A Batalha pelo Divórcio - Capítulo 08
‘O quê? Mostrar? Esse homem perdeu o juízo?’
A cor sumiu do rosto de Daisy até que ela ficou parecendo um fantasma.
— N-Não… Não… É assustador demais…
A voz dela falhou enquanto as lágrimas ameaçavam cair, e ela empurrou freneticamente as mãos de Maxim quando ele tentou abrir o robe para mostrar suas partes íntimas.
— Ah, quase cometi outro erro. Obrigado por me impedir. Foi apenas um reflexo, por favor, não se preocupe com isso.
Reflexo? Como alguém pode não se importar em mostrar algo tão íntimo?
Daisy queria gritar com ele, questionar como poderia falar com tanta naturalidade, mas engoliu as palavras. Temia que ele respondesse com aquele seu sorriso insinuante, despreocupado e confiante — talvez até exibindo sua ereção, como se dissesse que ela era livre para olhar à vontade se isso a incomodava tanto.
— Não foi minha intenção te perturbar, Izzy. A culpa foi toda minha. Por favor, não chore.
Pelo menos ele estava prestando atenção enquanto as lágrimas dela caíam. Mas ele fez mais do que apenas ouvir — pediu desculpas repetidamente e até prometeu que nunca mais a tocaria sem que ela lhe desse permissão.
Daisy expirou lentamente, grata que o raciocínio astuto de Vicky tinha ajudado a evitar uma catástrofe.
— Me diga quando estiver pronta para conversar. — Disse Maxim.
Daisy assentiu levemente, embora suspeitasse que aquele momento talvez nunca chegasse.
— Você deve estar com fome agora, não é?
— O quê? Ah, não, estou bem…
Um ronco baixinho surgiu de seu estômago, traindo sua tentativa de manter a compostura. Suas bochechas coraram de vergonha, o calor se espalhando até as orelhas.
— Você está com fome — disse Maxim com um sorriso brincalhão. — Chorar sempre abre o apetite.
— ……
— Sentir fome só vai piorar seu humor. Que tal uma boa carne para o jantar?
Embora a ideia de comer enquanto se sentia daquela maneira parecesse impossível, uma dor vaga e vazia persistia em seu estômago. Ela tinha perdido completamente o jantar quando Maxim invadiu o quarto mais cedo, insistindo que se preparassem para a noite de núpcias.
— O que acha de um Carré d’agneau?
‘Costeleta de cordeiro ao estilo francês?’
Enquanto tudo mais tinha sido decepcionante, a sugestão, na verdade, soava realmente maravilhosa. A carne de cordeiro era, por acaso, um dos pratos favoritos de Daisy, e só de imaginar seu sabor intenso, sua boca se encheu de água involuntariamente.
— E de sobremesa, mousse de chocolate?
Como ele poderia saber? Mousse de chocolate era outra iguaria que ela adorava. Com uma precisão assombrosa, Maxim listava todas as suas comidas favoritas numa tentativa de confortá-la.
Como este homem conhece meus gostos tão perfeitamente? Ele mandou alguém me investigar?
O casamento deles tinha sido apressado, seguido quase imediatamente por sua partida para a batalha. Não poderia ter havido tempo suficiente para uma observação tão cuidadosa.
Um leve sussurro de preocupação persistia em sua mente, mas ela disse a si mesma que devia ter sido apenas uma coincidência. Por outro lado, ele poderia simplesmente ter perguntado aos empregados da casa. De qualquer forma, fosse ela ignorada ou discretamente observada, ela pretendia aproveitar aquela refeição.
Daisy era conhecida por seu apetite, tão entusiasmado que a Condessa viúva Waldeck frequentemente a criticava por comer demais. Suas preferências alimentares eram igualmente evidentes, já que ela nunca conseguira esconder a alegria genuína que iluminava seu rosto durante as refeições.
Mesmo agora, ela não conseguia esconder a expectativa pelo carré de cordeiro à francesa e pela mousse de chocolate.
— Bem… está bom, então — concordou Daisy com cuidado, tentando soar hesitante. O rosto de Maxim se iluminou de alívio.
— Fico contente que você concordou. Providenciarei isso imediatamente.
