Açúcar Azul - Capítulo 04
(Esse capítulo e o anterior está contando um pouco do passado deles, então a história sempre vai fazer referência do Han-yeol de 28 e o Han-yeol de 19 anos.)
— Não. Não parece ser isso. Ainda está em idade de engravidar, pelo menos. Parece saudável.
— Só com isso?
— Foi sorte. Ou melhor, o timing caiu perfeitamente.
Seo Ju-won lançou a Seo Han-yeol um olhar cheio de significado. Han-yeol entendeu de imediato e deixou escapar um baixo som de compreensão. Ju-won continuava a mexer, sem parar, no cigarro que nem pretendia fumar.
— Ela tem filhos. Um filho e duas filhas.
— Trouxe todos eles pra casa?
— Você acha que o avô permitiria isso?
— Então?
— Veio sozinha, largando os próprios filhos pra tentar mudar de vida.
Seo Han-yeol soltou um “uau”, rindo. Era uma admiração sincera. Seo Ju-won voltou a franzir o cenho e a esfregar a testa. Quando Han-yeol disse “então fuma logo”, ele acabou levando o cigarro à boca. A fumaça, assim que surgiu, foi imediatamente dispersada com a mão.
— Você odeia tanto assim?
— Não tem um único ponto que me agrade. Como eu não odiaria?
— Agora que estou vendo… diretor Seo, você não veio me buscar. Veio negociar comigo, né?
— E você, gosta? Pode acabar ganhando um irmão da sua idade do nada.
— Da mesma idade?
— O filho mais velho é do último ano do ensino médio, igual a você. Acho que ouvi dizer que ele repetiu um ano. Abaixo dele, tem duas filhas: uma no fundamental e outra no médio. Sabe o que é ainda mais engraçado?
— O quê?
— Nenhum deles se parece com ela. Nenhum dos três.
Seo Ju-won estalou a língua, incrédulo. Seo Han-yeol abriu um sorriso enviesado e, com um interesse inesperadamente vivo, perguntou se não havia nenhuma foto daquela mulher. Ju-won rebateu com um “acha que teria?”, repreendendo a curiosidade leviana do irmão mais novo.
— Então você já viu eles também?
— Quem?
— Os filhos que ela deixou pra trás.
— Só por foto.
— E aí?
— E aí o quê. O garoto parece normal, mas dizem que é um problema — vive faltando à escola e quase não fica em casa. As meninas… — ele suspirou fundo. — Como alguém consegue largar crianças tão novas desse jeito? Sinceramente, isso foge completamente do meu entendimento…
— Tive uma ideia interessante.
Han-yeol o interrompeu com um sorriso largo. Seo Ju-won apagou o cigarro que fumava, esmagando-o no cinzeiro. Por hábito, ainda dispersou com a mão a fumaça restante, como quem traça um limite.
— Nem pense em brincadeiras.
— Nem ouviu ainda e já chama de brincadeira.
Ju-won fez uma careta, mas inclinou levemente o queixo, como quem diz para ele falar logo.
— Me mande para aquela escola. A que o filho daquela mulher frequenta.
— Só de ouvir já parece brincadeira.
— Desde quando um aluno querer ir pra escola e se formar virou brincadeira?
— Já esqueceu por que você largou os estudos e voltou agora? Não. Já está tudo planejado: cronograma de homeschooling, professores particulares convidados. Quando voltar pra Coreia, você vai estudar direito, fazer as provas e pegar o diploma como combinado.
(Um cronograma de homeschooling é o mapa da rotina de estudos domiciliar, um planejamento flexível que organiza disciplinas, horários e atividades, adaptando-se à realidade da família e ao ritmo do aluno, diferentemente da rigidez escolar tradicional, focando em personalizar a aprendizagem com liberdade pedagógica.)
— …e se forma, entra na universidade. Se quiser brincar, faça isso quando virar adulto, quando não precisar mais da autorização de um responsável.
