Açúcar Azul - Capítulo 07
— Um presidente desses andando por aí agarrado com uma cantora que poderia ser filha dele… como é que isso não ia feder? Qualquer um percebe que tem alguma coisa errada. E foi justamente por feder que acabou sendo pego.
— Do que você está falando, afinal?
— Enquanto a diretora Seo arruma tudo aqui dentro, eu vou dar um tempo lá fora para escapar do gelo. Tem um negócio que eu vinha preparando aos poucos, sem os velhos ficarem sabendo.
— Negócio? Não me diga que você está falando daquele investimento?
O rosto que perguntou, já adivinhando a resposta, se fechou em clara desaprovação.
Seo Han-yeol, assim que atingiu a maioridade, passou a se envolver em incontáveis rumores amorosos. Sempre que um escândalo estourava, a empresa divulgava a versão de que ele apenas havia se encontrado com a outra parte na condição de anunciante ou investidor de produção. Para sustentar o álibi, investimentos reais de fato eram feitos, e como os encontros com uma mesma pessoa nunca duravam sequer um mês, os boatos logo se dissipavam. Dentro e fora do grupo, isso era chamado de “negócio de investimento”, mas, na prática, não passava de gerenciamento de crise.
— Não, não é isso. Tô falando de algo mais sério. Pensei em fazer direito dessa vez. Pelo que ouvi, aquela In-ara… parece que ela está procurando uma empresa nova agora.
— Você mexeu com ela também?
— Já falei que não mexo com ninguém mais velho que a diretora Seo.
— Então, por que diabos você iria abrir uma empresa por causa dela?
— Não é exatamente por causa dela. Ela é só… uma isca grande.
O tom com que ele falava de negócios era leviano demais. Seo Joo-won ficou sem palavras por um instante e depois balançou a cabeça, firme.
— Não. Agora não é hora pra esse tipo de conversa despreocupada.
— Justamente por isso é a hora perfeita. E eu não trouxe isso pra pedir autorização. Se for preparo, já está tudo pronto. Não importa o que a diretora Seo diga, eu vou fazer. Só estou avisando.
— Seo Han-yeol… quando é que você vai criar juízo?
— E por que eu teria que criar juízo? O que exatamente a diretora Seo ganharia com isso?
Seo Han-yeol perguntou de volta, soltando uma risada curta. Não era uma confiança sem fundamento. Se ele fosse são de corpo e mente e tivesse ao menos metade da dedicação de Seo Joo-won, o presidente Seo o teria escolhido como herdeiro sem hesitar. Pensando bem, o rival mais perigoso de Seo Joo-won não eram os outros primos, mas o próprio Seo Han-yeol. Desde pequeno, nunca houve nada que ele quisesse — mesmo que fosse um capricho absurdo — que não acabasse se tornando realidade. O favoritismo sem limites do presidente Seo tornava isso possível. Han-yeol fora o primeiro neto que o presidente carregou nos braços e, antes de o tio mais velho, filho ilegítimo, aparecer trazendo Seo Jong-yeol, ele era o tão precioso primogênito de uma família carente de herdeiros. O presidente Seo também sentia profunda compaixão pelo fato de o neto ter perdido a mãe ainda cedo.
Seo Joo-won sabia que, fizesse o que fizesse, jamais conseguiria se sobrepor a Seo Han-yeol. E sabia porque não havia como não saber. Se Han-yeol não fosse seu irmão de sangue, ou se fosse alguém cego pela sede de poder, a relação entre eles não seria a que era agora. Ela jamais teria ficado parada, observando um rival onze anos mais novo crescer a ponto de se tornar uma ameaça.
— Nem o último desejo de alguém prestes a morrer você vai atender?
Han-yeol sorriu, despreocupado.
— Quem é que vai morrer?
— Para que tanta hesitação? Estou dizendo para você me deixar de lado por um tempo e fazer tudo o que quiser como diretora. Eu ajudo.
Seo Joo-won encarou os olhos dele em silêncio, como se tentasse decifrar suas intenções. Só depois de um longo momento perguntou, em tom de advertência:
— Você não está planejando nenhuma loucura, está?
