A Batalha pelo Divórcio - Capítulo 09
— O quê? O que foi que você acabou de dizer? — a voz da Viúva Waldeck, tia de Maxim, tremia de incredulidade.
— Fazer sexo, é claro. — Maxim von Waldeck repetiu com sua postura habitual e precisa, tornando as palavras vulgares quase clínicas.
COF COF.
A sala de jantar explodiu em uma sinfonia de tosse quando Daisy se engasgou com a comida, as bochechas queimando intensamente de vergonha diante da resposta desavergonhada dele.
— Izzy, você está bem?
— E-Eu estou bem… — ela respondeu, mal conseguindo encarar alguém.
— Devagar, com calma. Não há necessidade depressa.
Como um médico que primeiro aplica o veneno e depois oferece o antídoto, Maxim sentou ao lado dela e gentilmente lhe entregou um copo d’água.
— Beba devagar. Até a água pode fazer mal ao estômago se você beber muito rápido.
Sua preocupação excessiva era sufocante. Apesar de ter sido ele a proferir uma declaração tão escandalosa, Maxim parecia alheio, enquanto todos na sala focavam intensamente nela com olhos cortantes. A tia de Maxim, e suas criadas observavam com um julgamento tão penetrante que lágrimas ameaçaram brotar dos olhos de Daisy.
— Esse menino está completamente enfeitiçado. — a Viúva zombou, estalando a língua de desgosto. — Não consigo entender o que há de encantador nessa coisinha sem graça.
— Tia.
A única palavra saiu baixa e perigosa.
Daisy olhou para o marido, surpresa. Seus olhos haviam se tornado sombrios e intensos, queimando com uma raiva mal contida. Talvez o vinho tivesse soltado seu autocontrole, embora, mesmo sóbrio, ele fosse imprevisível. Agora, com o olhar levemente desfocado, ele irradiava algo muito mais ameaçador.
— A governanta Karen não passou minha mensagem?
Sua pergunta cortou o ar como uma lâmina.
— E que mensagem seria essa?
— Após trinta anos de serviço, ainda falta a ela o mínimo de compreensão básica? Tal incompetência merece demissão imediata.
O rosto da Viúva se contorceu com suas palavras duras, mas Maxim prosseguiu sem a menor hesitação.
— Eu serei perfeitamente claro. — disse ele, com voz fria e inflexível. — Não fale mal da Grã-Duquesa, minha esposa, de forma alguma. 🥰🥰
O ar da sala pareceu congelar.
— Maxim… como ousa falar comigo desse jeito?
— E por que não faria?— Ele a encarou, com seu olhar afiado e zombeteiro, o rosto ficou vermelho de indignação. — Você acaba de insultar minha esposa, não posso ficar em silêncio, mesmo que eu te estimo como uma mãe.
O silêncio se estendeu entre eles.
— Considere este seu único aviso antes que eu cruze limites que prefiro evitar. Fui claro?
Suas palavras diretas a deixaram sem fala e atordoada. Daisy se viu igualmente perdida e boquiaberta. Embora apreciasse sua defesa, ele realmente precisava desencadear um confronto tão feroz? Mesmo levando em conta o vinho e o temperamento passional, a raiva dele ardia como fogo descontrolado.
— Como novo senhor de Waldeck, desejo cuidar de você com a mesma ternura que dedicaria à minha própria mãe, tia. Espero que me ajude a tornar isso possível.
A sala de jantar permaneceu congelada, como se alguém tivesse derramado um balde de água gelada sobre todos os presentes. Profundamente ofendida, a Viúva jogou o guardanapo sobre a mesa e saiu furiosa. Maxim se virou para Daisy com um sorriso vitorioso, claramente satisfeito consigo mesmo.
— Daisy von Waldeck.
— S-Sim…?
Seu coração pareceu parar ao ouvir seu nome completo dito de forma tão formal. Havia algo de sinistro nisso, que a fez prender a respiração.
— Me diz o que você deseja.
— O que eu desejo?
— Tudo o que estiver ao meu alcance é seu. Por favor, fale diretamente sem hesitar. 🥰
‘Só me conceda o divórcio.’ — pensou. Mas seria inútil dizer isso, ele jamais aceitaria.
A pergunta inesperada a pegou desprevenida, exigindo um momento de consideração cuidadosa. Finalmente, ela respondeu:
— Gostaria de visitar meu pai. Faz muito tempo que não o vejo.
Mas antes, precisava enfrentar aquele canalha do Thereze — o responsável por forçá-la a essa situação impossível.
🌸🌸🌸
— Seja bem-vindo, Grão-Duque Waldeck, o herói que preservou nosso reino.
Na mansão Thereze, o Conde Thereze pousou a mão sobre o peito num cumprimento exageradamente cortês. Ele era o superior de Daisy, líder da organização secreta CLEAN, e interpretava atualmente o papel de seu pai.
— Sua vitória sem precedentes merece nossas mais profundas congratulações, Vossa Graça. A glória do reino permanece intacta graças aos seus esforços.
— Está me honrando demais. — respondeu Maxim com um leve sorriso, aceitando o elogio vazio.
Palavras vazias fluíam entre eles com uma facilidade praticada. O Conde Lucas Thereze mantinha perfeita cortesia em público, enquanto comandava secretamente a organização clandestina da Facção Revolucionária. Mesmo após eliminar os apoiadores da Monarquia, ele ainda era capaz de bajular e gracejar sem revelar nada – uma verdadeira cobra em pele humana.
— O que traz o herói do reino a esta humilde casa?
