Açúcar Azul - Capítulo 06
Enquanto mantinha aquele rosto indiferente, e as costas que se afastaram sem sequer olhar para trás logo após encontrar a própria mãe, tudo isso grudou na mente dele e não se soltava. Um calor estranho subiu pela nuca, fruto de uma humilhação sem nome. O coração também batia forte, rápido demais, de um jeito desagradável. Ele odiava aquilo, mas não conseguia parar. Talvez fosse também por causa de Baek Young-hwa, que entrava e saía do quarto do hospital dia sim, dia não — isso só fazia os pensamentos voltarem.
— A escola quer encerrar tudo com uma punição interna. Se vocês quiserem, até expulsão voluntária estão considerando.
Mesmo ao ouvir falar em expulsão, Baek Young-hwa não demonstrou qualquer reação. Apenas ajeitou calmamente o cobertor de Seo Han-yeol. Seo Joo-won, como se ela nem estivesse ali, declarou com firmeza:
— Não é isso que eu quero. Já falei com o advogado Kim. Vou levar isso para a esfera criminal.
A expressão de Seo Joo-won estava mais dura do que nunca. Baek Sang-hee havia mexido com Seo Han-yeol — e, ao mesmo tempo, com o orgulho dele. Se aceitasse tudo em silêncio, faria com que aquele sujeito nunca mais aparecesse diante dos olhos de Han-yeol. Faria questão de que ele aprendesse, da forma mais clara possível, quem foi que resolveu provocar sem pensar. Ele sempre fez assim.
Mas Seo Han-yeol apenas escutava em silêncio. Parecia estar profundamente absorto em pensamentos. Seo Joo-won observou o irmão por um momento, tentando captar suas verdadeiras intenções.
— Você não vai mais à escola, vai?
— Vou.
— Nesse estado, ainda assim?
— Justamente por estar nesse estado.
— Seo Han-yeol.
— Não mexe com isso. Nem com aquele cara.
As sobrancelhas de Seo Joo-won se franziram abertamente. Ele tinha a expressão de quem acabara de ouvir algo impossível de aceitar. Seo Han-yeol reforçou, como se não houvesse margem para dúvida:
— Deixa ele em paz. Só isso.
— Você acha mesmo que isso é algo que se diga…?
Sem perceber, Seo Joo-won havia elevado a voz. Ele parou por um instante para recuperar o fôlego, esfregou a testa com a palma da mão e só então conseguiu conter as emoções que subiam. Depois disso, perguntou, quase num sussurro:
— Por quê?
— Eu cuido disso sozinho.
A resposta de Seo Han-yeol só serviu para deixá-lo ainda mais sufocado. Han-yeol não acrescentou mais nada; apenas colocou o fone de ouvido. No entanto, com um gesto brusco de Seo Joo-won, um dos lados foi arrancado de sua orelha.
— Até onde você pretende ir para virar motivo de piada? Apanhou de um cara que nunca tinha visto na vida e deslocou o ombro. E mesmo assim quer deixar isso pra lá?
— Quem disse que eu vou deixar pra lá?
Han-yeol rebateu com irritação, erguendo o olhar para Seo Joo-won. Em seguida, mantendo o contato visual, tomou o fone de volta e o encaixou novamente no ouvido. Só então, um tipo barulhento de tranquilidade se instalou.
Exatas duas semanas depois, ele voltou à escola. Por pouco escapou da cirurgia, mas teria de usar uma órtese por um tempo e comparecer regularmente ao hospital para fortalecer os músculos do ombro. O presidente Seo e Seo Joo-won queriam que ele só retornasse às aulas quando estivesse totalmente recuperado, mas a paciência de Seo Han-yeol já se esgotou havia muito tempo.
O carro que levava Han-yeol entrou até o interior do portão da escola. O motorista estacionou e desceu logo em seguida, pegando a mochila para acompanhá-lo — havia recebido ordens para ir até a sala de aula com ele. Han-yeol, porém, arrancou a mochila de suas mãos.
