Açúcar Azul - Capítulo 03
— Pelo jeito de falar, vocês parecem bem próximos, não? Uma diferença de idade de quinze anos não é exatamente pequena, mesmo por força de expressão. Surpreendente.
— Ainda assim, somos parentes.
Enquanto respondia, Seo Han-yeol passou os olhos pela plaquinha de identificação sobre a mesa.
— O senhor Park Hyun-seok é filho único de três gerações? Se não for, deve saber. Em relações assim, encontros cara a cara nem sempre acontecem por vontade das próprias partes.
Ao mencionar o nome completo sem rodeios, a sobrancelha do promotor deu um leve salto.
— Seo Han-yeol, isto aqui é a promotoria distrital, e o senhor veio prestar depoimento como testemunha. Tenha cuidado com o teor das suas declarações, adequado à situação e ao local.
— Eu estava apenas falando comigo mesmo. Se fui descortês por ter sido direto demais, peço desculpas.
Após uma breve pausa, Seo Han-yeol soltou um “ah” despreocupado.
— Ou será que chamá-lo de “senhor promotor” é o mais apropriado para a situação e o local?
A zombaria disfarçada de ignorância fez o rosto do promotor corar. Ele respirou fundo antes de dizer que isso não importava, embora claramente importasse. O tom com que prosseguiu — “vamos continuar” — estava ainda mais rígido e frio.
— O senhor está dizendo que emprestou, sem motivo algum, uma casa de campo de sua propriedade pessoal a um primo com quem nem sequer é próximo? Sem saber o que ele fazia lá?
— Ah, aquilo? Está no meu nome, mas dizer que é realmente minha seria exagero. Quando éramos mais novos, a nossa família até ia lá de vez em quando, mas depois de adulto nunca mais pus os pés naquele lugar. Só recebi porque passaram para mim. Ou melhor, foi herdado automaticamente conforme a lei de sucessão. Agora, se um primo quarentão ficou indo e vindo de lá para usar drogas, fazer orgias ou tramar crimes, eu tenho obrigação de saber disso?
— Infelizmente, só o fato de ter fornecido o local para jogos ilegais, prostituição ou até mesmo rinhas de cães já pode ser motivo para denúncia.
— Pelo jeito, se alguém pegar o carro de um conhecido às escondidas e matar alguém num atropelamento com fuga, o senhor ainda teria ímpeto de ir atrás do dono do carro também. Perguntar por que não cuidou melhor da chave, se não previu que o suspeito usaria aquele carro para matar alguém, ou se não sabia e mesmo assim fez vista grossa.
— Não acha que isso é um salto lógico exagerado?
— Parece mais ou menos a mesma coisa.
— No meu caso, trata-se de uma suspeita razoável. No local, junto com Seo Jong-yeol, também foram presos Ahn Jin-ho, da Suho Construction, Kim Myeong-jae, da AO Electronics, Lee Won-jung, da Wihan Steel, e o cantor Sona. Todos eles não são íntimos do senhor Seo Han-yeol?
— Quem disse isso? Que eles são íntimos meus. Foram eles que falaram?
— Basta entrar nas redes sociais deles para ver fotos tiradas com o senhor Seo Han-yeol.
Seo Han-yeol soltou uma risada de desdém, sem disfarçar.
— Então agora uma única foto já faz de alguém um amigo íntimo. É realmente fácil fazer amigos hoje em dia.
Enquanto falava, lançou um olhar de soslaio para um porta-retratos sobre a estante. Nele, havia uma foto do promotor Park apertando a mão do procurador-geral.
— Pelo visto, o senhor Park Hyun-seok também é bem próximo daquele ali.
— Eu estou falando do senhor Seo Han-yeol agora.
— Pelo visto fui indelicado de novo. Parece que empatia realmente não é o meu forte.
Como se não tivesse ouvido o sarcasmo de Seo Han-yeol, o promotor disse que perguntaria novamente.
— Foram nada menos que quatro anos. Durante esse período, Seo Jong-yeol usou drogas em vinte e duas ocasiões, e a maioria desses episódios ocorreu na casa de campo particular do senhor Seo Han-yeol. Ainda assim, o senhor afirma que não sabia absolutamente nada?
— Não sabia. E não me interessa.
— Um prédio e um patrimônio registrados em seu próprio nome, e o senhor simplesmente largou tudo de lado, sem nenhum motivo especial?
