Açúcar Azul - Capítulo 05
O sujeito que assistia à cena bem ao lado correu para cima dele, xingando: “seu filho da puta maluco!”. Mas, antes mesmo que conseguisse agarrar a gola de Seo Han-yeol, um estalo seco rasgou o ar.
Por um instante, tudo ficou em silêncio.
O garoto que teve o rosto virado pelo impacto voltou a cabeça lentamente, respirando de forma áspera, e encarou Seo Han-yeol. No segundo seguinte, outro estalo ecoou. O grupo ficou parado, olhando, atônito. A reviravolta tinha sido tão inesperada que parecia ter desligado o cérebro de todos eles. Antes que pudessem sequer entender o que estava acontecendo, o rosto do garoto foi atingido de novo. Ele levou as duas mãos à bochecha, encarando Seo Han-yeol com ódio. A carne abaixo de seus olhos tremia de humilhação e raiva, e havia até um brilho úmido, quase lágrimas, em seus olhos.
— Seu desgraçado!
Um dos garotos do grupo avançou sem pensar. Seo Han-yeol empurrou com o pé a carteira por onde ele tentava passar, fazendo o sujeito cair facilmente. O garoto foi ao chão de costas, e a parte de trás da cabeça bateu com força no piso. Enquanto ele gemia, segurando a cabeça, outro veio correndo. Seo Han-yeol desviou de leve do soco que veio em sua direção e, quando o outro perdeu o equilíbrio, chutou-lhe o quadril, como quem empurra algo para fora do caminho. O garoto escorregou por cima de carteiras e cadeiras, caindo pesado. Livros, estojos e tudo o que estava sobre a mesa despencaram direto em seu rosto.
A briga que se espalhara de repente atraiu não só os alunos da sala, como também os curiosos que, ouvindo o tumulto, se penduravam nas janelas do corredor e nas portas da frente e do fundo da sala.
Todos que assistiam estavam confusos. E não era para menos: mesmo sem usar muita força, Seo Han-yeol derrubava com facilidade aquele grupo que até então se achava intocável. Pelo visto, ele devia ter aprendido algum tipo de arte de defesa pessoal de verdade.
Ao perceberem o número crescente de espectadores, os garotos restantes se desesperaram e avançaram todos de uma vez. Seo Han-yeol pegou a cadeira ao seu lado e a balançou sem hesitação. Aqueles atingidos pelo encosto ou pelas pernas da cadeira recuaram com gritos abafados.
De repente, a cadeira foi arremessada contra Im Chan-seong, o líder do grupo. Sem tempo para reagir, ele levou o golpe direto na cabeça e caiu para trás. Seo Han-yeol caminhou até ele com passos calmos. Estirado no chão, Im Chan-seong tocava repetidamente o sangue que escorria de sua testa rasgada, murmurando xingamentos entre dentes. Quando tentou se erguer num sobressalto, Seo Han-yeol pisou em seu ombro com força, esmagando-o de volta contra o chão. Em seguida, chutou-lhe a cabeça sem hesitar.
Até mesmo os que assistiam deixaram escapar gemidos baixos, virando o rosto, incapazes de continuar olhando.
Do nariz de Im Chan-seong o sangue jorrou de repente. Ainda assim, os chutes de Seo Han-yeol não pararam. A violência implacável continuou até que a boca de Im Chan-seong estivesse completamente destroçada e alguns dentes saltassem para fora.
Os outros integrantes do grupo, que também haviam apanhado aqui e ali, apenas estremeciam, incapazes de se meter de vez na briga. Aqueles poucos minutos até o sinal tocar pareceram intermináveis como nunca antes. Os braços de Im Chan-seong, que até então protegiam a cabeça, caíram frouxos no chão.
— Da próxima vez, eu te mato de verdade.