Uma visita noturna, sem aviso, violava todas as regras de etiqueta adequada. Embora fosse reconhecida pela sociedade como filha ilegítima do Conde, sua condição de mulher casada tornava o ato ainda mais impróprio.
“Por que não esperamos até amanhã? Não pude avisar com antecedência, e você bebeu…”
“É exatamente por isso que devemos ir agora, enquanto ainda consigo clarear a mente.”
Ela não quis dizer que deveriam sair imediatamente, mas Maxim permaneceu teimoso, apesar de seus protestos.
“Ainda assim, talvez devêssemos…”
“Se eu for direto para o quarto nesse estado, não posso garantir que a deixarei em paz essa noite, Izzy. Você prefere isso?”
Ele sabia usar ameaças com maestria. No fim, trazer essa arma viva até a mansão de Thereze, mesmo estando bêbado, talvez fosse o menor dos males — e esse raciocínio que a trouxe, relutantemente, até ali.
— Minha Izzy sentia muita falta do pai, então eu a acompanhei.
— Ah, é mesmo? — o Conde Thereze olhou para Daisy com uma afeição melosa. — Você deve ter sentido bastante saudade do seu pai, minha querida filha.
‘Esse desgraçado está mesmo sorrindo? Depois de tudo que me fez passar?’
O fingimento dele a fez ferver de raiva por dentro. Embora raramente usasse palavrões, seu chefe insuportável expandia consideravelmente seu vocabulário de xingamentos. Ela ardia em vontade de desferir todos os insultos vis que conhecia, mas forçou-se a permanecer calma.
Já que ele insistira em vir, ela precisava manter o papel.
— Sim, pai. Senti sua falta mais do que posso expressar.
Daisy sorriu entre dentes, fingindo ser uma mulher movida pela saudade familiar, enquanto a raiva fervia sob a superfície.
A vitória decisiva de Maxim havia transformado a reputação do Conde Thereze em todo o reino. Ele passou de homem insensível que sacrificou à filha para o tolo sortudo cuja vida mudou por pura sorte. Qualquer uma das interpretações fornecia à nobreza ociosa um delicioso boato tingido de superioridade.
Enquanto mantinha sua atuação impecável, Daisy lançou um olhar cauteloso ao marido.
Ele não está agindo como eu esperava.
Temia que Maxim agisse de forma tão ridícula aqui quanto em Waldeck, transformando tudo num espetáculo.
A mera ideia de suportar as provocações do Conde já a exauria. No entanto, Maxim mostrava uma estranha indiferença diante do “pai” dela.
‘Será que ele desconfia de algo?’
Ela implorou para vir sozinha, mas ele teimosamente se recusou a deixá-la. O homem que normalmente a cobria com atenção agora permanecia quase em silêncio, falando apenas quando estritamente necessário.
— Por favor, sentem-se. Estas folhas de chá chegaram recentemente da Ásia e têm um aroma maravilhoso.
— Minhas desculpas, mas chá não me cai bem.
— Então talvez eu possa preparar outra coisa?
— Não será necessário. — sua resposta foi curta e seca.
Ele definitivamente está em alerta. Quanto mais Daisy o observava, mais certa ficava disso.
Nunca vou entender este homem confuso.
Embora ele tivesse recém-retornado, duvidava que algum dia compreenderia essa pessoa desconcertante, não importa o quão de perto a estudasse.
— …
A sala de visitas mergulhou num silêncio desconfortável. Apenas o som suave do mordomo servindo chá quebrava o ar pesado.
‘Preciso falar com aquele canalha do Thereze em particular.’
O assunto daquela noite não podia ser discutido na frente do marido. Depois de refletir, ela falou com hesitante:
— Max?
— Sim, Izzy?
O rosto dele se iluminou instantaneamente assim que ela usou seu apelido.
— O Jardim de Rosas aqui da mansão é realmente magnífico. Gostaria de vê-lo?
— O Jardim de Rosas? — ele repetiu.
— É um dos meus lugares mais queridos, e adoraria compartilhá-lo com você. — Ela fez a sugestão com delicadeza, enquanto olhava significativamente para o Conde Thereze. — Este cavalheiro pode acompanhá-lo até lá.
O mordomo que servia o chá fez uma reverência discreta, entendendo o comando silencioso de seu mestre.
— Você vem comigo, Izzy?— perguntou Maxim.
Ele estava genuinamente confuso ou apenas fingia? Os nobres normalmente preferiam comunicação direta, o que explicava sua frase cuidadosa, mas Maxim parecia imune a tais sutilezas.
— Preciso de um momento a sós com meu pai. — explicou Daisy. — É nosso primeiro encontro desde o casamento.
— Então talvez pudéssemos tod—
— O mordomo lhe mostrará o jardim com prazer. — interrompeu ela, firme, com um gesto decidido. — Por favor, aproveite o passeio…
E, como se lhe concedesse um privilégio especial, inclinou-se e sussurrou uma única palavra como um feitiço mágico:
— … Querido.
A expressão usualmente controlada dele ficou vermelha na hora. ❤️❤️
— Vou explorar, então. — ele levantou-se rapidamente. — Espero que você e seu pai tenham uma conversa significativa.
Antes de sair, se inclinou e murmurou algo que fez o rosto de Daisy corar instantaneamente:
— Voltarei logo, querida. — disse o homem, ao se afastar.
Aquele último sussurro pairou no ar, mantendo o rosto de Daisy corado muito tempo depois que ele partiu.
Continua…
Tradução: Elisa Erzet