— Bem… talvez eu faça uma ou outra coisa meio estranha.
Han-yeol respondeu de forma brincalhona, coçando a testa. Quando ela estava prestes a repreendê-lo por aquela atitude leviana, ele de repente a chamou:
— Noona.
Soou inesperado. Havia tanto tempo que ele não a chamava assim que ela mal conseguia lembrar quando fora a última vez. Diante de Seo Joo-won, que apenas franziu o cenho em silêncio, Seo Han-yeol falou, agora com o semblante sério, sem qualquer traço de brincadeira:
— Eu investi bastante nisso. Esperei muito tempo.
Aquilo também soou estranho para ela, e o rosto de Seo Joo-won se franziu automaticamente. Seo Han-yeol a encarou por um instante e, como se nada tivesse acontecido, logo relaxou a expressão e sorriu.
—–––––—–––––
Ele se ergueu devagar, sentando-se. O cabelo, amassado pelo travesseiro, foi bagunçado de leve. Do banheiro ligado ao quarto vinha, sem parar, o som da água correndo. Baek Sang-hee saiu da cama, massageando o pescoço rígido. O corpo nu, coberto apenas por uma cueca, parecia firme e liso mesmo sem que ele precisasse tensionar os músculos. Apanhou a calça debaixo do edredom meio escorregado. O preservativo usado, grudado ali, foi arrancado e descartado sem a menor atenção. Desistiu de procurar a camisa, que não aparecia por lugar nenhum, e seguiu arrastando os pés até a sala.
A sala de estar, inundada de luz natural, tinha um sofá de tecido. Ele se jogou no meio dele, como quem se estica, mordiscando uma maçã para limpar o gosto da boca. Pegou o controle remoto e ligou a TV; cada movimento saía automático, quase por hábito.
Pelo horário, em qualquer canal só passava noticiário. Ele ficou zapeando sem propósito, mas nada chamava a atenção. Foi quando, ao parar em um canal qualquer, uma onda de umidade e um perfume adocicado o envolveu por trás.
— Dormiu bem?
A mulher, recém-saída do banho, abraçou os ombros de Baek Sang-hee e pousou os lábios em sua nuca. Ele assentiu com a cabeça enquanto acariciava, de leve, o braço fino dela. A pele macia soltava uma eletricidade estática quase imperceptível.
Ela era uma atriz conhecida — daquelas cujo nome bastava mencionar para todo mundo reconhecer. Tinha conhecido Baek Sang-hee por trabalho. Quase sempre mantinha um relacionamento público, mas, quando precisava, era Baek Sang-hee quem ela procurava. Não eram poucas as vezes em que era ele quem ligava primeiro. Era só isso. Nem amantes, nem amigos, tampouco algo que se pudesse definir com clareza.
Não era nem sequer uma relação digna de nome. Bastava que um dos dois falasse em terminar para que tudo se encerrasse limpo, sem deixar qualquer resquício de sentimento mal resolvido.
Naquela altura, a TV noticiava um escândalo envolvendo um cantor famoso e herdeiros de grandes conglomerados, flagrados em uso habitual de drogas. A mulher observou a reportagem por um instante e soltou um riso de desdém, baixo.
— Aquela ali também… dizem que fisgou um patrocinador graúdo, e agora afundou desse jeito.
— Você conhece? — perguntou Baek Sang-hee.
— Só vi de longe algumas vezes, nada além disso. Mas, mesmo sendo novata, andava estranhamente cheia de si. Pensei que devia ter um patrocinador poderoso por trás.
Ela beliscou de brincadeira a borda da orelha de Baek Sang-hee e desligou a TV, que seguia falando sozinha. Baek Sang-hee respondeu depositando beijos dispersos em seu braço.
— E você, como está a agenda hoje? Vai sair?
— Não tenho nada em especial.
— Então pede alguma coisa pra comer. Estou de dieta, não tem nada em casa. Hoje e amanhã vou virar a noite gravando, e depois disso vou ficar ocupada preparando o casamento, então não devo voltar por um tempo.