Depois de deixar o aviso ao Im Chan-seong desacordado, Seo Han-yeol voltou para o seu lugar como se nada tivesse acontecido. Até então, ainda se ouviam as vozes dos professores repreendendo a multidão aglomerada no corredor, mandando-os entrar logo para as salas. Mesmo enquanto os curiosos se dispersavam, como a maré vazante, retornando às suas turmas e aos seus lugares, ninguém ao redor de Seo Han-yeol teve coragem de se aproximar. No cenário deixado por um tufão violento, só ele permanecia intacto.
Im Chan-seong, que apanhou unilateralmente, acabou indo parar no hospital. Outro garoto, que havia caído para trás e sofrido uma concussão, faltou à escola por dois dias. Ainda assim, ninguém fez questão de transformar o ocorrido em um problema. O argumento era de que o grupo havia provocado primeiro, além de já serem conhecidos como encrenqueiros que viviam causando pequenos e grandes tumultos. Não dava para ignorar também o fato de Seo Joo-won ter arcado com despesas médicas generosas demais para os pais deles.
Depois daquele dia, o grupo, privado de seu eixo central, deixou de agir como antes. Durante as aulas, ficavam quietos, apenas dormindo. Nos intervalos, quando se reuniam, no máximo rosnavam perguntando “o que está olhando?” para quem os encarava de relance. E, ainda assim, ninguém jamais voltou a dirigir a palavra a Seo Han-yeol.
Como em qualquer outro dia, ele saiu da piscina. O sol estava agradável, então não se deu ao trabalho de secar completamente a pele e os cabelos. Com o corpo ainda molhado, a sensação de calor do sol parecia mais nítida. Caminhou tranquilamente pelo pátio da escola e só entrou no prédio quando até aquilo começou a ficar entediante.
Ao atravessar o corredor, ele lançou um olhar distraído pela janela. Os galhos da cerejeira que se projetavam próximos ao vidro estavam apenas esquálidos, como pulsos doentes. Ainda assim, o perfume suave das flores, impregnado na mucosa do nariz, não havia desaparecido — pelo contrário, parecia ficar cada vez mais intenso. Não era aquele cheiro cru, levemente rançoso e agressivo típico de esporos espalhados no ar, mas uma fragrância artificialmente refinada. Flor de cerejeira? Jasmim? Não… frésia?
Enquanto seguia, sem propósito, o rastro daquele aroma estranhamente familiar, uma sombra ondulou e se aproximou. Ao mesmo tempo, o perfume adocicado se adensou. Ele se virou para olhar a figura que passava direto por ele. O que entrou em seu campo de visão não foi o rosto do outro, mas um crachá torto. Demorou um instante a mais para reconhecer os três caracteres do nome que encontrou ali, inesperadamente.
— …Sang-hee?
Soou quase como um simples suspiro. Os lábios se moveram por instinto, nada mais. Ainda assim, o grande corpo que passava bocejando sem interesse lançou um olhar de esguelha. Nesse breve momento, uma gota d’água caiu da ponta do cabelo que ainda não havia secado. Um arrepio sutil percorreu a nuca úmida.
— Você é Baek Sang-hee?
Ele perguntou de novo, agora com convicção, mas o outro não respondeu. Apenas girou um pouco mais o corpo, ficando de frente para ele. Por causa do cabelo desgrenhado, caindo até quase cobrir os olhos, era impossível ler direito o olhar. Ainda assim, nas bochechas rígidas, sem expressão, e no gesto distraído de coçar a própria sobrancelha, transparecia uma indiferença clara — como quem diz para ir direto ao ponto se tivesse algo a tratar. Um desinteresse cru, voltado a alguém da mesma laia. Em contraste, o perfume doce de flores — algo que combinaria mais com mulheres — destoava completamente da aparência e evocava, de maneira estranha, pensamentos carregados de um leve erotismo.
Não era como ele imaginava. Era muito diferente.
Sem perceber, o canto de seus lábios se ergueu. Uma sensação curiosa de prazer lhe percorreu pelo peito.
— Então é você mesmo, né? O filho daquela mulher.