— Quando o guarda-roupa está cheio demais, a gente acaba esquecendo o que tem lá dentro, a menos que seja algo que se use com frequência. Sempre aparece alguma coisa quando se resolve organizar: “isso ainda estava aqui?”, “eu tinha uma roupa dessas?”. As estações mudam quatro vezes por ano, mas numa família o surgimento de um herdeiro pode levar, no mínimo, alguns anos, ou até dezenas deles.
— O senhor continua forçando a barra.
— Forçar a barra não é tentar incriminar alguém inocente sem provas?
O promotor Park riu de leve e se recostou profundamente na cadeira. Também largou a caneta que segurava sobre os documentos.
— Eu conheço bem pessoas como o senhor Seo Han-yeol.
O sorriso enviesado do promotor Park estava tão distorcido quanto o tom viscoso de sua voz. Seo Han-yeol inclinou a cabeça de lado, sem demonstrar qualquer abalo, como se dissesse “vamos ver até onde isso vai”.
— Nascido com o sangue certo, vivendo até hoje sem passar por dificuldades, sem sequer saber o que é dar de cara com um “não”. Por isso, às vezes a vida que corre fácil demais deve até parecer entediante. Acostumado a sempre ter concessões, de qualquer um, em qualquer lugar, achando natural dominar tudo ao redor. Não quis servir o exército, e acha que não precisa respeitar a lei porque a família dá um jeito de fazer lobby e limpar a bagunça. Sem nunca ter sentido medo algum do mundo. Mesmo agora, não é só uma questão de aguentar firme até conseguir uma absolvição ou, no máximo, uma pena suspensa?
A expressão de Seo Han-yeol não mudou nem um pouco. Ele apenas soltou um riso curto e murmurou para si mesmo, sem sentido aparente:
— É sempre assim… esse cheiro de lama.
Ajeitando a postura, chamou com naturalidade:
— Promotor…
O sorriso ainda permanecia em seu rosto.
— Num tempo como o de hoje, em que é quase impossível alguém sair do nada e virar alguém, chegar a vestir uma toga apenas com os próprios punhos é algo digno de elogio. Mas isso não significa que precise projetar suas inseguranças nos outros — fica pouco atraente. Relaxe. Viva com moderação. De forma inteligente. Receba o que lhe cabe receber, aproveite com dignidade o que pode aproveitar. Não fica tudo melhor assim? Pra que gastar energia à toa, comendo comida cara e se desgastando?
Tomado pela raiva, o promotor Park bateu com força na mesa. Com o impacto, algumas folhas empilhadas se espalharam e caíram esvoaçando. Ainda assim, Seo Han-yeol não demonstrou o menor sinal de intimidação.
— Se o senhor quer mesmo me envolver nisso, em vez de ficar aqui sentado só abrindo a boca, traga provas. Provas de que eu realmente frequentei aquela casa de campo. De que eu sabia que Seo Jong-yeol usava drogas e, mesmo assim, fiz vista grossa. Ou de que participei ativamente. Vasculhe tudo: o resultado dos meus exames toxicológicos, os registros de deslocamento do meu carro, as câmeras de segurança ao longo dos trajetos, o circuito interno da casa de campo, as câmeras externas, a caixa-preta. Traga qualquer coisa. Essa é a ordem correta. Esse é o procedimento.
— Está tentando me ensinar como fazer meu trabalho?!
— Estou só tentando exercer meu direito a uma defesa adequada. E o senhor fica irritado com isso?
O promotor Park soltou uma risada curta, como se estivesse incrédulo. Mas, com as pálpebras tremendo e o maxilar rígido, seu rosto ficou num meio-termo estranho, que não era exatamente riso nem pura fúria.
Foi então que se ouviu uma batida à porta. Mesmo sem a permissão do promotor Park, o visitante entrou com naturalidade. Ao vê-lo, a tensão no rosto de Park se dissipou quase instantaneamente.
— Park, pega mais leve, vai?
— O senhor veio, sênior?
— Dá pra ouvir você berrando até do lado de fora. Não se exalte e mantenha a calma. Tem um monte de repórteres lá fora, precisamos pensar também na imagem da promotoria.
Quem falava, num tom excessivamente afável, era Yoon Il-ho, promotor-adjunto chefe e superior direto de Park. Com sua entrada, o ar pesado da sala relaxou de imediato. Ainda assim, Park não parecia muito satisfeito com a presença dele.
— Estou no meio da oitiva de uma testemunha importante. Se não houver outro assunto…
— Eu também não queria interromper, mas o chefe está chamando.