Baek Sang-hee respondeu com um indiferente “uhum”. Nem a mulher, que acabava de anunciar um casamento iminente com outra pessoa, nem quem a escutava demonstravam o menor abalo. Ela mordeu de leve o lóbulo da orelha dele, como quem brinca, depois tirou um cartão e o deixou sobre a mesa. Após beijar os ombros de Baek Sang-hee algumas vezes, disse que ia se arrumar e entrou no closet.
Assim que ela sumiu de vista, Baek Sang-hee pegou novamente o controle remoto. Ao apertar o botão de ligar, a mesma reportagem de antes continuava no ar. Agora, a tela mostrava Seo Han-yeol, que havia prestado depoimento como testemunha no dia anterior. Para alguém supostamente ali só como testemunha, ele estava vestido de forma excessivamente chamativa, atravessando com altivez o mar de repórteres. No instante em que, já prestes a entrar no carro, esbarrou em um jornalista que avançava sobre ele, virou o rosto por reflexo em direção à câmera. Por um breve momento, pareceu que seus olhares se encontraram através da tela.
— ……
Baek Sang-hee reclinou o corpo com languidez, encarando fixamente aquele rosto.
— As pessoas já nascem com tudo aquilo de que precisam para sobreviver.
Ou, caso contrário, por que as vidas de pessoas que nasceram do mesmo ventre seriam tão diferentes? A mãe biológica, Baek Yeong-hwa, vivia repetindo esse tipo de coisa. Desde o princípio, era alguém desprovida de qualquer senso de responsabilidade.
Desde que tinha consciência de si, Baek Sang-hee não teve pai. Não sabia se ele estava morto, se tinha ido embora, ou sequer se havia vivido com eles nem que fosse por um único dia. Baek Yeong-hwa nunca falou sobre o pai dele. Pelo contrário, às vezes reclamava dizendo: “Você é igual a mim. Assustadoramente igual só a mim.” Pelo tom, talvez nem ela própria tivesse certeza de quem era o pai biológico.
A primeira impressão que teve da irmã mais nova foi que ela era tão pequena e frágil que dava medo até de tocar. Baek Yeong-hwa desapareceu de casa por uma semana e voltou carregando um bebê recém-nascido. Havia um homem com ela. Um homem idêntico à irmã. Ele aparecia em casa de vez em quando, parecia gostar bastante do bebê e, às vezes, até dava algum dinheiro a Baek Sang-hee.
Mesmo assim, eles não chegaram a viver juntos nem por um ano inteiro. Um dia, uma mulher desconhecida apareceu, chamou Baek Yeong-hwa de tudo quanto é nome, brigou com ela, revirou a casa inteira — e, depois disso, o homem nunca mais voltou. Esse tipo de coisa acontecia com certa frequência ao longo da vida deles, e, sempre que acontecia, Baek Yeong-hwa largava tudo e se mudava.
Nada mudou quando Baek Sang-hee entrou no ensino fundamental. Acabou desistindo naturalmente de fazer amigos. De qualquer forma, assim que as aulas terminavam, ele precisava voltar direto para casa, onde a irmã pequena o esperava. Baek Yeong-hwa não conseguia manter um emprego decente e passava mais tempo fora de casa do que dentro. A irmã, ainda pequena e sem ir à escola, muitas vezes ficava largada, arrancando grãos de arroz já frios e duros para comer.
Foi então que, certo dia, no caminho de volta da escola, ele a encontrou. Era começo de primavera, mas o vento ainda cortava o frio. A irmã estava agachada do lado de fora da casa, abraçada a um enorme pacote de biscoitos. Colocava um biscoito na boca e o deixava derreter lentamente, enquanto um muco ralo escorria de seu nariz. As bochechas e o dorso das mãos estavam vermelhos, rachados pelo frio.
— Baek Eon-her. Por que você tá aqui fora?
— A mamãe disse pra eu brincar um pouquinho lá fora.