Um sorriso se formou naturalmente em seus lábios. Só então Baek Sang-hee começou a examinar Seo Han-yeol de verdade. Os olhos negros se moveram em silêncio, percorrendo-o com lentidão da cabeça aos pés. Era um olhar totalmente desprovido de calor. Baek Sang-hee parecia não conseguir ter certeza, de imediato, sobre quem Seo Han-yeol realmente era. A reação que ele esperava simplesmente não vinha. Decidiu dar mais uma pista.
— Dá pra imaginar o quanto fiquei curioso. Afinal, de repente posso acabar ganhando uma mãe.
— … Ah.
A exclamação que escapou soou preguiçosa, indiferente demais. Não houve mudança alguma, nem na expressão, nem no olhar.
— Não é exatamente algo pra sair se gabando, mas aquele cara tem um gosto bem exigente. Até agora, as mulheres com quem se envolveu eram, na maioria, mais novas, mais bonitas e mais ricas que a sua mãe. Tinha até celebridade famosa no meio, daquelas que todo mundo conhece só de ouvir o nome. E, mesmo assim, entre todas elas, foi justamente a sua mãe que ele escolheu?
(“aquele cara” é referente ao pai do Han-yeol)
Seo Han-yeol soltou uma risadinha cheia de deboche.
— Vai ver a sua mãe é realmente talentosa na cama, hein?
Foi só então que Baek Sang-hee se aproximou. Diante daquela presença esmagadora, seria natural recuar, mas Seo Han-yeol, ao contrário, apenas abriu um sorriso torto, observando-o.
Ele mal teve tempo de tentar ler alguma emoção nos olhos que surgiam por entre os cabelos desgrenhados. De repente, sua cabeça virou com violência. Antes que conseguisse entender o que estava acontecendo, o corpo se dobrou e ele foi ao chão.
O lado esquerdo do maxilar ardia. Sobre o uniforme novo, havia a marca cinzenta de um pé. Seo Han-yeol ergueu o olhar, atordoado, para Baek Sang-hee. O mais absurdo era que ele continuava absolutamente inexpressivo. Não havia o menor sinal de agitação ou raiva.
— O qu-
Um riso incrédulo escapou. No instante seguinte, o pé de Baek Sang-hee pisou sem piedade em seu ombro. Ao mesmo tempo em que seu tronco era empurrado para trás, um chute atingiu seu abdômen. O corpo se encolheu por reflexo. Os dois braços envolveram o estômago latejante. Baek Sang-hee voltou a pressionar o ombro de Seo Han-yeol, forçando-o a se abrir, e, no momento em que o corpo cedeu, desferiu um chute violento no peito. O impacto atingiu fundo os pulmões, e por um instante o ar simplesmente deixou de entrar.
Seo Han-yeol estalava os lábios, debatendo-se, tentando puxar ar para dentro dos pulmões de qualquer jeito.
Era uma violência unilateral. Não havia sequer tempo para se defender. Apanhando sem trégua, num impulso, Seo Han-yeol agarrou a perna de Baek Sang-hee e a puxou. Baek Sang-hee perdeu o equilíbrio e caiu. Ainda assim, ele continuou a chutar repetidamente a cabeça e os ombros de Seo Han-yeol, que se agarrava à sua perna. Quando percebeu que não conseguia se livrar, Baek Sang-hee empurrou com o pé os braços que o prendiam, livrou-se e, em seguida, agarrou-o pela gola. Socos implacáveis passaram a chover sobre seu rosto e cabeça, sem a menor piedade.
— O que vocês estão fazendo aí?!
Ao ouvir o tumulto no corredor, os professores correram e separaram Baek Sang-hee à força. O corpo que estava caído foi erguido por mãos alheias. No mesmo instante, o sangue jorrou do nariz, formando um fio vermelho intenso. O corpo inteiro parecia esmagado: ardia, doía e rangia por dentro. A pergunta “você está bem?”, dita por algum professor, ecoava fundo em seus ouvidos.
