A Batalha pelo Divórcio - Capítulo 02
〈 MISSÃO 1: Tornar-se a esposa de fachada do Grão-Duque Maxim von Waldeck…〉
Essa missão absurda começou no dia em que ela decidiu se aposentar.
Ao amanhecer, Daisy orava em uma pequena capela. Com as mãos juntas, murmurava baixinho:
— Querido Pai Celestial, cometi muitos pecados, mas… prometo que nunca mais matar ninguém. A partir de agora, levarei uma vida boa e justa.
Sua oração estava cheia de arrependimento pelo passado e de um juramento para se tornar uma nova pessoa.
… Porque, desde o início, Daisy não era exatamente “Daisy”.
[ Codename: Easy ]
Ela já foi a assassina de elite de uma organização revolucionária secreta chamada “Clean”.
Seu trabalho era eliminar os “cães” da monarquia. Não tinha lembranças dos pais. Como órfã, foi treinada desde pequena para ser uma agente, e sequer teve um nome verdadeiro. A organização a chamava de “Easy” porque ela eliminava seus alvos com facilidade. Fora dela, usava identidades falsas adaptadas às suas missões. Sempre aceitou sua função como algo natural, sem grandes queixas.
[Daisy]
— … Daisy.
Interrompendo sua oração, ela tocou inconscientemente o entalhe na cruz e sussurrou o nome para si. Lembrou-se do dia em que se tornou “Daisy”.
Na época em que era conhecida como “Easy”, ou melhor, quando atuava sob o nome “Bárbara Austin” em sua última missão, ela possuía uma grande fraqueza: era completamente vulnerável a bebês e animais.
“Aghhh—!”
Aquele homem era um informante da monarquia e responsável pela morte de vários de seus companheiros. Por isso, era o alvo do dia. Mas logo após cumprir a missão, Easy ouviu o choro de um bebê vindo de outro cômodo e entrou em pânico.
O alvo que acabara de matar era o único responsável pela criança. Se a deixasse ali, o bebê choraria até a exaustão e morreria de fome.
“O que eu faço?”
Sem escolha, pegou o bebê, mas, ao sair, foi atingida na lateral por uma faca — um dos comparsas do alvo havia sobrevivido. Ela havia baixado a guarda. Eliminou o inimigo rapidamente. O ferimento não era profundo, mas o problema real era o veneno na lâmina.
Planejava deixar o bebê em um orfanato, mas perdeu a consciência ao chegar lá.
“Está acordada?”
Estranhamente, o primeiro pensamento que teve ao recuperar a consciência foi de alívio. Já havia tirado inúmeras vidas com facilidade, repetidas vezes. No entanto, ali estava ela, absurdamente grata por estar viva.
Mesmo atordoada, soltou uma risadinha vazia.
Quando abriu os olhos para uma presença desconhecida, deparou-se com um par de olhos preocupados. Uma mulher de meia-idade, vestindo um hábito de freira, olhava para ela.
“Sou a Irmã Sophia. Qual é o seu nome, querida?”
‘Nome. Um nome, hum? Eu não tenho um. O que digo?’
Enquanto pensava, seu olhar pousou sobre as margaridas no vaso ao lado da cama.
“… Daisy”.
Naquele momento, foi apenas uma palavra aleatória que escapou de seus lábios, como se estivesse agarrando-se a algo, ansiosa por uma resposta.
“Meu nome é Daisy.”
E assim, graças à Irmã Sophia — a mulher que salvou sua vida — “Easy” renasceu como “Daisy”.
O pequeno convento ficava escondido em uma vila nas montanhas, acolhendo órfãos que não tinham para onde ir. Daisy vivia lá há um ano, ajudando as freiras nos afazeres e ensinando as crianças. Os dias eram simples, mas cheios de paz e contentamento.
— Por que está rezando com tanta concentração?
Perdida em pensamentos, Daisy sobressaltou ao ouvir uma voz ao lado.
Era a Irmã Sophia.
— Ah, irmã… Eu só… não consegui dormir. Às vezes rezar me ajuda a pegar no sono.
— Eu sei. É por isso que também vim aqui — respondeu, sentando-se ao seu lado.
— Irmã… você acha que alguém como eu, vai para o Céu?
Era a mesma pergunta que Daisy fazia há um ano. E, todas às vezes, a Irmã Sophia respondia com a mesma suave tranquilidade:
— Claro. Todos podem ser salvos.
— Mesmo com tudo o que eu fiz? Ainda posso ser perdoada?
Ao ver que Daisy ainda duvidava, a irmã sorriu com doçura, os olhos cheios de ternura:
— Não se preocupe, minha querida. O que importa não é quem você foi, mas quem você é agora.
Será mesmo? Mesmo depois de tantas vidas tiradas, Deus ainda poderia perdoá-la?
Ela se arrependia e orava todos os dias, mas a dúvida persistia.
Cada alvo era a família de alguém amado profundamente por outra pessoa. Quando passou a sentir isso pessoalmente, quis esquecer todo o seu passado. Não tinha certeza se seria perdoada, mas podia fazer um juramento a si mesma:
Nunca mais tiraria outra vida.
— Com licença, irmã, tem alguém querendo ver a senhorita Daisy.
Naquele momento, outra freira apareceu na capela, anunciando uma visita.
— A essa hora? Quem poderia ser? Não conheço ninguém que viria me ver.
Os olhos de Daisy se arregalaram.
— Ele disse ser… o pai da senhorita Daisy.