— Eu vou sozinho.
— O presidente pediu que eu confirmasse que o senhor entrou na sala…
— Você não entende o que eu digo? Falei pra não me seguir.
Irritado, Seo Han-yeol disparou as palavras e virou as costas bruscamente para o motorista, que ficou sem graça. Alguns alunos que chegavam à escola lançaram olhares curiosos na direção dele, mas Han-yeol não se importou. No momento, só conseguia pensar em encontrar Baek Sang-hee.
Caminhava pelo corredor quando, do lado oposto, surgiu o grupo de Im Chan-seong. Assim que os olhares se cruzaram, eles pararam de cochichar entre si. Han-yeol continuou andando em direção à sala, encarando-os sem diminuir o passo. Os alunos que passavam ao lado apenas observavam os dois lados com tensão, temendo que outra briga estourasse. Quando ele estava prestes a ignorá-los e entrar na sala, Im Chan-seong esticou o braço e bloqueou o caminho.
— Ei, quanto tempo, hein?
— Sai da frente.
— Pô, fazia tempo. Vamos trocar umas palavras. Somos colegas de classe, afinal.
— Quem disse que eu quero?
— Caralho, que mau humor. Ouvi dizer que você se machucou quando eu não estava. Você sumiu por tanto tempo que eu fiquei preocupado, sabia? Nem consegui ir te visitar no hospital. Então, como você tá? Melhorou?
O sujeito sorria o tempo todo, agindo de forma exageradamente amistosa. Chegou até a cutucar um dos caras atrás dele, mandando que segurasse a mochila de Han-yeol. Han-yeol puxou a mochila de volta com força, tirando-a da mão do outro, e lançou a Im Chan-seong um olhar claramente descontente.
— A cabeça ainda não voltou ao normal?
— Como você pode ver, tô inteiro. Se tem uma coisa que eu sempre tive, foi resistência. Mas olha, até pouco tempo atrás eu nunca tinha desfrutado de um luxo desses, sabia? Quarto individual, o dia inteiro vendo TV, dormindo, lendo mangá, jogando, vendo pornô. E a comida lá só vinha coisa boa. As enfermeiras também eram todas bonitas. Acho que foi a primeira vez na vida que eu arrumei briga e quase recebi elogio dos meus pais por isso.
— E daí? Quer que eu te ajude a ficar mais um tempo deitado no hospital?
— Ei, para de me provocar e ouve até o fim. Enquanto eu tava deitado no hospital, fiquei fazendo umas contas, sabe? Pensei se valia a pena te arrebentar a ponto de você nunca mais se achar no direito de levantar a cabeça… e se mesmo assim não ia dar dor de cabeça depois. Meus pais falavam em comprar casa, comprar carro só com o dinheiro da indenização por eu ter apanhado. Aí pensei: se é uma família que gasta esse tipo de dinheiro como se não fosse nada só porque levou uns socos, então dar fim em mim não deve ser grande coisa também.
— Já falou tudo? Então some.
— Calma, escute até acabar. Pelo que eu vejo, você também não está totalmente recuperado. E aquele desgraçado do Baek Sang-hee, ninguém sabe quando vai surtar de novo. Como você ficou quieto apanhando, pra falar a verdade sua imagem ficou meio patética… nada impede que outros caras resolvam te provocar também. E, se for o caso, a gente pode pisar no Baek Sang-hee no seu lugar.
Seo Han-yeol mal deu atenção às palavras de Im Chan-seong, entrou primeiro na sala de aula. Im Chan-seong e o grupo o seguiram em silêncio. Os alunos que já estavam na sala observavam a cena com estranheza, alternando o olhar entre os dois lados. Essa curiosidade foi se dissipando aos poucos quando, a cada intervalo, o grupo passou a cercar Han-yeol como um biombo, rindo e agindo como se nada tivesse acontecido.