— Posso ir primeiro, ver como é. Se não der certo, aí sim faço homeschooling ou o que for.
— Não. Já disse que não.
— O ‘mandão’ Seo sendo tão pouco cooperativo assim… acha mesmo que eu vou querer ajudar?
— Desde quando você anda ajudando alguém?
— Eu falo direitinho com o avô. Digo que não gosto da ideia de ele ter uma madrasta nova.
— ……
— Que vou tomar os remédios direitinho e me esforçar pra ficar saudável. Hein?
— Seo Han-yeol. O que você está tramando?
— Nada demais. Só fiquei curioso de repente.
Nos olhos de Seo Ju-won, ao encarar o irmão mais novo, transbordava uma desconfiança profunda. Han-yeol, que sorria abertamente para ele, acrescentou num tom quase cantarolado:
— O filho que foi abandonado pela nova mulher do pai.
A escola ficava nos arredores da província de Gyeonggi, a cerca de cinquenta minutos de carro. O distrito escolar estava localizado em um típico conjunto habitacional de classe trabalhadora. Nem de longe dava para dizer que o interesse por educação ali era alto; o número de alunos que ingressavam em universidades nacionais de Seul a cada ano podia ser contado nos dedos. Por ser uma escola particular fundada por uma figura influente da região, muitos professores haviam sido contratados mediante doações ao fundo de desenvolvimento da escola ou por meio de contatos pessoais. Como características, havia uma piscina coberta dentro do campus e os times de judô e tênis, que costumavam alcançar resultados razoavelmente bons em competições nacionais.
Ao chegarem à escola, um professor já os aguardava na entrada. Apresentando-se como o diretor administrativo, ele conduziu Seo Ju-won e Seo Han-yeol diretamente até a sala do diretor…
…até a sala do diretor. Enquanto caminhavam pelo corredor, ele aproveitou para se gabar bastante da piscina coberta que aparecia de relance do lado de fora da janela. Disse que era uma instalação construída puramente para o bem-estar e o lazer dos alunos, elogiando efusivamente a consideração do presidente da fundação. Quando Seo Han-yeol perguntou se a piscina estava cheia naquele momento, ele respondeu com uma desculpa vaga, dizendo que ainda estava frio para isso.
Na sala do diretor, além do próprio diretor, também estavam presentes o coordenador disciplinar e mais um professor. Ao que tudo indicava, era a pessoa designada para ser o professor responsável por Han-yeol. O diretor se levantou da cadeira para receber os dois com entusiasmo.
— Ah, sejam muito bem-vindos. Estávamos esperando por vocês.
— Seo Ju-won.
Quando Seo Ju-won estendeu a mão primeiro, o diretor a apertou com suas mãos gorduchas.
— Já somos muito gratos só pelo fato de terem escolhido a nossa escola, mas ainda por cima fizeram uma doação tão generosa ao fundo de desenvolvimento…
Ele não poupava o uso de honoríficos exagerados, mesmo diante de uma responsável que, mais do que jovem, beirava o infantil. No rosto, carregava um sorriso tão excessivo que chegava a parecer servil. Seo Ju-won não fez nenhuma modéstia. Sentou-se no sofá como se aquele tratamento fosse natural e apenas inclinou levemente a cabeça em cumprimento ao coordenador disciplinar e ao professor que estavam sentados à frente. Os dois retribuíram com uma breve reverência.
— Ah, permita-me apresentar. Esta é a professora Yoo Seon-hwa, que será a professora responsável pelo aluno Seo Han-yeol. Ela leciona inglês e se formou em uma universidade nos Estados Unidos, então pode considerá-la praticamente uma falante nativa. Este já é o quarto ano em que ela assume uma turma do terceiro ano do ensino médio. E isto é, por assim dizer, confidencial, mas até agora todas as turmas que a professora Yoo acompanhou sempre tiveram um ótimo ambiente de estudo. A taxa de ingresso em universidades da região de Seul também foi a mais alta.