Yoon Il-ho fez um gesto com a cabeça em direção à porta, indicando que ele fosse logo. O promotor Park lançou um olhar fulminante para Seo Han-yeol, suspirou longamente, contrariado, e se levantou do lugar…
Ele se levantou. Yoon Il-ho deu um tapinha nas costas dele e disse:
— A testemunha eu acompanho direitinho, então não se preocupe.
Não pareceu servir de muito consolo. Até pegar o paletó e caminhar até a porta, o olhar do promotor Park permaneceu cravado em Seo Han-yeol.
— Já está quase na hora do almoço. Que tal irmos comer alguma coisa? — sugeriu Yoon Il-ho, fazendo um esforço razoável para parecer um substituto atencioso.
— Desculpe, mas eu não posso comer qualquer coisa. Questão de constituição — respondeu Seo Han-yeol, com um sorriso abertamente irônico.
Ao ouvir aquilo, Yoon Il-ho deixou escapar uma risada curta. O promotor Park, ao que tudo indicava, também tinha ouvido, pois saiu batendo a porta com força.
Yoon Il-ho folheou os documentos sem pressa, e o sorriso em seu rosto se aprofundou.
— Ele é famoso por ser o mais linha-dura aqui da promotoria.
— Parece o tipo que vive se desgastando à toa.
— Dá pra notar, né?
Yoon Il-ho sorriu de canto e se virou em direção à janela. Abriu as persianas e olhou para fora. Em frente ao prédio, os repórteres se aglomeravam em filas compactas. Desde cedo ali posicionados, agora se espalhavam pelos degraus e pelo chão, sentados de qualquer jeito, falando alto, apenas à espera do momento em que Seo Han-yeol reaparecesse. Enquanto isso, revezavam-se em pequenas batalhas individuais: enchiam o estômago, escreviam matérias, falavam ao telefone.
O promotor Yoon estalou a língua, contrariado.
— Eu disse pra vir e ir embora em silêncio. Quem foi que deu pauta pra essa gente?
— Eu não fiz nada.
— Tenha olhos e olhe direito. Isso lá é roupa de quem foi intimado pela promotoria?
— Desde quando promotoria tem código de vestimenta?
— Você não assiste às notícias? Ainda é moda aparecer como quem já recebeu a sentença de morte: maquiagem, styling, tudo abandonado pra parecer o mais abatido possível. Máscara, cadeira de rodas e soro na veia são opcionais.
— O Jong-yeol veio desse jeito?
— Parecia alguém à beira da morte, não?
O promotor Yoon abriu um sorriso enviesado e perguntou:
— Quer beber alguma coisa?
— Deixa pra lá. Só acaba logo com isso. Não dormi nada essa noite, minha cabeça está latejando.
— Acabou de chegar e já está pensando em cair fora? Se sair rápido demais, a cena fica estranha, não acha?
— Você não disse que eu sou só testemunha? Não é melhor sair o quanto antes? Ou o quê, vai me amarrar nisso também?
— Bom… dependendo da situação.
O promotor Yoon sorriu de forma ardilosa enquanto preparava o café. Encheu um copinho de papel pequeno com dois sachês de café solúvel. Enquanto isso, Seo Han-yeol pegou um cubo que estava sobre um canto da mesa. À primeira vista era um cubo comum, mas cada face era dividida em formato de borboleta. Na prática, era como se estivesse fragmentado em doze partes. Ele girou o cubo lentamente entre os dedos e então começou a embaralhá-lo. O que antes era um hexaedro perfeitamente alinhado foi assumindo uma forma estranha e distorcida. Bastaram poucos movimentos para que todas as faces se misturassem, tornando difícil sequer imaginar como era o estado original.
— Então, quem foi que armou esse tabuleiro?
Seo Han-yeol perguntou de maneira casual, enquanto começava a remontar o cubo deformado. O promotor Yoon, que bebia o café espesso e forte demais, fez uma expressão de quem não sabia do que ele estava falando.
— Armou o quê? Isso aqui é investigação cognitiva, investigação cognitiva.
— Um velho cai de repente, começa aquele alvoroço sobre sucessão do controle da empresa, e justo nesse momento um escândalo desses estoura, como se fosse ensaiado. Quer mesmo que eu acredite nisso?
— Coincidência pura. O timing só acabou ficando perfeito.