O beneficiário inesperado disso tudo foi Lee Dong-hyun. Com Im Chan-seong escolhendo se colocar a serviço de Han-yeol, uma liberdade inesperada caiu em seu colo. Foi solto à própria sorte.
A punição aplicada pela escola a Baek Sang-hee foi suspensão por dez dias. Mesmo assim, dizia-se que já haviam se passado mais quatro dias além disso sem que ele aparecesse. Im Chan-seong se gabava, afirmando que Baek Sang-hee provavelmente abandonaria a escola de vez ou, mesmo que voltasse de algum jeito, acabaria repetindo o ano. Talvez estivesse dizendo aquilo para agradar Han-yeol, mas, por algum motivo, o humor dele parecia só piorar.
Baek Sang-hee reapareceu apenas alguns dias depois, numa quinta-feira, já perto da hora do almoço, no fim da manhã. Ele entrou na sala em plena aula de química, bocejando de forma descarada. Diante da pergunta do professor — “Ei, você, o que é isso?” — limitou-se a inclinar a cabeça lentamente, em cumprimento. Assim que se sentou em seu lugar vazio, deitou-se sobre a carteira para dormir. Até esse momento, Baek Sang-hee não havia percebido o olhar fixo de Seo Han-yeol sobre ele. Ou talvez simplesmente não se importasse com olhar algum ao redor.
Os olhares que alternavam entre o professor de química e Baek Sang-hee começaram a se voltar discretamente para Seo Han-yeol quando a aula foi retomada sem grandes problemas. No entanto, Han-yeol ignorou completamente aquela expectativa estranha e voltou-se para a frente.
Assim que o sinal do almoço tocou, as portas das salas se abriram ao mesmo tempo. Os alunos irromperam no corredor como se tivessem explodido para fora, correndo em disparada rumo ao refeitório. Os professores, que nem chegaram a concluir a aula direito, apenas balançaram a cabeça em desaprovação antes de sair mais tarde das salas. Durante todo esse tempo, Seo Han-yeol permaneceu sentado, em silêncio. O grupo de Im Chan-seong se levantou e se aproximou.
— Ei, não vai almoçar?
Han-yeol afastou a mão de Im Chan-seong como quem espanta um inseto.
— Ou então… que tal a gente acabar com o Baek Sang-hee agora? Não tem ninguém olhando, e ele tá lá dormindo.
A voz com que ele sussurrou aquilo, rindo baixo, era surpreendentemente fria. Não parecia brincadeira. Im Chan-seong tinha disposição suficiente para realmente colocar aquilo em prática. Se o objetivo de Han-yeol fosse apenas uma vingança física, não haveria motivo algum para recusar a proposta.
Mas Han-yeol apenas empurrou o rosto de Im Chan-seong que se aproximava de sua orelha, com clara irritação.
— Dá o fora.
Diante da reação ríspida, Im Chan-seong recuou sem insistir. Em seguida, como se fossem íntimos, deu um leve tapinha nas costas de Han-yeol.
— Beleza, então. A gente vai comer primeiro. Vai com calma e aparece depois, se quiser.
Im Chan-seong saiu levando o grupo com ele. Assim, a sala ficou completamente vazia. Restaram apenas Seo Han-yeol e Baek Sang-hee. No silêncio denso, o som do ponteiro dos segundos se movendo parecia ecoar de forma insistente.
Quanto tempo havia passado? Quando tudo ao redor já estava imerso em um silêncio absoluto, Baek Sang-hee ergueu o tronco de repente. Arrastando a cadeira para trás, levantou-se, passou a mão pelos cabelos bagunçados de forma displicente e saiu da sala.
Ele devia tê-lo visto. Ao erguer a cabeça, era impossível não vê-lo — e ainda assim parecia não se importar nem um pouco. Quando o som de seus passos ecoando pelo corredor acabou por se perder ao longe, Seo Han-yeol torceu os lábios e soltou um suspiro curto e quebrado. Era absurdo.