— Baek Sang-hee… você conhece?
Seo Han-yeol interrompeu de repente. O diretor, que falava cheio de orgulho, fez uma expressão confusa e logo virou a cabeça em direção aos dois professores. Um olhar ambíguo foi trocado entre o coordenador disciplinar e a professora de inglês. Quem acabou abrindo a boca foi o coordenador.
— Vocês se conhecem?
— Não.
— Então como você sabe esse nome?
— Só sei.
Diante da resposta ousada, o coordenador disciplinar ficou momentaneamente com uma expressão atônita. Por várias vezes, olhares carregados de significado foram trocados entre ele e a professora de inglês. Seo Ju-won apenas lançou um olhar desconfortável a Seo Han-yeol, mas não tentou impedi-lo abertamente.
— Quero ficar na mesma turma que ele. Ele também é do terceiro ano, não é?
O diretor voltou a alternar o olhar entre os dois professores. A professora de inglês balançou a cabeça, com uma expressão bastante séria. Diante disso, o diretor soltou uma risada constrangida, tentando apaziguar Seo Han-yeol.
— Aluno Seo Han-yeol, na nossa escola nós nos preocupamos muito em organizar as turmas de forma que os alunos se adaptem bem ao ambiente e consigam se concentrar nos estudos. Especialmente agora, como candidato ao vestibular, este é, de certa forma, o período mais importante da sua vida, não acha? Como você passou muito tempo estudando no exterior, é natural que a vida aqui na Coreia ainda lhe pareça estranha, e que a convivência com colegas da mesma idade também seja um desafio. Por isso, tentamos colocá-lo, na medida do possível, em uma turma mais tranquila, sem problemas…
— Então a turma deles tem muitos problemas?
— Não, não foi isso que eu quis dizer…
Com um semblante encurralado, o diretor olhou para Seo Ju-won. Era evidente que esperava que ela chamasse a atenção de Seo Han-yeol. Ao mesmo tempo, fez questão de acrescentar que não havia absolutamente nenhum problema de violência escolar ou bullying, para tranquilizá-los.
Seo Ju-won soltou um suspiro baixo.
— Por acaso essa turma já está com o número máximo de alunos?
Surpreso com a pergunta inesperada, o diretor voltou a olhar para os professores. O chefe administrativo conferiu os documentos rapidamente e respondeu:
— Não, não está.
O diretor então expressou suas preocupações em seguida:
— Mesmo assim… a senhora acha que ficará tudo bem?
— É o próprio interessado que quer.
Com até a responsável legal dizendo aquilo, o diretor já não estava em posição de insistir mais. Ele apenas assentiu em silêncio e disse:
— Professora Yoo Seon-hwa, a senhora já pode se retirar.
A professora de inglês, que quase se tornara a tutora da turma, levantou-se e fez um breve aceno de cabeça ao diretor e a Seo Ju-won. Quando a porta se abriu e se fechou, deixando o ambiente um pouco agitado, Seo Han-yeol voltou a falar.
— Vi que tem uma piscina no caminho até aqui.
— Viu, é? É uma das instalações das quais mais nos orgulhamos na escola.
— Mas disseram que ainda não encheram a piscina…
— Ah, isso é porque o clima ainda está frio, e também há várias questões envolvidas na manutenção das instalações.
Seo Han-yeol ficou em silêncio, olhando para a irmã. Seo Ju-won compreendeu o significado daquele olhar sem dificuldade.
— Se a questão for custo, acredito que possamos arcar com essa parte.
— Não, não. Está tudo bem. Só a doação para o fundo de desenvolvimento da escola já é mais do que suficiente.