Um incômodo difícil de explicar se infiltrou nele. Abriu a porta da frente, que estava fechada. Os sapatos de Baek Yeong-hwa estavam misturados a um par masculino que ele nunca tinha visto antes. Em seguida, vieram sons de respiração ofegante, subindo pelo batente da porta. Para Baek Sang-hee, era um barulho familiar. Sempre que o homem de Baek Yeong-hwa aparecia, aquele som vinha junto, interrompendo seu sono profundo. Baek Yeong-hwa parecia sempre sofrer, enquanto os homens soavam irritados. Como dois animais que se atacavam como se fossem se matar, eles alcançavam o clímax e então limpavam todas as emoções, rindo de forma lânguida. O preço da consciência daqueles dois animais, que expulsaram uma criança para a rua gelada só para se divertirem, não passava de um único pacote de biscoitos.
O gemido quase histérico de Baek Yeong-hwa e o rugido do homem explodiram um após o outro. Baek Eon-hee se encolheu, lançando ao irmão um olhar inquieto. No ar agitado, um cheiro acre começou a se espalhar. Podia ser imaginação, mas logo a sensação nauseante subiu e tomou-lhe a garganta. Baek Sang-hee estendeu a mão e tapou o nariz e a boca da irmã.
Não demorou para que, do fundo do quarto, se ouvissem vozes murmuradas. Logo depois, um homem saiu, ajeitando as roupas. Ao se deparar com os dois irmãos à porta, não demonstrou o menor constrangimento. Pelo contrário, abriu um sorriso torto e estendeu a mão para tocar a bochecha de Baek Eon-hee. Ela encolheu o pescoço e se escondeu atrás do irmão. Baek Sang-hee, por sua vez, lançou um olhar feroz ao homem, que era pelo menos o dobro do seu tamanho.
— Vocês dois… se comportam igualzinho a filhotes de gato. O tio aqui não é uma pessoa má. Se tudo der certo, eu ainda posso virar o pai de vocês, sabia?
O homem acabou bagunçando os cabelos de Baek Sang-hee com a mão. E, como se estivesse brincando, beliscou também o lóbulo da orelha de Baek Eon-hee, que se escondia atrás. Baek Yeong-hwa havia saído logo depois e, mesmo vendo aquela cena, limitou-se a sorrir, satisfeita. Não havia, em lugar nenhum do mundo, um adulto que protegesse aqueles irmãos.
Os homens vinham, se entregavam a prazeres momentâneos e depois voltavam para suas vidas. Baek Yeong-hwa, porém, nunca se sentia ferida. Pelo contrário: usava o histórico desses homens como trampolim para encontrar alguém em condições ainda melhores. Quando encerrou o caso com o funcionário público que dizia que talvez virasse pai das crianças, passou a seguir um velho de cabelos já completamente brancos. Os adultos do bairro comentavam, sem o menor pudor, que Baek Yeong-hwa finalmente tinha fisgado um verdadeiro provedor, chamando-a abertamente de “a esposa nova” do velho.
Naquela época, a vida ficou visivelmente mais confortável. Saíram do cubículo úmido no subsolo e se mudaram para um apartamento bem iluminado, e todas as manhãs alguém aparecia para cuidar de Baek Eon-hee no lugar de Baek Yeong-hwa. As saídas dela se tornaram ainda mais frequentes e, sempre que isso acontecia, vestia roupas novas e entrava no sedã de luxo enviado pelo velho.
Houve uma vez em que Baek Sang-hee e a irmã chegaram a jantar com ele. Baek Yeong-hwa mandou que o chamassem de “professor”. Diante da pergunta ingênua sobre o que ele ensinava, o velho caiu na gargalhada. Depois respondeu, de um jeito difícil de entender, que andava por aí avaliando o valor das terras. De fato, naquele período, Baek Yeong-hwa o acompanhou por todo o país e, quando iam para o interior, passavam dias sem dar notícias.
Mas aquela vida farta não durou nem seis meses. O velho morreu por causa de uma doença crônica. Baek Yeong-hwa não chegou nem a ir ao funeral: passou dias repetindo testes de gravidez, se irritando com os resultados, rasgando outro da caixa e entrando de novo no banheiro. Quando finalmente desistiu daquela esperança mesquinha, os familiares do velho apareceram e expulsaram a família do apartamento. A vida miserável, sem onde se apoiar, recomeçou — mas Baek Yeong-hwa não se desesperou. Pelo contrário, passou a sair ainda mais. Ao que tudo indicava, o velho que ela chamava de “professor” realmente lhe ensinou alguma coisa. E não demorou muito para que surgisse um novo filho, um caçula com uma diferença de idade de doze anos.