Sem sequer pensar em estancar o sangue, Seo Han-yeol continuou encarando Baek Sang-hee. Aquele que o atacou com uma fúria digna de um inimigo mortal agora estava estranhamente contido. Se realmente tivesse a intenção de espancá-lo daquele jeito, deveria ter se soltado dos professores e avançado de novo. Deveria estar se debatendo, incapaz de conter a raiva — ou, no mínimo, cuspindo xingamentos entre dentes. Mas não. Como se nada tivesse acontecido, Baek Sang-hee apenas o fitava com um rosto inexpressivo.
A primeira pessoa a chegar foi Baek Young-hwa. A enfermeira da escola, sem desconfiar de nada, guiou-o até a maca, apresentando-o como o responsável por Seo Han-yeol. Han-yeol estava apenas com alguns curativos nos ferimentos mais visíveis e um suporte improvisado no ombro; fora isso, não havia recebido nenhum atendimento adequado.
— Acho que o ombro pode estar deslocado. Seria melhor levá-lo ao hospital o quanto antes. Mas o Han-yeol insiste em não ir.
A enfermeira explicou a situação. Baek Young-hwa parecia bastante aflito. Mesmo naquele breve silêncio, dava para perceber o quanto ele ponderava cuidadosamente cada palavra antes de falar.
— Han-yeol, vamos primeiro ao hospital.
Baek Young-hwa não perguntou, como qualquer mãe faria, o que tinha acontecido nem explodiu de indignação querendo saber quem tinha feito aquilo. Ela não estava em posição de fazê-lo.
Por volta desse momento, o corredor de repente ficou agitado. Ouviram-se algumas vozes e o som apressado de sapatos, e então Seo Joo-won entrou de supetão na enfermaria. Ele vinha acompanhado até de um advogado. Ignorando a expressão confusa da enfermeira, foi direto até Seo Han-yeol e segurou-lhe o queixo de repente, virando seu rosto de um lado para o outro para avaliar o estado dele. Irritado, Han-yeol afastou a mão dele.
— Seo Han-yeol.
— ……
— O que foi que aconteceu?
O tom era baixo, mas o olhar, que o examinava como num interrogatório, era severo. Ainda assim, Seo Han-yeol manteve os lábios firmemente fechados. O perfil que evitava o olhar de Seo Joo-won parecia estranhamente emburrado. Teimosia pura. Um suspiro contido escapou de Seo Joo-won.
— Por que você não foi ao hospital e está aqui assim?
Seo Han-yeol continuou sem responder. Também fingia não perceber o olhar da irmã. Já impaciente, Seo Joo-won enfim voltou os olhos para Baek Young-hwa, que estava ao lado. O olhar dele era afiado, quase agressivo. Baek Young-hwa apenas sustentou aquele olhar, sem desviar.
Pouco depois, o corredor voltou a ficar tumultuado. A enfermeira, que olhava em direção à porta, anunciou:
— O diretor chegou.
Seo Joo-won virou-se para ele, apoiando a mão na cintura.
— Soube que o senhor tinha chegado e vim imediatamente.
O diretor forçou um sorriso e cumprimentou Baek Young-hwa e Seo Joo-won, um após o outro. Baek Young-hwa respondeu com uma leve e educada inclinação de cabeça. Seo Joo-won manteve a postura ereta ao encarar o diretor. O advogado que estava logo atrás deu um passo à frente e entregou um cartão de visitas. Ao ler o que estava escrito ali, o diretor esboçou um sorriso constrangido.
— Imagino que o senhor estivesse bastante preocupado se o aluno Seo Han-yeol conseguiria se adaptar bem à vida escolar. Por isso, lamento muito que um incidente tão desagradável tenha ocorrido. Peço sinceras desculpas.
— O que o senhor pretende fazer a respeito?
— Como? Ah, bem…
— Estou perguntando como o senhor vai se responsabilizar por este caso.
Seo Joo-won fez questão de usar a palavra “caso”, pressionando o diretor. Estava claro que ele não tinha a menor intenção de deixar que a agressão sofrida por Seo Han-yeol fosse tratada apenas como uma briga banal entre alunos. O diretor riu nervosamente, “ah, ah, ah”, e olhou para o coordenador disciplinar que o acompanhava.