— Como mencionei anteriormente, o Han-yeol precisa praticar exercícios regularmente. Outros esportes podem acabar sendo pesados demais, mas a natação é algo permitido, e ele até gosta bastante. Como a escola já possui uma piscina, achei apropriado sugerir. Podemos cobrir integralmente todos os custos pelos próximos um ano, desde que a água seja trocada e a limpeza feita diariamente. Se o problema for falta de pessoal para manutenção, também podemos contratar alguém por nossa conta. Com a condição de que os outros alunos só utilizem a piscina após o horário das aulas.
— Ahaha… dizendo assim, vou considerar a proposta com carinho.
O diretor não recusou a oferta de Seo Ju-won. Não havia motivo para isso. Instalações como uma piscina só se deterioram ainda mais quando ficam abandonadas. Lugares que já cumpriram seu papel costumam ser assim.
Nesse momento, ouviu-se uma batida à porta, e um professor entrou na sala do diretor. Parecia ter pouco mais de trinta anos, um homem de porte robusto. Vestia uma camiseta de algodão, calça esportiva e tinha um apito pendurado no pescoço, o que tornava fácil identificar sua função.
Dava para deduzir qual era a matéria que ele lecionava. No lugar do diretor, o chefe administrativo tratou de apresentá-lo.
— Venha por aqui, professor Shim. Vou apresentá-lo. Este é o professor Shim Woo-hyuk, o professor responsável pela turma 11. Ele dá aulas de Educação Física e, embora esta seja a primeira vez como tutor de uma turma do terceiro ano, sua dedicação é realmente impressionante.
Ao contrário da explicação entusiasmada do chefe administrativo, o professor que fora praticamente arrastado até ali parecia apenas confuso, limitando-se a inclinar a cabeça em um cumprimento desajeitado. Seo Ju-won respondeu com um aceno breve e lançou a Seo Han-yeol um olhar resignado. Naquele olhar descontente havia incontáveis advertências e reclamações não ditas.
Mas, ligando pouco para isso, Seo Han-yeol apenas murmurou uma melodia baixa enquanto folheava distraidamente um panfleto promocional.
— Bem, este é o aluno transferido que chegou hoje. O nome dele é Seo Han-yeol, e como passou muito tempo estudando no exterior, cooperem para que ele consiga se adaptar bem.
A apresentação do tutor foi simples e direta. Acrescentou apenas que, se houvesse algo a dizer, poderia falar — e só. Seo Han-yeol balançou a cabeça em negativa e varreu com o olhar os rostos voltados para ele. Não havia ali nenhum olhar amigável. A curiosidade que pairava no ar estava longe de ser inocente. Mesmo sob aquela enxurrada de olhares, ele não se importou; apenas pensou se, entre eles, estaria Baek Sang-hee.
— Por enquanto, sente-se ali, naquela carteira vazia.
Havia dois lugares desocupados. Ele se dirigiu ao que o tutor indicou. Enquanto caminhava entre as carteiras, sentia os olhares grudados nele. Os alunos do fundo chegavam a encarar seu rosto abertamente, cochichando e rindo. Ele não deu importância. Depois de deixar a mochila no lugar e observar o ambiente ao redor, o tutor iniciou a chamada com um tom indiferente.
— Faltou alguém hoje?
— Baek Sang-hee.
A resposta veio quase de imediato. Como não havia ninguém que chamasse atenção à primeira vista, Seo Han-yeol chegou a pensar que Baek Sang-hee tivesse uma aparência comum. Mas ao descobrir que ele nem sequer tinha vindo, sentiu o ânimo murchar antes mesmo de começar.
…Faltou. O tutor apenas ergueu levemente a cabeça para confirmar que o lugar dele estava vazio. Tanto o gesto de marcar a presença quanto a expressão no rosto deixavam claro que não era algo digno de atenção.