O promotor Yoon girou a cadeira com leveza antes de se sentar novamente. Era escorregadio como uma enguia. Desde a infância, as famílias dos dois mantinham laços próximos. Por causa da natureza do negócio da família, altamente dependente das diretrizes governamentais, havia certos grupos com os quais era necessário manter proximidade: o Ministério da Defesa, o Ministério da Terra, Infraestrutura e Transportes, políticos do Legislativo, e o núcleo do Judiciário — juízes e promotores. A família do promotor Yoon, que já estava na área jurídica havia três gerações, era uma dessas.
Era uma relação de simbiose impossível de separar. Nada de grandes palavras como amigos, aliados ou gente do mesmo lado — apenas parceiros.
O desenho da situação de hoje só se tornou possível porque o promotor Yoon era mais próximo de Seo Ju-won, a irmã de Seo Han-yeol, do que do próprio Han-yeol, quase dez anos mais novo. Se os interesses de Han-yeol coincidissem diretamente com os dele, essa investigação estaria seguindo por um rumo completamente diferente. E a pessoa arrastada até ali como “testemunha” certamente não seria Seo Han-yeol.
Seo Han-yeol riu, achando graça.
— Então como foi que vocês descobriram que o Jong-yeol usava drogas?
— Tinha alguém que não soubesse? Sempre correram boatos aqui e ali.
— Mas dessa vez dizem que pegaram em flagrante.
— Ah, recebemos uma denúncia bem confiável. Pelos princípios da investigação, não posso revelar a fonte.
— Dá pra imaginar exatamente de onde veio.
— Então você também deve saber direitinho que tipo de depoimento precisa dar.
— Vai saber.
— Qual é, por que agir assim? Fica tranquilo. Não vou deixar você se machucar por causa disso.
— Quem é que quer se machucar? O Jong-yeol também… o velho deve dar um jeito de livrar ele.
— Dessa vez vai ser difícil, mesmo pro presidente de vocês. A palavra “reincidente” pesa demais diante da lei. A situação está perfeita pra dar uma bela arranhada no Seo Jong-yeol.
— Arranhar um pouco não faz o pau deixar de ser pau. Tanto o velho da minha família quanto aqueles dinossauros do conselho são todos encharcados de falocentrismo.
— Você acha mesmo que eles fizeram isso sem pensar em tudo? Quem você acha que é sua irmã? O Seo Jong-yeol é só um exemplo. Aposto que a essa altura a lista já está toda pronta. Depois de tirar o Seo Jong-yeol do caminho, o próximo passo é ir quebrando o pescoço, um por um, de todos os filhos da puta que não obedecem. Começando por corrupção em contratos de fornecimento, passando por subcontratadas…
Propina, favores sexuais, criação de caixa dois… no fim das contas, todo mundo meteu a mão onde não devia. Não vai faltar quem caia. O presidente de vocês e aqueles cabeças que ocupam cargos altos até ficam roendo as unhas, com medo da empresa que cavaram com as próprias mãos ir pro buraco ou de perderem a própria cabeça… mas a Seo Ju-won não é desse tipo, né?
— É. Com aquele temperamento…
— Mesmo assim, não deixa de ser uma sorte pra você. Apesar de terem vindo do mesmo ventre, ela te trata como se fosse algo precioso demais.
Nesse momento, Seo Han-yeol torceu o cubo mais uma vez e o resolveu de volta à forma original. Girando-o distraidamente entre os dedos, murmurou:
— Talvez eu aproveite a chance pra ser obediente e ganhar um pouco de carinho.
— Oh? Finalmente criou juízo?
— Não. Justamente o contrário.
De repente, Seo Han-yeol lançou o cubo na direção do promotor Yoon. Pegando-o no susto, Yoon franziu a testa, intrigado.
— O que você quer dizer com isso?
Han-yeol não respondeu. Seja lá no que tivesse pensado, um sorriso estranho se espalhou por seu rosto, até então entediado.
Era um rosto que ele não via havia seis meses. Seo Ju-won, que falava ao telefone enquanto fumava, percebeu a aproximação de Seo Han-yeol e apagou o cigarro às pressas. Espalhou a fumaça no ar com a mão e indicou a cadeira à frente com um gesto do queixo.
O Seo Han-yeol de dezenove anos sentou-se em silêncio, apenas aguardando o fim da ligação.
— Então é isso.
Seo Ju-won respondeu o tempo todo em voz baixa. A testa profundamente franzida denunciava que as coisas não estavam correndo como ele queria. Ao esfregar a testa, havia em seus dedos uma ansiedade que antes não se via.
— Então ele acabou entrando mesmo.
