A Indulgência da Besta - Capítulo 12
Louise instintivamente percebia se seu oponente era mais forte do que ela e, se suas habilidades fossem equivalentes, quem tinha maior chance de vencer. Esse era um talento que ela havia aprimorado por meio de inúmeras batalhas reais.
Desde o momento em que entrou naquela floresta, não sentiu nenhuma presença que pudesse superá-la. A menos que se aventurassem nas profundezas inexploradas da floresta, algo fora de alcance pelo menos nesta área, ela não tinha nada a temer.
Enquanto avançava, o número de criaturas mirando em Louise e sua carruagem variava, mas a quantidade total permanecia constante. Eram seres inteligentes, que se comunicavam discretamente e se moviam naturalmente.
Após avançar um pouco mais, Louise percebeu que estava sendo conduzida para um vale.
Entre as rochas cinzentas e pontiagudas, havia água rasa, mal cobrindo os tornozelos, estava quase toda congelada, com apenas alguns filetes escorrendo.
Era o pior lugar para mover a carruagem, então Louise parou na entrada do vale e examinou o terreno.
Felizmente, havia um local adequado. Não era exatamente uma caverna, apenas uma depressão um pouco mais funda que o entorno, mas era o suficiente para abrigar a carruagem e os cavalos.
De costas para o abrigo, Louise desembainhou sua espada
Ao ver os monstros que finalmente se revelaram, ela entendeu por que a haviam atraído até ali.
As criaturas, que começavam a surgir, tinham dezenas de pernas que lhes permitiam escalar rochas com facilidade. As menores tinham o tamanho de crianças, e as maiores, tão grandes quanto um homem adulto.
‘Será que se comunicam com aquelas coisas semelhantes a antenas na testa?’
Além disso, Louise precisava estar atenta aos exoesqueletos lisos e brilhantes, que ofereciam excelente defesa, e ao veneno em suas pernas azuladas.
Louise esperou, circulando mana por todo o corpo, deixando as criaturas se reunirem.
No momento em que os monstros sentiram que a situação era “perfeita”, sob sua perspectiva, Louise iniciou o ataque. O ideal seria aniquilar todos, mas se por acaso um ou dois escapassem, ela tomaria precauções para garantir que não sobrevivessem para planejar uma vingança depois.
De olhos semicerrados, Louise ouviu atentamente os sons das criaturas e, então, golpeou como um raio.
A criatura que descia das pedras em direção à carruagem foi cortada ao meio, seu corpo arremessado para longe. Sem hesitar, Louise lidou rapidamente com os outros, que ainda não haviam percebido o que acontecia.
Quando os monstros perceberam que algo estava errado, mais da metade já havia sido eliminada.
Naturalmente, ficaram confusas. A energia que Louise emitia era equivalente à delas, então não a haviam subestimado, mas também não a consideravam invencível.
Agora, estavam em desordem, sem saber se fugiam ou a atacavam.
Louise eliminava sistematicamente os que mostravam sinais de recuo.
Não era difícil. Seja com espada ou lança, imbuir uma arma com mana era tão natural para ela quanto respirar.
A melhor opção era não deixar nenhum escapar. Para isso, aumentou sua velocidade a um nível em que não conseguiam sequer acompanhá-la com seus sentidos.
O som do corte chegou um pouco tarde. Os exoesqueletos resistentes eram fatiados como tofu, e líquido escuro respingou no chão com um som úmido. O ar ficou pesado com um nevoeiro de sangue e um odor repugnantemente pútrido.
Chirrr…
Agora, nenhuma criatura ousava revidar.
Estavam paralisadas de medo, como se tivessem encontrado um inimigo natural, tremiam ou tentavam fugir desesperadamente.
Como não podia se afastar demais da carruagem, Louise acabou deixando uma escapar. Ela já estava longe desde o início, o que dificultou a perseguição.
Estalando a língua, Louise balançou a espada de lado para remover o líquido.
Após embainhar a espada, foi verificar a carruagem. Tinha prestado muita atenção nela durante a luta, e nenhum monstro havia se aproximado, mas precisava confirmar a segurança de Licht para se tranquilizar.
Felizmente, estava completamente intacta, e Licht, dentro do caixotão, parecia dormir pacificamente. Louise encarou seu rosto por um momento antes de sair novamente.
Ela não podia permanecer em um lugar repleto de cadáveres de monstros, então procurou mais adiante e, com sorte, encontrou um esconderijo para a carruagem e os cavalos.
Parecia uma toca usada por um grande animal, talvez um urso. O espaço interno era amplo, e por estar rio acima do campo de batalha, havia fácil acesso à água.
Aquilo bastaria por um ou dois dias.