O clima da turma era exatamente como o esperado. Tanto nos períodos de estudo livre quanto durante as aulas, era difícil encontrar alguém que realmente estivesse estudando. A maioria estava debruçada sobre as carteiras, dormindo, e havia também os que brincavam descaradamente entre si. Não importava a matéria: os professores já entravam na sala suspirando. Afinal, aulas às quais ninguém prestava atenção acabavam, na maioria das vezes, com o professor murmurando sozinho até o tempo se esgotar. Não demorou para ficar claro por que os docentes haviam demonstrado resistência antes da divisão das turmas. E isso ainda nem fazia um dia inteiro desde a transferência.
A partir do terceiro dia, assim que chegava à escola, Seo Han-yeol ia direto para a piscina. Em comparação com o tanto que haviam se gabado dela, as instalações eram bastante precárias. Se Seo Ju-won não tivesse mandado alguém limpá-la com antecedência, ele nem sequer teria colocado os pés na água.
Sem qualquer constrangimento, tirava o uniforme e a roupa íntima e mergulhava. Conforme o combinado, até o fim das aulas aquele espaço era só dele. Ia de uma ponta à outra, às vezes como se estivesse competindo, outras vezes nadando de forma tranquila e despreocupada. Depois de se exercitar até o limite e, apoiado naquele cansaço, cochilar por alguns instantes, acordava com a cabeça pesada já completamente limpa.
Depois do banho, voltava para a sala por volta do início do terceiro período. Todas as vezes em que olhava, quase por hábito, o lugar de Baek Sang-hee estava sempre vazio. Começou a se perguntar se ele ao menos frequentava a escola; a sensação de frustração e tédio foi crescendo aos poucos. A pessoa que despertara sua curiosidade não aparecia, enquanto apenas aqueles olhares pegajosos e indesejados continuavam a segui-lo.
Não eram só os colegas de classe — todos que cruzavam seu caminho na escola demonstravam interesse pelo aluno transferido. Chegar todas as manhãs em um sedã de luxo dirigido por um motorista particular, ou o fato de lhe ser permitido passar o horário das aulas sozinho na piscina, certamente chamava atenção. Seu longo período de estudos no exterior, o status de herdeiro de um conglomerado e até o motivo de sua transferência tornaram-se boatos que corriam pelos corredores. Sua aparência fora do comum também contribuía para aquele destaque excessivo. De vez em quando, ouvia desconhecidos perguntarem em voz baixa se era ele mesmo. Ainda assim, ninguém se atrevia a se aproximar diretamente para puxar conversa.
— …Ei, ei.
Foi durante um daqueles intervalos. Ele encarava o lado de fora da janela, distraído, quando virou a cabeça ao ouvir alguém chamá-lo de forma desajeitada. Uma sombra grande logo cobriu seu rosto. O sujeito, grande demais para parecer tão tímido, usava um crachá com o nome “Lee Dong-hyun”. Seo Han-yeol lançou-lhe um olhar de lado, como quem pergunta se havia algum assunto.
Com uma expressão aflita, Lee Dong-hyun olhava repetidas vezes por cima do ombro. Lá atrás, um grupinho que vivia se juntando para cochichar e rir observava a cena. Com o olhar, pressionavam Dong-hyun, ameaçando-o para que fizesse logo alguma coisa. Chegaram até a erguer a mão, fingindo que iam lhe dar um tapa.
— S-s-sim, sim, bonitinho…
Empurrado pelo grupo, os lábios de Lee Dong-hyun finalmente se abriram, tremendo. Ao ouvir aquele apelido inesperado, não só o grupo como também os outros que assistiam começaram a rir baixinho. O rosto de Dong-hyun ficou vermelho como fogo, e logo grossas gotas de suor se formaram em sua testa. Amassando a camisa do uniforme enquanto observava o ambiente com cautela, ele pareceu tomar uma decisão e fechou os olhos com força.
— V-você… você também já fodeu o cu da Baek Bo-ji?!