Depois de ficar parado, imerso em pensamentos por um instante, ele logo se levantou, sacudindo a cadeira.
O destino foi o refeitório. Os alunos que haviam saído correndo mais cedo já tinham terminado de comer. Han-yeol varreu com o olhar a multidão de uniformes que lotava o local e não teve dificuldade em encontrar Baek Sang-hee. Em parte por causa de seu porte físico fora do comum, mas também porque, embora muitos estivessem de pé por falta de lugar, ninguém se aproximava dele. O fato de Sang-hee ter repetido um ano certamente pesava, mas parecia não ser só isso.
Enquanto observava, um dos garotos do grupo de Im Chan-seong notou Han-yeol e foi buscar sua refeição por ele. Han-yeol tomou a bandeja de sua mão quase com um tapa e caminhou em direção a Baek Sang-hee. Sang-hee comia com apetite, enchendo a boca com a comida empilhada na bandeja. Desde o cheiro até a aparência, eram pratos que dificilmente alguém pegaria duas vezes — mas ele não fazia distinção alguma.
— ……
Seo Han-yeol parou firme diante dele, do outro lado da mesa, olhando-o de cima. Até os alunos que comiam ao redor perceberam algo estranho e ergueram a cabeça, mas Baek Sang-hee continuou focado apenas na refeição. Han-yeol largou a bandeja que segurava quase como se a arremessasse. Parte da comida espirrou sobre a mesa, e os talheres caíram com um barulho áspero. Ainda assim, Sang-hee não vacilou nem um pouco. Enfiou mais arroz na boca até uma das bochechas estufar e, com a colher mal segurada, continuou a sorver repetidamente a sopa esbranquiçada. Até o kimchi mal fermentado, o feijão em conserva e o ensopado de anchovas com cheiro forte ele varreu de forma displicente com a colher e levou à boca.
Han-yeol levantou a mão e deu um tapa seco na cabeça de Baek Sang-hee, fazendo um estalo audível. Só então os movimentos dele cessaram. Agora, todos os olhares do refeitório observavam o confronto em silêncio. Temendo ser arrastados para uma briga, alguns alunos começaram a se afastar discretamente, com as bandejas em mãos. Im Chan-seong e seu grupo, que assistiam à cena inesperada, abriram sorrisos cheios de interesse.
Mas foi só por um instante. Baek Sang-hee voltou a mover a colher. Mesmo quando Han-yeol bateu em sua cabeça mais uma vez, ele não hesitou, continuando a comer com total indiferença. Um desprezo absoluto. Como se dissesse, sem palavras, que não tinha mais nada a tratar com ele.
Indiferença absoluta. Seo Han-yeol sentiu o calor subir por trás das orelhas. Os olhares que observavam os dois começaram a vagar, desnorteados.
Han-yeol ergueu a bandeja que havia largado quase de qualquer jeito e a inclinou para o lado. Com isso, os acompanhamentos despencaram ploc, ploc dentro da sopa de Baek Sang-hee. O caldo de kimchi e os pratos misturaram-se numa bagunça nojenta, sujando completamente a bandeja dele. Sang-hee interrompeu os movimentos por um instante e levantou a cabeça. Só então Han-yeol pôde encarar de frente aquele rosto, que fitou de cima com frieza. Em algum momento, o grupo de Im Chan-seong já havia se posicionado atrás dele como uma muralha, formando uma pressão pesada no ar.
— ……
— ……
Naquele segundo à beira da explosão, todo o ruído do refeitório pareceu evaporar.
Mas o choque tão esperado não aconteceu. Baek Sang-hee logo baixou o olhar e, sem qualquer hesitação, voltou a enfiar na boca a comida que agora estava misturada como lixo. O movimento regular do maxilar e a expressão serena não carregavam nem um traço de provocação. Era como se ele não tivesse limite algum. Quem acabou franzindo o rosto, de forma estranha, foi o próprio Han-yeol.