— Acha que eu faço isso porque gosto? O que eu posso fazer se nasci assim, com esse corpo?
Sempre que Baek Sang-hee reclamava, Baek Yeong-hwa era quem explodia de raiva. Tendo dado à luz Baek Sang-hee aos dezenove anos, ela ainda era jovem, e não havia homem que recusasse uma flor perfumada.
Quando se cansou daquele jeito egoísta de pensar e os homens que ela trazia para casa começaram a lhe causar repulsa, Baek Sang-hee passou a vagar pelas ruas. Ia à escola só quando tinha vontade. No começo, recebeu comida e abrigo na loja de um vizinho que conhecia bem a situação; depois, à medida que cresceu e passou a conseguir fazer mais coisas, trocava de lugar para dormir conforme a ocasião. Por causa da aparência fora do comum, recebia números de telefone de pessoas interessadas várias vezes por dia. E, graças a isso, nunca foi muito difícil arranjar um canto temporário para ficar.
Ele quase nunca voltava para casa por qualquer motivo banal. Em parte porque, com Baek Eon-hee entrando na adolescência, a relação entre os irmãos se tornou rapidamente distante e constrangida. Não era nada confortável para um irmão já crescido dividir o mesmo quarto com a irmã mais nova. Mesmo quando aparecia por lá de vez em quando, mal trocava uma palavra com Baek Eon-hee; geralmente brincava um pouco com a caçula, Baek Han-hee, e ia embora.
Certa vez, ao passar em casa, deu de cara com Baek Eon-hee chorando enquanto lavava roupa. Ao que tudo indicava, ela havia tido a primeira menstruação de repente, ainda na escola. Já sofria bastante por se desenvolver mais rápido do que as colegas da mesma idade. Para piorar, seu professor responsável era um homem jovem, e em casa não havia uma mãe que pudesse explicar com cuidado aquela mudança natural.
O que deveria ser motivo de comemoração acabou se tornando, para Baek Eon-hee, uma humilhação que carregaria para o resto da vida. Baek Sang-hee sentiu que precisava consolá-la, mas simplesmente não sabia o que dizer nem como começar. Talvez fosse apenas frustração — por que algo tão comum nunca era simples quando se tratava deles?
As pessoas ao redor diziam que ela precisaria de muitas coisas. Ele não tinha coragem de comprar pessoalmente, nem de lhe entregar dinheiro na mão, então passou a deixar pequenas quantias em lugares onde Baek Eon-hee pudesse encontrar quando precisasse. Fora isso, não entrou em contato. Baek Eon-hee também nunca lhe pediu nada.
Até que, ao ir visitar a caçula, acabou encontrando Baek Eon-hee. Ela explicou que Baek Han-hui passou a noite inteira com febre alta e, por isso, não conseguiu ir à escola. Não o culpou por nada. Apenas acariciou os cabelos molhados de suor da irmã mais nova e comentou, sem que ele perguntasse, sobre Baek Yeong-hwa.
— A mãe saiu de novo.
— …Não é a primeira nem a segunda vez, né?
Baek Eon-hee balançou a cabeça, firme.
— Desta vez é diferente. Ela levou tudo, absolutamente tudo.
— Vai montar outra casa?
— Não sei. Nem pra onde foi, nem o novo número de telefone.
O rosto de Baek Eon-hee, murmurando aquelas palavras, estava miserável demais para ignorar. Baek Sang-hee ligou para Baek Yeong-hwa ali mesmo. A resposta foi uma mensagem automática dizendo que o número não existia e pedindo para verificar antes de ligar. Tentou várias vezes, mas o resultado foi sempre o mesmo.
Passou um mês. Depois, mais um. E Baek Yeong-hwa não voltou. Como Eon-hee havia dito, desta vez era diferente de todas as outras. Não era uma saída sem data certa de retorno — era um rompimento completo. Talvez por já ter imaginado vagamente que um dia isso aconteceria, Sang-hee não sentiu nem mesmo o mínimo de perda ou decepção. Foi só… apatia.
