocupar. Nem tem motivo pra isso.
— De que jeito? Trabalhando como temporário num lugar desses? Ou o quê, vai voltar a servir bebida para mulheres da idade da mamãe?
— Se achar que isso é melhor, tanto faz.
A postura sempre leviana fez Baek Eon-hee explodir de vez.
— Você não sabe quem você é ou finge que não sabe?
— E quem eu sou?
— Você é uma pessoa chamativa. Basta ir comer em algum lugar ou trocar duas palavras com alguém — até só trabalhar assim, como agora — para seu nome começar a circular por toda parte. E ainda fala em viver como antes? Nem de brincadeira dá para dizer que vai voltar a trabalhar em lugares assim!
— Por isso mesmo eu disse para você não se preocupar. É só fingir que eu não existo.
— Como é que faz isso? Desde que você foi para o exército, os cobradores aparecem quase todo dia. Seja em casa, na escola ou no trabalho, eles surgem em qualquer lugar pressionando por dinheiro, a ponto de não existir mais ninguém que não saiba que você é meu irmão! Você realmente… não pensa nem um pouco na gente?
— ……
— Nem estou pedindo que você viva bem. Não espero ganhar nada às suas custas. Só não dá para viver de forma comum, em silêncio, por favor? Quer dizer, comigo até tudo bem. Mas e a Han-hee? Ela já tem dezoito anos. E mesmo assim ainda não consegue sair sozinha de casa. Você já se esqueceu de quem é a culpa disso?
Os olhos de Baek Eon-hee, cheios de ressentimento em direção ao irmão, se encheram de lágrimas. Ainda assim, o rosto de Baek Sang-hee permanecia calmo.
— Fui eu que incentivei isso?
— O quê?
— Fui eu que saí espalhando por aí que sou o irmão dela?
— …Você está dizendo que a Han-hee provocou isso?
— Não é como se não houvesse culpa nenhuma.
— Ela está doente. Desde aquele dia até agora, mal consegue encarar as pessoas. E você, falando assim de uma criança…!
— Por quê? Quer dizer então que até o fato de eu ter nascido é tudo culpa minha?
Ele zombou, num tom claramente irritado. O punho cerrado de Baek Eon-hee ficou branco de tanta força.
— Você está mesmo perdido, não está?
— Só percebeu agora?
Baek Eon-hee engoliu o ar úmido, cheio de lágrimas, e enxugou com força as que se acumulavam no canto dos olhos. Em instantes, a região ao redor ficou avermelhada. Depois de se recompor mais uma vez, ele tirou a caderneta bancária da bolsa e a arremessou em direção a Baek Sang-hee. Em seguida, juntou seus pertences e se levantou.
— Consegui um emprego. Agora ainda vai ser difícil, mas vou te devolver aos poucos tudo o que você me ajudou até hoje.
Como se estivesse lavando uma culpa antiga e enraizada — algo que parecia ter decidido fazer havia muito tempo. O rosto de Baek Eon-hee, ao fazer aquela declaração com serenidade, chegava até a parecer aliviado.
— Então…
Para irmãos que não compartilhavam quase nada além do sobrenome, aquela única palavra bastou para selar a ruptura.
— A que devo a honra?
O gerente Kang entrou com uma expressão surpresa. Antes mesmo de se sentar, já perguntou o motivo da visita, como se estivesse morrendo de curiosidade. Não era de se estranhar, considerando que Baek Sang-hee não entrou em contato uma única vez nos últimos três meses. Enquanto pedia “uma cerveja clara, por favor” ao funcionário que veio anotar pedidos extras, ele não tirava os olhos de Baek Sang-hee. Era como se desviar o olhar por um segundo sequer pudesse causar um desastre.
Baek Sang-hee deu de ombros, como se não fosse nada demais.
— Minha irmã esteve aqui mais cedo.
— Sério? Vocês mantinham contato?