Havia na entonação, ao repetir as palavras do outro lado da linha, uma mistura de resignação e irritação. A voz que escapava intermitentemente do celular soava bastante familiar. Devia ser a tia. Nem se lembrava da última vez em que tinham se visto pessoalmente.
Seo Han-yeol permanecia sentado com uma expressão entediada quando chamou o garçom. Estava prestes a pedir algo para beber, mas Seo Ju-won se adiantou.
— Água mineral — disse, interceptando o pedido.
Em seguida, voltou à ligação.
— Fazer o quê? Se foi essa a decisão dos mais velhos da família, não há muito o que se possa fazer.
Quando estava realmente irritado, em vez de elevar a voz, ele a tornava ainda mais baixa. Ou seja, Seo Ju-won estava irritado. O cansaço era visível em seu rosto. E não parecia ser apenas por causa do fuso horário ou do longo voo.
Seo Han-yeol puxou para mais perto de Seo Ju-won o maço de cigarros que estava deixado de lado na mesa. Seo Ju-won o pegou, girando-o distraidamente entre os dedos enquanto encarava Han-yeol. Depois, soltou um suspiro profundo e desviou o olhar.
— Não é que eu esteja tranquilo. É literalmente que não há o que fazer. Vai me expulsar agora, é isso?
Por um bom tempo, a tia despejou sua indignação do outro lado da linha. Seo Ju-won, vez ou outra, olhava para Han-yeol enquanto mexia nervosamente em um cigarro. “Fuma”, disse ele, mas Seo Ju-won apenas apertou o cigarro na mão, sem levá-lo à boca. O “tá bom” saiu fraco, quase como um suspiro.
— Enfim, eu vou cuidar do Han-yeol e volto logo. Até lá, dá uma olhada em tudo pra mim.
Nesse momento, o garçom trouxe a água mineral. Han-yeol empurrou o copo na direção de Seo Ju-won. Ele não recusou e bebeu de uma vez só.
— E então, o que foi agora pra você ficar tão irritado?
— Meu pai arranjou outra mulher.
Seo Han-yeol assentiu, como se não fosse nada demais. Apesar de ter apenas dezenove anos, já estava acostumado ao fato de que, praticamente ano sim, ano não, a parceira do pai mudava.
Não era algo particularmente surpreendente. Depois de passar por um grande choque uma vez, a pessoa acaba ficando anestesiada à maioria dos estímulos. E nada poderia ser mais impactante do que perder os pais de forma repentina ainda tão jovem.
Em contraste, Seo Ju-won reagia com hostilidade a cada mulher que o pai trocava. Seo Han-yeol achava que devia haver circunstâncias de adulto que ele não compreendia. Talvez fosse porque, sendo nove anos mais velho, o apego de Ju-won à mãe falecida fosse ainda mais forte do que o de um irmão mais novo. Os pontos que despertavam a fúria de Seo Ju-won quase sempre estavam ligados à mãe. Não fazia nem um mês desde a morte dela e ele já estava se encontrando com outra mulher; ainda por cima, tentando colocar aquela mulher no lugar da mãe; e, para completar, logo uma amiga dela — tudo girava em torno disso.
— O quê, dessa vez é outra do mesmo nível do capitão Seo?
— Final dos trinta.
— Pelo menos dessa vez ele teve um pingo de vergonha?
— Mesmo assim, só é nove anos mais nova que eu.
— Você nem vai chamar ela de mãe. Que diferença faz a idade?
— Aquela mulher entrou na casa.
Os olhos de Seo Han-yeol, que até então permaneciam calmos, se arregalaram levemente. Desde antes — ou depois — da morte da mãe, o pai nunca deixou de trocar de mulheres, mas jamais tinha levado nenhuma para dentro de casa. Independentemente da oposição de Seo Ju-won, a permissão do avô nunca tinha sido concedida. Por ser algo tão fora do comum, não era estranho que tanto a tia quanto Seo Ju-won estivessem mais sensíveis do que o normal. A partir daí, até Seo Han-yeol passou a se interessar pela nova mulher do pai.
— Ela faz o quê?
— Nada. Não tem profissão, nem patrimônio guardado, largou o ensino médio. Tirando o rosto, não tem absolutamente nada que se aproveite. Não sei como se cuidou até agora, mas não parece alguém à beira dos quarenta.
— Aquele sujeito sempre só enxergou o rosto das mulheres, então a aparência a gente releva. Mas como ela conseguiu entrar na casa? Ficou grávida, por acaso?