Como o sol estava prestes a se pôr, era hora de começar os preparativos. Louise colocou pedras imbuídas com poder sagrado ao redor da toca e cobriu a entrada com um pano para bloquear o frio.
Separou os cavalos para descansar e colocou pedras sob as rodas da carruagem para evitar que se movesse. O interior do veículo, forrado com feno macio, era melhor para descansar do que o chão frio e úmido, então Louise planejava repousar ao lado de Licht.
Ao terminar, soltou um longo suspiro.
Já estava preparada para isso desde que entrou na floresta, mas doía deixar Licht em tais condições frias, onde a água do vale já congelava.
Preocupada se ele conseguiria sobreviver àquele ambiente tão rigoroso, especialmente após ter escapado por pouco da morte. Embora os monstros não fossem mais um problema, não podiam arriscar atrair a atenção dos clãs Melbeth ou Rugaru, então acender uma fogueira estava fora de questão.
Além disso, o fato de Licht não ter comido nada a deixava inquieta.
Louise, conseguiu pingar água em sua boca, que ele engoliu com dificuldade, mas só isso.
Quando tentou alimentá-lo com frutas amassadas, ele não conseguiu engolir. Ao ver a expressão dolorida em seu rosto, Louise entrou em pânico e colocou a própria língua em sua boca para sugar o purê.
Parecia que ela precisaria tentar alimentá-lo com mingau novamente, mas cozinhar era impossível naquela situação, o que só aumentava sua angústia.
‘Licht cuidou tão bem de mim…’
Pensar no garoto que tinha cuidado dela com tanta ternura, mesmo em condições muito piores, fazia Louise se sentir incrivelmente culpada e envergonhada.
Enquanto limpava os lábios de Licht com um pano embebido em água de seu cantil, ela olhou para seu próprio pulso.
‘Parece que… funcionou aquela vez, certo?’
Com Licht sem conseguir beber nada além de água, e considerando que seu sangue já havia ajudado a curar ferimentos dele uma vez, talvez fosse uma boa ideia repetir a dose.
Como da última vez não houve consequências negativas, parecia uma ideia razoável, ao menos daria a ele algum nutriente.
Olhando alternadamente para o rosto pálido de Licht e para seu pulso, Louise tomou uma decisão rápida.
Apenas o equivalente a meio copo d’água.
Embora se preocupasse se ele suportaria, Licht engoliu o sangue que ela derramou em sua boca sem problemas.
— Licht…
Grata, Louise abraçou o homem com força. O frio de sua pele contra sua bochecha fazia o coração dela doer.
Não é hora para isso.
Louise rapidamente se despiu, ficando apenas de roupa íntima. Retirou as externas de Licht, deitou o homem em um saco de dormir e se enfiou ao lado dele. O saco, feito para caber até os maiores Cavaleiros Sagrados, ainda parecia apertado com a estatura de Licht.
‘Pelo menos assim posso mantê-lo aquecido…’
Nem metade do dia havia passado desde que Louise se sentia culpada por usar o corpo inconsciente de Licht para satisfazer seus próprios desejos, agora se via abraçando o homem novamente, sua pele contra a dele.
A essa altura, Louise começava a aceitar o seu destino…
‘Esqueça a punição. Se Licht se recuperar em segurança, eu deveria simplesmente morrer.’
Execução era o único destino digno para alguém tão desavergonhada quanto ela.
Como mais poderia expiar todos os pecados que acumulara — e os que certamente se amontoariam nos próximos dias?
Além disso, Louise estava cada vez mais ciente…
Quanto mais tempo passava ao lado de Licht, mais seus sentimentos por ele mudavam. Por mais doloroso que fosse, também era uma bênção poder tê-lo só para si e ver sempre seu rosto.
Apesar de outrora acreditar que a segurança e felicidade de Licht eram sua prioridade máxima, e que seu próprio bem-estar não importava, ela já não conseguia suprimir seu desejo por ele.
Já não tinha mais certeza de quando poderia perder o controle de novo e pressionar seu corpo contra o dele.
Mesmo agora, seu tolo coração batia forte de excitação e tensão. Embora compartilhassem o calor do corpo, ainda eram apenas estranhos.
Vamos apenas dormir logo.
Era a única forma de evitar novos pecados.
Felizmente, o cansaço acumulado e o calor que Licht emanava logo a fizeram adormecer.
Porém, o sono não durou muito…
— Hã?
Em algum momento, ela acordou, sentindo um olhar persistente. Ao abrir os olhos lentamente, encontrou os de Licht, seus belíssimos olhos violeta, como joias, fixos nos dela.
(Elisa: Louise se torturando e ao Licht também 😅😅)
Continua…
Tradução Elisa Erzet