O grito repentino fez até quem passava pelo corredor lançar olhares curiosos para os dois. O grupo que o manipulava por trás caiu na gargalhada, aplaudindo e se dobrando de tanto rir. Lee Dong-hyun começou a tremer como se tivesse sido humilhado. Sua respiração irregular produzia um som áspero e desagradável aos ouvidos. Ainda assim, Seo Han-yeol permaneceu completamente impassível.
— Que idiota… (ele está falando em inglês aqui)
Na voz baixa que murmurou aquilo, não havia o menor traço de calor. O grupo cochichava entre si, perguntando o que ele tinha dito. Chamaram Lee Dong-hyun, que se aproximou hesitante, e perguntaram o que significava aquilo. Quando ele respondeu que não tinha entendido, não hesitaram em xingá-lo e lhe deram um tapa forte na parte de trás da cabeça. Com o clima ficando cada vez mais pesado, os curiosos começaram a se dispersar, um a um. Seo Han-yeol também não se envolveu na violência brutal direcionada a Lee Dong-hyun. Desde o início, aquilo não lhe interessava.
Em qualquer lugar, existia uma hierarquia tácita. Em ambientes dominados por machos, isso era ainda mais evidente. Os que eram menores, tímidos ou ingênuos…
Em qualquer lugar, ele era usado como se isso fosse o mais natural do mundo. Lee Dong-hyun era exatamente esse tipo de pessoa. O grupo mais barulhento da turma sempre o mandava comprar comida e, se ele não voltasse em cinco minutos, começavam a pegar no pé por qualquer coisa. Não hesitavam em acertar a parte de trás da cabeça dele sem motivo ou em cutucá-lo com o cotovelo. Os colegas de classe viam tudo claramente, mas fingiam não perceber. Quando, por acaso, seus olhares se cruzavam, sorriam de forma forçada e servil, tentando agradar o grupo.
Nem durante a aula eles sabiam se comportar, e isso ficava ainda pior quando a professora da matéria era mulher. Dormiam descaradamente, cochichavam entre si ou ficavam jogando coisas uns nos outros, sem parar com as brincadeiras. Houve uma vez em que uma professora de matemática recém-contratada acabou chorando por causa deles. Seo Han-yeol também não se importou com isso. Desde que não fosse algo que o afetasse diretamente, tanto fazia.
Em todo intervalo, eles faziam questão de chutar uma bola no fundo da sala, mesmo sendo um espaço apertado. Cadeiras e carteiras eram inevitavelmente empurradas para fora do lugar, e a bola, sem rumo, às vezes acertava a cabeça ou o corpo de alunos que estavam quietos. Nessas horas, eles apenas davam um sorriso torto e diziam “foi mal”, mas não paravam o jogo.
Até que, certo dia, jogaram a bola de propósito na cabeça de Lee Dong-hyun. Ele continuou sentado, olhando para a frente, como se nada tivesse acontecido. O grupo começou a rir baixinho e passou a arremessar a bola com ainda mais empenho. Depois de bater nos ombros, nos braços e na nuca de Dong-hyun, a bola ricocheteou na carteira ao lado — a de Seo Han-yeol — e caiu no chão. Um dos garotos do grupo se aproximou com ar provocador.
— Ah, foi mal aí. Ei, pega a bola pra gente?
Seo Han-yeol encarou o sujeito por um momento e então se levantou. O garoto, que repetia “ei, pega a bola”, franziu a testa ao se deparar com o olhar frio de Han-yeol.
— Qual é, porra. Vai ficar me encarando? E daí?
— ……
Sem motivo algum, o sujeito se exaltava. Ainda encarando-o, Seo Han-yeol se abaixou lentamente, pegou a bola que havia caído sob sua cadeira e, em seguida, arremessou-a com força pela janela aberta. Um dos garotos que assistia gritou “filho da puta!” e se debruçou para fora da janela. A bola, caída do quarto andar, quicou violentamente no chão e continuou rolando em direção ao campo.