Em momentos como esse, ele parecia completamente inofensivo, e Daisy se sentiu tola por ficar tão assustada.
‘Mesmo que ele seja um tanto instável, não parece mau, — ela raciocinou. Pessoas que te dão comida geralmente são boas, não é?’
Assim que Daisy começou a se sentir mais à vontade, a boca de Maxim se curvou naquele sorriso torto e perspicaz enquanto ele a segurava contra si.
🌸🌸🌸
A sala de jantar da mansão Waldeck parecia opressivamente pequena, apesar da promessa de Maxim de uma refeição simples. Um jantar formal completo havia sido preparado quase que instantaneamente e, com apenas mais uma pessoa presente, o espaço parecia se fechar ao redor deles.
Daisy mantinha na boca um pequeno pedaço do carré de cordeiro à francesa perfeitamente cortado, mastigando sem parar, incapaz de reunir coragem para engolir.
‘Como posso engolir quando aqueles olhos me observam tão atentamente?’
Mais precisamente, ela achava impossível comer direito sob o peso de dois olhares tão diferentes.
Maxim von Waldeck, por algum motivo, havia decidido não comer nada. Em vez disso, concentrava toda a atenção em verificar se Daisy estava se alimentando o suficiente.
Enquanto isso, a viúva Waldeck, tia de Maxim observava cada garfada que Daisy dava, se certificando de que ela não comesse mais do que o apropriado. Esses olhares conflitantes mantinham Daisy prisioneira.
Embora fosse mais tarde do que seu horário habitual de jantar, a Viúva Waldeck também havia perdido sua refeição noturna quando Maxim chegou inesperadamente. Sua presença neste jantar formal tornou a atmosfera ainda mais desconfortável.
— Izzy…
Os olhos de Daisy se arregalaram quando Maxim de repente usou seu apelido.
— Você não disse que gostava?
Impulsionada a responder, Daisy lutou para engolir o que estava mastigando.
— Perdão?
— A seleção do cardápio desta noite.
— Sim, eu gosto.
Maxim ainda parecia duvidar.
— Então por que você não está comendo direito? — perguntou, com o rosto sério.
Sentindo-se encurralada, Daisy conseguiu ensaiar um sorriso forçado.
— Mas eu estou comendo.
— Não com verdadeiro apetite. Não como se você estivesse a fim, — ele insistiu.
— Isso é…
‘Porque você está me deixando incrivelmente nervosa,’— ela quis explicar, mas não conseguiu dizer. Daisy hesitou, tentando encontrar as palavras certas.
‘Por que ele está me questionando assim? Ele está bravo comigo?’
Mas… isso é realmente algo para se zangar? A situação toda parecia ridícula.
— Eu… fiz algo para te aborrecer? — arriscou ela, suavemente.
— Não, de maneira nenhuma. Estou apenas preocupado que você possa não estar se sentindo bem, Izzy.
Um calor suave se espalhou pelo peito dela. Sua expressão severa a havia levado a pensar que ele estava bravo.
Desde o início, seu papel exigia que ela se apresentasse como Daisy Thereze, agora Daisy von Waldeck, uma mulher delicada e facilmente amedrontada. Ela havia sido cuidadosa em manter essa imagem comendo bem pouco. E ser observada tão de perto tornava engolir algo realmente difícil.
— Eu me sinto perfeitamente bem. Não dói nada. — assegurou ela.
— Verdade? Você está comendo menos do que o habitual. Será que deveríamos chamar o médico?
Ele estava certo. Ela estava comendo menos do que o normal. Mas como ele poderia saber disso?
Ele nunca a viu comer antes de hoje.
Talvez as frequentes reclamações da condessa viúva sobre seu apetite tenham chegado até ele. Se ele tivesse questionado os empregados, eles não teriam dificuldade em descrever em detalhes vívidos suas porções habituais.
— Estou comendo bem, então não há motivo para se preocupar — disse ela com um leve sorriso. — Mas por que o senhor não está comendo, Vossa Graça? A comida não é do seu agrado?
Ele está basicamente jantando vinho, pensou Daisy com incredulidade.