— Ei.
Han-yeol o chamou, comprimindo os cenhos ao máximo. Não houve resposta. Nem sequer o esforço mínimo de erguer os olhos para encarar quem falava.
Depois disso, ainda que devagar, Baek Sang-hee terminou a refeição com dedicação. Pegou a bandeja completamente vazia e se levantou. Em seguida, passou direto por Han-yeol, que bloqueava sua frente, e foi até o local de descarte. Sacudiu com força os restos da bandeja, arremessou os talheres usados para a devolução e deixou o refeitório sem olhar para trás. Assim, todos os olhares ao redor recaíram, de repente, sobre o Han-yeol deixado para trás. Ele soltou um riso curto — ha, ha — enquanto os cantos dos lábios se erguiam de forma estranha.
Mas, no instante seguinte, uma cadeira chutada sem motivo rolou ruidosamente pelo chão.
— Que surpresa é essa?
Seo Joo-won fez uma expressão de espanto ao ver Han-yeol entrar no gabinete. Han-yeol não respondeu; apenas deu de ombros. Joo-won dispensou o secretário que vinha atrás e sentou-se de frente para ele. Talvez por causa das reuniões que tinham se estendido por horas, parecia bastante cansado. Por hábito, pegou o porta-cigarros, mas logo hesitou e o colocou de volta sobre a mesa.
— Pode fumar.
— Deixa pra lá.
— Se você continuar assim, eu começo a achar que ainda sou tratado como criança.
— E é mesmo.
— Amanhã eu faço trinta. Foi pesado isso. Até chegar aqui, já inalei fumaça demais. Não vou morrer só porque o diretor Seo acrescentou mais um cigarro.
— Já disse que não precisa.
Han-yeol encarou Joo-won, que insistia em recusar, e então pegou ele mesmo o porta-cigarros. Tirou um cigarro de dentro e encaixou entre os lábios. Acendeu com o isqueiro e estava prestes a puxar a primeira tragada quando Joo-won arrancou o cigarro de sua boca num gesto brusco. Franziu a testa, claramente contrariado, e colocou o cigarro entre os próprios lábios. Não esqueceu de se levantar para ligar a ventilação.
Han-yeol deu um sorriso torto e afundou as costas no sofá.
— E aí, como foi o interrogatório?
— Se fosse relatório oficial, você já teria recebido tudo, não?
— Tô falando fora do registro. Você não foi lá falar besteira, foi?
— Estranho… hoje todo mundo só sabe fazer essa mesma pergunta. O que exatamente é besteira e o que não é?
— Para de ironizar. Isso não tem nada a ver com o caso do Jong-yeol, tem?
— Eu também achei que fosse assim. Mas o promotor responsável lá disse outra coisa. Falou que só o fato de ter cedido o local já pode virar problema, sabia?
— Ele é só figuração pra fechar o quadro, não precisa se preocupar. No fim quem vai conduzir tudo é o promotor Yoon, e o caso é grande demais, com gente graúda envolvida. Não vão se dar ao trabalho de te arrastar pra isso também.
Han-yeol soltou um “hmm” e se levantou. Em seguida, começou a percorrer o gabinete de Seo Joo-won com o olhar, devagar. Na parede estavam pendurados o diploma de MBA, o prêmio de Jovem Empresária do Ano e várias outras placas de reconhecimento. Ao lado, fotos alinhadas registravam a formatura na academia militar, a cerimônia de nomeação como oficial e eventos importantes desde a entrada na empresa. Depois de passar os olhos por todas aquelas molduras, ele deslizou os dedos de leve pela plaqueta onde se lia “Diretor Executivo Seo Joo-won”. Dava para imaginar perfeitamente os preconceitos que ela precisou enfrentar para conquistar aquilo. Com um tom quase leve demais, Han-yeol comentou:
— O nosso diretor Seo é realmente impressionante.