— Vamos primeiro para a sala da direção e conversar com calma.
O coordenador tentou apaziguar a situação. De fato, não era o tipo de conversa para se ter na enfermaria. Seo Joo-won saiu na frente, passando pelo diretor e deixando a sala. O diretor e o coordenador seguiram apressados. Até então em silêncio, Baek Young-hwa voltou a falar com Seo Han-yeol.
— Vamos ao hospital cuidar disso primeiro. Não está doendo?
— Onde aquele desgraçado está agora?
— Quem?
— O seu filho.
Baek Young-hwa não respondeu. Sua expressão também não mudou. Quem pareceu realmente confusa foi apenas a enfermeira, que observava a situação.
Seo Han-yeol se levantou de súbito. O ombro estalou imediatamente, mas aquilo pouco importava.
— Aonde você vai, Han-yeol! Ei!
Baek Young-hwa correu atrás dele enquanto ele avançava a passos largos. Seo Han-yeol abriu de supetão a porta da sala da direção, de onde escapavam vozes abafadas. O diretor, o coordenador disciplinar, Seo Joo-won e o advogado, sentados no sofá conversando, voltaram-se ao mesmo tempo para a porta.
Baek Sang-hee não estava ali.
Seo Han-yeol fechou a porta da sala da direção e seguiu em frente. Ao refazer o caminho, Baek Young-hwa tentou segurá-lo pelo braço, mas ele se livrou sem dificuldade. Subiu as escadas e abriu a porta da sala dos professores do terceiro ano, no segundo andar. Alguns docentes que ainda não tinham ido para a aula perguntaram o que estava acontecendo. Baek Sang-hee também não estava ali.
Sem responder, Seo Han-yeol fechou a porta e seguiu até a sala da coordenação estudantil, no fim do corredor. Empurrou a porta de correr, que estava fechada. Foi ali que, enfim, Baek Sang-hee apareceu. Ele estava recostado na cadeira da mesa, afundado no encosto. Parecia ter levado alguns golpes — a bochecha levemente inchada, o cabelo e o uniforme desalinhados. Ainda assim, sua expressão era de uma tranquilidade absoluta.
— ……
— ……
Por um tempo, Seo Han-yeol e Baek Sang-hee se encararam em silêncio. Ou talvez apenas Seo Han-yeol o estivesse encarando. Baek Sang-hee, sem mudar a postura, apenas observava com um olhar vago aquele que invadira o lugar de repente. Em seus olhos não havia traço algum de hostilidade ou excitação.
— Ei.
Mesmo com o chamado, Baek Sang-hee não reagiu. Ele só se moveu quando Baek Young-hwa, que havia chegado logo atrás, disse: “Han-yeol…”. Baek Sang-hee inclinou o corpo que estava largamente apoiado para a frente. Ainda que o gesto de se levantar e caminhar em direção a Seo Han-yeol não fosse particularmente rápido, tudo pareceu acontecer num piscar de olhos. Quando a sombra de Baek Sang-hee caiu sobre ele, Seo Han-yeol engoliu em seco sem perceber. A mente girava a toda velocidade, calculando como poderia desferir um golpe fatal.
Mas, à medida que a distância diminuía, o olhar de Baek Sang-hee começou a se desviar de Seo Han-yeol. Talvez, desde o início, seus olhos nem estivessem voltados para ele. Baek Sang-hee simplesmente passou por Seo Han-yeol e saiu para o corredor, sem lhe dar a menor atenção. Então parou diante de Baek Young-hwa.
Com um gesto simples, ele relegou alguém a mero figurante. Ainda parado, atônito, Seo Han-yeol soltou uma risada incrédula e se virou para olhar para trás.
Baek Sang-hee estava diante da própria mãe. Em seus olhos não havia a menor oscilação. Nem ressentimento, nem raiva, nem sequer um leve incômodo — apenas um olhar apático, vazio de emoções. O semblante de Baek Young-hwa, que encarava o filho que havia gerado com tanta dor, era igualmente frio. A cena não podia ser mais estranha.