O semblante de Maxim escureceu ainda mais com a pergunta dela.
— Max — disse ele em voz baixa.
Daisy enrijeceu com o tom profundo e áspero.
— Acredito que concordamos que você me chamaria de Max, não foi?
— S-Sim, mas…
Ele está fazendo escândalo por causa de um nome?
O humor instável desde homem deixava ela tonta, impossível de prever. Ela queria concordar, de verdade, mas o olhar frio da Condessa Viúva fazia tudo parecer ainda mais sufocante. Como ela poderia explicar isso? A última coisa que queria era piorar uma situação já desconfortável.
Ela soltou uma risada forçada, sem saber o que mais fazer.
— Então, talvez devêssemos usar um nome ainda mais íntimo — sugeriu Maxim.
— Íntimo?
— Sim. O que acha de me chamar de “querido”?
— …
Daisy ficou muda, atordoada com a rapidez com que suas sugestões se tornavam mais ousadas.
— Você não gostou, querida?
— E-Eu apenas vou te chamar de Max — ela sussurrou.
Não era algo difícil de fazer. Não havia necessidade de criar complicações desnecessárias.
— Eu também gosto de “querido”. Me avise se algum dia você mudar de ideia.
‘Como se eu fosse.’
Maxim sorriu, passando a língua lentamente pelos lábios em uma falsa decepção. Daisy, que mal havia tocado na comida, já se sentia completamente exausta.
Como era de se esperar, a condessa viúva Waldeck lançou um olhar de puro repúdio do outro lado da mesa, como se tivesse acabado de presenciar algo totalmente indecente.
— Estou me alimentando perfeitamente, Max. Você deveria parar de me observar e comer algo também. Sua comida está esfriando.
— Izzy, você está realmente preocupada comigo? — perguntou Maxim, com um tom leve e divertido.
Ele tinha um talento notável para distorcer cada palavra a seu favor.
— N-Não, não foi isso que eu quis dizer…
— Isso me deixa tão feliz que você se importa com o meu bem-estar.
— Por favor, coma alguma coisa.
— Estou comendo. Além disso, só de observar você aproveitando sua refeição já é o suficiente para me satisfazer.
Mas ele só esteve bebendo vinho esse tempo todo! A menos que o álcool por si só fosse suficiente para saciar, ele não havia comido nada de fato. Suas bochechas já estavam vermelhas, seja pelo vinho ou de genuína felicidade por sua preocupação.
Ele já era imprevisível o bastante quando estava sóbrio. Daisy se preocupava com o quão assustadoramente errático ele poderia se tornar embriagado. Ou talvez ele esteja apenas dizendo coisas ridículas porque está bêbado.
Daisy não conseguia aproveitar sua refeição em paz, sentindo como se estivesse jantando ao lado de um dispositivo explosivo.
Ainda assim, ciente do tormento que enfrentaria se não comesse, ela colocou relutantemente mais um pedaço de carne na boca e mastigou sem entusiasmo.
— Isso está muito melhor do que antes, quando você comia de maneira tão grosseira.
Comentou a tia de Maxim, de forma incisiva, o que levou Maxim a perguntar:
— O que você quer dizer com “grosseira”?
— Devorando a comida sem vergonha, como uma mendiga das ruas. De que adianta uma mulher com um apetite tão grande?
— Ah, você está se referindo à Izzy? — Maxim soltou uma risada fria e sem alegria ao ouvir os supostos defeitos de sua esposa serem expostos. — Na verdade, acho o apetite saudável dela bastante encantador. Vê-la aproveitar suas refeições com tanto entusiasmo me faz sentir mais vivo também.
Ela come adequadamente, mas chamar isso de devorar era um exagero ridículo, pensou Daisy indignada. Isso é um completo absurdo. Se sentia injustamente acusada. Por mais que refletisse, aquilo era claramente calúnia. Eles estavam, sem dúvida, fazendo exageros absurdos sobre seus hábitos alimentares.
— Além do mais, ela vai precisar de bastante energia para acompanhar meu ritmo no quarto — acrescentou Maxim, fazendo um comentário ainda mais escandaloso.
Continua….
Tradução Elisa Erzet