Joo-won, que observava em silêncio, soltou um suspiro baixo.
— O que foi agora? Se veio aqui só pra ironizar, vai embora. Não tenho tempo pra lidar nem contigo.
— Que azedume. Onde foi parar a magnanimidade do vencedor?
— Do que você tá falando? Não está vendo que a empresa está em estado de emergência?
— Mesmo assim, você parece estranhamente tranquilo.
— Para de se achar íntimo demais.
A aura de Joo-won esfriou visivelmente. Ela sempre tratou o irmão mais novo, fruto do mesmo pai, com um carinho quase excessivo, mas às vezes deixava escapar sua natureza verdadeira. Agir como mãe não o tornava, de fato, uma. A postura dele diante de Han-yeol não vinha tanto de um amor puro ou de um sacrifício altruísta, mas mais de uma paciência nascida de compaixão profunda ou de um certo senso de semelhança entre os dois.
Aos olhos de Han-yeol, Seo Joo-won era uma jovem leoa. À primeira vista, parecia se submeter ao leão dominante, bajulando-o e seguindo suas regras, mas quem realmente caçava e conduzia o bando era ela. Aquilo tampouco era mera devoção à organização — era mais como um tempo ganho para respirar. Enquanto fortalecia sua própria base e consolidava poder, parecia já pronta para cravar os dentes no pescoço do velho leão que reinara por tanto tempo. Os machos que só sabiam brigar entre si, brandindo suas juba naturais como armas, não demorariam a ser expulsos por ele. Han-yeol imaginou Seo Joo-won no dia em que se tornasse diretora-presidente, e do cenário que ela teria. Combinava perfeitamente. E aquela imagem logo se tornaria realidade.
— Então, acha que o caso do Jong-yeol vai se resolver bem?
— Não sei. Esses velhos do conselho, ninguém sabe o que estão pensando.
— Pensar o quê, usando como escudo um cara que vai parar na cadeia daqui a pouco?
— Você acha que o avô ou a família do Jong-yeol vão ficar olhando isso acontecer?
— Dizem que desta vez até a suspensão condicional vai ser difícil, né? E mesmo que saia uma pena suspensa, isso lá é inocência? Não foi algo inevitável por tocar a empresa, foi uma confusão puramente de vida pessoal.
— Se for levar tudo isso a sério, não sobra ninguém. Começando por você, que nem estaria sentado onde está agora.
Seo Joo-won lançou a Han-yeol um olhar atravessado, como quem o acha insuportável. O escândalo de drogas de Seo Jong-yeol tinha ganhado proporções enormes, é verdade, mas Han-yeol não era menos problemático. Boatos constantes de namoro com celebridades, atitudes inadequadas em eventos oficiais, brigas aqui e ali, direção perigosa… Desde o dia em que voltou ao país após concluir os estudos, não houve um único dia tranquilo. A ponto de precisarem manter uma equipe de gestão de crises separada dentro do departamento de relações públicas.
Esmagando o cigarro com mais força do que o necessário, Seo Joo-won concluiu, cortando o assunto:
— Enfim. Você não precisa se preocupar. Do lado do Jong-yeol, parece que querem te puxar pra lama também, mas eu não vou deixar isso acontecer.
— Por que não? Aproveita e me joga fora junto.
— …O quê?
— O melhor cenário é o Jong-yeol realmente ir comer arroz com feijão na cadeia. Mas se, por sorte, ele acabar escapando, então limpa tudo de uma vez. Ele, eu e todo mundo envolvido nessa história. Assim o seu discurso fica ainda mais legítimo, diretora Seo.
— Você enlouqueceu? Que diabos você tá dizendo?
— Pensando bem, o nosso Jong-yeol é até ingênuo, né? Não sabe nem montar uma encenação direito. Se queria brincar com celebridades, bastava criar um álibi decente. Uma empresa de construção, por exemplo.