Ao se virar, viu um homem de meia-idade, de aparência astuta, encostado na entrada da capela, acenando para ela com um sorriso debochado.
— Quanto tempo, minha filha. 😒
Conde Therese, o líder da organização secreta revolucionária “Clean”.
Ele era o ex-chefe de Easy e um visitante indesejado para Daisy.
Claro, eles não eram pai e filha de verdade.
— Como você me encontrou?
Eles saíram da capela e, assim que Daisy teve certeza de que estavam sozinhos, exigiu uma resposta do Conde Therese.
— Ei, que maneira é essa de falar com seu pai, hein?
— Quem disse que eu te chamaria de “pai”?
— Você conhece minhas habilidades. Informação é o meu ganha-pão. Claro que eu te encontraria.
O Conde Therese deu de ombros, como se não fosse grande coisa, mas Daisy estava profundamente irritada. Se esforçou tanto para sumir, e mesmo assim foi encontrada.
Mesmo com seu olhar mortal, ele continuava sorrindo.
— Não me olhe assim. Que tipo de pai não se preocupa quando a filha não volta para casa? E Easy, sério… o que é isso tudo? Virou santa enquanto eu não estava olhando?
Quando tentou tocar o colar em forma de cruz no pescoço de Daisy, ela afastou sua mão com um tapa.
— Eu te escrevi. Estou aposentada. Não perca seu tempo me procurando.
— Não lembro de ter recebido nenhuma carta.
Na verdade, foi mais um “aviso unilateral”. Ela tinha deixado claro: não mataria mais ninguém novamente, então não poderia voltar para aquela vida.
— Mesmo assim, suas habilidades continuam afiadas. Admito que foi difícil te rastrear. Demorei um ano, não esperava por isso.
— Por que fala como se isso fosse elogio?
‘Senhor… Sua filha está prestes a cometer um último ato inevitável de violência.’
Daisy tirou o grampo de cabelo, e seus fios se soltaram do coque, caindo em cascata sobre suas costas. Em um piscar de olhos, apontou a ponta afiada diretamente à artéria carótida do conde.
— Habilidades assim não desaparecem tão fácil.
— Uau. Calma, Easy! Eu entendi!.
— Parece que alguém ficou confiante demais vindo aqui sozinho.
— Sem muitas explicações. Você descansou bastante. Hora de voltar ao trabalho.
— Eu não vou fazer isso.
Daisy recusou categoricamente.
— Por que não me contou que o alvo tinha um filho?
— Não omiti de propósito. Parece que nosso informante vacilou. Peço desculpas por isso.
O Conde Therese admitiu o erro, colocando a mão no peito e inclinando a cabeça em um gesto exagerado de desculpas.
— Mesmo assim, os cães da monarquia precisam ser eliminados. Com ou sem filho não muda a missão.
— ….
— Você está ficando mole demais.
Vendo-a em silêncio, ele estalou a língua, frustrado.
— Tanto faz, estou fora. De agora em diante, só quero viver normalmente — me apaixonar, ter um trabalho comum e uma vida simples e pacífica. Então, por favor, me deixe em paz.
— Você conhece as regras, Easy. Desobedecer ordens significa execução. Sem exceções.
— Então vá em frente, me mate.
— Continua teimosa como sempre.
Conde Therese suspirou fundo e continuou:
— Então, se assassinato está fora de questão, tenho outra missão para você.
— E o que seria?
Daisy franziu a testa.
Que outra opção existiria para um assassino se não fosse matar?
— É simples. A partir de agora, você é minha filha secreta. Precisa assumir o papel de noiva e se casar, receber o pagamento e, logo depois, estará livre.
— Casamento e liberdade não combinam.
— Neste caso, sim. Seu marido vai para a guerra logo após o casamento, como bucha de canhão. Vai morrer antes mesmo da noite de núpcias. Você será viúva rapidinho.
‘Os negócios devem estar muito ruins. Assassinatos não estão vendendo, então agora ele está bancando o cupido.’
Daisy o encarou, incrédula. Mas o conde apenas arqueou as sobrancelhas e continuou:
— O nome do seu marido é Maxim von Waldeck.
— Não estou interessada. Saia daqui enquanto ainda estou te deixando sair.
Ela afastou o grampo do pescoço dele e o empurrou.
— A recompensa é de um milhão de ouro.
Os olhos de Daisy se arregalaram com o valor absurdo.
— Um presente de aposentadoria especial que arrumei para você, minha filha. Se não estiver interessada, encontro outra pessoa.
— Está dizendo… que depois disso eu posso realmente me aposentar?
— Claro. Basta concluir essa missão, e concederei seu desejo.
Para ser sincera, era uma oferta tentadora.
O convento estava com sérias dificuldades financeiras. Faltavam doações, e algumas crianças estavam doentes. Mal tinham dinheiro nem para comida, muito menos para tratamento médico.
Ela não podia negar que precisavam desesperadamente daquele dinheiro.
Com fundos suficientes, as crianças poderiam receber tratamento médico e crescer saudáveis. Poderiam estudar e se tornar pessoas muito melhores do que ela jamais sonhara ser…
— Um milhão de ouro, e ainda recebo meu fundo de aposentadoria separado. Certo, “pai”?
Easy e Daisy sempre amaram dinheiro. Num mundo cruel, era a única coisa confiável. Mas, naquele momento, ela ainda não fazia ideia de que seu “marido” — e último alvo — Maxim von Waldeck seria o homem mais perigoso que já enfrentara.
Continua….
Tradução Elisa Erzet
Blimblim
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