Mas isso durou pouco. Talvez por sentir o olhar de Seo Han-yeol sobre eles, Baek Young-hwa passou a tratar Baek Sang-hee como se ele nem existisse.
— Han-yeol, por que está aí parado feito bobo? Você precisa ir logo ao hospital.
Baek Sang-hee agarrou o braço da própria mãe quando ela tentou ir até Seo Han-yeol. Em seguida, puxou-o de volta para diante de si.
— Não achei que você fosse vir correndo assim de verdade.
A voz que escapou não tinha qualquer inflexão. Baek Young-hwa, indiferente, apenas ajeitou o cardigan levemente amarrotado. Seu olhar já não se dirigia a Baek Sang-hee há algum tempo.
— Mesmo assim, já que você é mãe, apareça em casa de vez em quando. Eu não me importo, mas elas são meninas.
Baek Sang-hee disse isso enquanto olhava para Baek Young-hwa de cima, como se estivesse falando com alguém distante. Depois, soltou-a quase empurrando e saiu andando lentamente pelo corredor. Devia ter recebido a ordem de permanecer ali refletindo até que uma decisão fosse tomada, mas parecia não se importar nem um pouco com isso.
Baek Young-hwa desviou o olhar do filho sem qualquer hesitação e voltou-se para Seo Han-yeol. O gesto de arrumar os cabelos levemente desalinhados e a expressão calma no rosto faziam parecer que nada havia acontecido. Uma sensação estranha e desagradável começou a subir pela nuca de Seo Han-yeol, rasteira e insistente. Filho ou mãe, ambos pareciam tratar as pessoas como simples adereços. Um riso seco escapou de seus lábios.
— O que foi isso? Por que estou me sentindo tão estranho?
— Han-yeol, já chega. Vamos ao hospital agora.
Seo Han-yeol ergueu o braço, afastando a mão que Baek Young-hwa estendia em sua direção.
— Responde, então. Por que aquele desgraçado fez isso comigo?
— Sei lá… vamos primeiro ao hospital. Você precisa se tratar logo.
— Para de desviar e responde. O que foi que ele fez comigo agora?
— Han-yeol…
— Solta e responde logo.
Seo Han-yeol sacudiu com força o braço, afastando a mão de Baek Young-hwa que o segurava de leve. Ela deixou os ombros caírem e soltou um suspiro longo. Olhou para outro lado por um instante e, quando voltou a encará-lo, havia um cansaço mal disfarçado em seu olhar.
— A senhora largou todos os filhos e foi embora, não foi? Até trocou de número? Ignora completamente qualquer contato deles? É isso?
— ……
— Então aquele desgraçado fez isso porque tinha algo pra dizer só pra senhora…?
Seo Han-yeol não conseguiu terminar a frase e engoliu em seco. Jogou a cabeça para trás, tentando regular a respiração, e logo deixou escapar um riso curto, incrédulo. Sem que Baek Young-hwa demonstrasse qualquer vontade de responder, ele deu dois toques leves no ombro dela.
— Responde. O que foi isso agora? Ele fez isso comigo pra te chamar, foi?
Enquanto perguntava, ele já sabia a resposta. Baek Sang-hee só queria encontrar a mãe indiferente. Seo Han-yeol havia se tornado, de repente, apenas um meio para isso. A razão pela qual apanhou até ver sangue pela primeira vez na vida não tinha absolutamente nada a ver com ele mesmo. A sensação foi como levar um balde de água fria inesperado. Diante de uma humilhação impossível de descrever, a dor física sequer teve espaço para ser sentida.
Nos dias seguintes, ele mal conseguiu dormir direito. Sempre que o ombro deslocado latejava, a imagem de Baek Sang-hee surgia em sua mente. Aquele homem que era capaz de pisotear alguém que acabou de conhecer sem a menor hesitação…