Ele aumentou a carga de trabalho. Ia à escola menos dias do que faltava, e acabou sendo reprovado. Ainda assim, não optou por abandonar os estudos — queria ao menos o diploma. Antes mesmo de se tornar adulto, Baek Sang-hee já havia entendido que estava condenado a trabalhar a vida inteira para sobreviver. Sem um diploma do ensino médio, não conseguiria sequer um emprego decente. Diziam por aí que a escolaridade média só aumentava. Para os outros, concluir os estudos era algo tão trivial quanto comer. Para ele, não.
O lugar onde dormia continuava instável. Quando terminava o trabalho e chegava a hora de descansar, aquele lugar acabava virando sua cama. Donos de loja, gerentes, colegas de serviço — todos eram relativamente gentis. Não era difícil passar alguns dias dependendo da boa vontade de alguém.
Fora o fato de Baek Yeong-hwa ter cortado todo e qualquer contato e desaparecido, nada parecia ter mudado. Mas, aos olhos dos outros, talvez não fosse bem assim. Às vezes, o mundo dos humanos não é muito diferente do dos animais: filhotes que perdem seus protetores viram presas fáceis.
— Sang-hee… ligaram lá de casa.
Já passava da meia-noite quando o patrão o sacudiu para acordá-lo. “Acho melhor você ir ver”, acrescentou com cautela. Mesmo exausto, ele se levantou. Nunca gostava de receber notícias de casa — quase sempre vinham acompanhadas de algo ruim.
Quando chegou de moto, a quitinete no subsolo onde as irmãs moravam estava com as luzes acesas, assim como toda a casa. Para sua surpresa, até o proprietário havia descido e permanecia ao lado delas. A expressão dele era grave. Assim que viu Baek Sang-hee, o homem começou a repreendê-lo por ter chegado tão tarde, despejando uma bronca atrás da outra, dizendo que a situação era séria.
Por pouco não aconteceu algo pior. Alguém havia arrancado a grade da janela do quarto semi enterrado e se infiltrado dentro da casa. As irmãs gritaram ao dar de cara com o invasor, os vizinhos correram para fora, e o sujeito, assustado com a movimentação, fugiu às pressas. O proprietário disse que a polícia havia sido acionada e estava vasculhando os arredores, repetindo várias vezes que, se não fosse por ele, nem queria imaginar no que aquilo teria dado.
Não havia nada desaparecido — na verdade, nem havia o que roubar naquela casa. O fato de alguém ter insistido em invadir um lugar assim significava que o alvo provavelmente não eram objetos, mas as pessoas. Talvez o criminoso soubesse que ali viviam apenas duas irmãs menores de idade.
As irmãs se abraçavam com força. Baek Eon-hee estava tão pálida que nem percebeu a chegada do irmão, e Baek Han-hee parecia não compreender direito o que havia acontecido. A mente de Sang-hee ficou em branco. A única coisa que lhe vinha à cabeça era encontrar Baek Yeong-hwa imediatamente e colocá-la de volta ao lado delas.
Mas não havia notícias de Yeong-hwa. O número de telefone continuava desativado, e quando tentou registrar um boletim de desaparecimento, a polícia tratou o caso como uma simples saída voluntária, dadas as circunstâncias. Mesmo ao solicitar registros oficiais, não havia qualquer mudança de endereço.
— …Sang-hee?
Foi então que, ao ir à escola, ele deu de cara com um colega desconhecido.
— Você é o Baek Sang-hee?
Havia um tom de certeza na pergunta, misturado a uma estranha familiaridade. Ainda assim, por mais que remexesse na memória, Sang-hee não se lembrava daquele rosto.
— É você mesmo, né? O filho daquela mulher.
Com aquela única frase, ele entendeu imediatamente quem o outro era. E, ao mesmo tempo, percebeu que havia encontrado uma forma de trazer de volta Baek Yeong-hwa, que havia desaparecido sem deixar rastros.