A Batalha pelo Divórcio - Capítulo 01
O casamento é uma loucura.
Com um traje de noiva e um véu sobre a cabeça, Daisy forçou um sorriso nos lábios e endireitou as costas, tentando ignorar a cãibra dolorosa que se formava.
— Aquela noiva não é a filha ilegítima do Conde Therese? Ela é bem bonita.
— Bonita ou não, logo será uma viúva. É lastimável.
— De fato. Não é diferente de vender a própria filha.
Os murmúrios dos convidados chegavam aos seus ouvidos, claros e nítidos.
‘Desculpe, mas, na verdade, eu prefiro assim.’
Na vida que Daisy imaginava para si após a aposentadoria, não havia espaço para um marido.
[Torne-se a esposa de fachada, de Sua Graça, o Grão-Duque Maxim von Waldeck.]
Essa era sua última missão como agente secreta. Nada mais.
Maxim von Waldeck, o cão de caça da família real.
O homem que se tornaria seu marido naquele dia estava destinado a ser bucha de canhão em uma guerra impossível de vencer. Antes de ser enviado ao Fronte, precisava de um casamento formal para garantir a sucessão de seu título, mas nenhuma nobre estava disposta a virar viúva tão cedo.
E assim, esta capela se tornou o local da missão final de Daisy. Tudo o que precisava fazer era esperar o amado marido morrer em combate e, então, uma generosa recompensa cairia em suas mãos.
O casamento que a tornaria “Daisy von Waldeck” estava prestes a começar.
‘Atrasado para o próprio casamento. Inacreditável.’
Com o lugar do noivo ainda vazio, Daisy ficou sozinha diante do padre. Para qualquer espectador, ela devia parecer patética. O vestido de noiva extravagante e os saltos altos, roupas que ela nunca usaria, a faziam sentir como se estivesse sendo punida.
O vestido havia sido comprado às pressas, feito de renda que subia até o pescoço. Era perfeito para fazê-la parecer uma noiva pura e inocente, mas o problema era que estava muito apertado no busto.
Na tentativa de fazê-lo caber, teve que usar um sutiã menor, esmagando os seios. Agora, sentia um nó na garganta, como se tivesse engolido algo.
‘Estou tão sufocada. Se continuar assim, vou vomitar.’
Ela já desejava o divórcio, e o casamento nem mesmo começou. Mas precisava aguentar, afinal, era um marido que valia um milhão de ouro.
Se fosse de verdade, ela jamais toleraria aquilo, mas esse falso vinha com o preço mais alto que qualquer alvo com quem já lidara.
‘Já que ele vai morrer na guerra, posso engolir essa humilhação.’
Pensando na recompensa que receberia em breve, ela se sentiu um pouco mais tolerante.
‘Será que ele vai me dar um bolo?’
Com ansiedade crescente, Daisy olhou para a entrada. Essa missão não era apenas sobre a recompensa, era o futuro da aposentadoria em jogo.
‘Por favor, chegue logo, meu milhão de ouro… ’
Nervosa, ela mexeu os dedos. Devia ter trazido um buquê, mas pulou essa parte na correria.
Quando sua ansiedade atingiu o ápice, as portas da capela se abriram com um estrondo!
Um homem alto de uniforme militar entrou, com passos firmes, uma auréola de luz brilhando atrás dele. Por um instante, Daisy achou que estava tendo alucinações, mas, à medida que ele se aproximava, percebeu a verdade:
Seu marido era absurdamente bonito.
‘Nossa, ninguém me avisou que ele seria tão gato!’
Dizem que os belos vivem pouco. Um homem prestes a ser lançado no inferno da guerra precisava mesmo ser tão bonito?
Que desperdício para o país.
Ele tinha o físico forte e imponente de um soldado. O uniforme se ajustava perfeitamente ao peito largo e ombros amplos.
Seu cabelo preto como ébano e olhos azuis-acinzentados transmitiam frieza.
‘Ele é… assustador.’
Não havia uma única expressão em seu rosto. Daisy não se intimidava facilmente, mas a aura perigosa que ele exalava dificultava encará-lo.
Fazia sentido, ele estava prestes a ir para a guerra e, de repente, uma mulher desconhecida aparecia como sua noiva. É claro que se sentiria desconfortável. Daisy compreendia.
— Aqui.
Com passos largos, o homem parou ao seu lado e lhe entregou algo.
— Pegue.
Surpresa, Daisy aceitou automaticamente.
Era um pequeno buquê de margaridas. Simples, longe do luxuoso padrão esperado para casamentos. Mas, mesmo sendo uma cerimônia formal, parecia que ele se esforçou para completar o ritual.
‘Que fofo.’
Na verdade, ela preferia buquês modestos a arranjos chamativos. A rigidez em seu rosto começou finalmente a se dissipar.
Com a chegada do noivo, a cerimônia prosseguiu.
— Declaro perante nosso Senhor que estes dois agora são marido e mulher. Pode beijar a noiva.
O padre recitou as palavras e sinalizou para selarem os votos com um beijo.
‘Um beijo?’
Seu marido partiria para a guerra sem sequer passar a noite de núpcias com ela. Não faria sentido que a beijasse de verdade. Além disso, este seria o primeiro beijo de Daisy, e desperdiçá-lo assim parecia um pecado.
Mas seu lindo rosto se aproximava cada vez mais.
‘O quê…?’
Ela não esperava um beijo em um casamento meramente formal. Ele é realmente tão rigoroso em seguir o protocolo? Talvez como soldado, fosse rígido demais com as regras.
‘Tá bom, vou imaginar que estou beijando meu milhão de ouro.’
Pensando assim, ficou mais fácil aceitar. Era só um beijo, um selinho rápido, e pronto.
‘Pelo menos ele é absurdamente bonito.’
Ter o primeiro beijo com um homem tão atraente não seria a pior das hipóteses, pensou, fechando os olhos e tentando se acalmar.
Ela sentia seu rosto se aproximando. Badum, badum. Seu coração batia em um ritmo descontrolado.
Lábios macios tocaram os dela. Daisy cerrou as mãos trêmulas.
‘Só encostar os lábios e acabou, certo?’
Mas as coisas não saíram como esperado.
— …!
Seus lábios úmidos deslizaram, travando em um beijo profundo. De repente, uma língua quente invadiu sua boca.
‘Por que ele está enfiando a língua?!’
Atrás das pálpebras fechadas, os olhos de Daisy se moveram em pânico.
Ela recuou instintivamente, mas o braço forte de Maxim envolveu sua cintura, segurando-a firme no lugar para que não pudesse escapar.
Com os corpos colados e os lábios capturados, Daisy soltou um gemidinho. Seu coração batia freneticamente. O beijo intenso a deixou tonta, e tudo o que ela podia ouvir era o som molhado e bagunçado dos lábios e línguas entrelaçados.
‘As pessoas normalmente se beijam assim, tão intensamente… Ou melhor, de forma tão inapropriada, na frente de convidados. Talvez?’
… Não, impossível. Existem certos limites até para isso.
Até o padre pigarreou discretamente, claramente constrangido.
‘Esse cara é algum tarado doente?’
Não havia outra explicação.
Ela jurou nunca mais matar após decidir se aposentar, mas seus dedos estavam coçando por ação. Queria arrancar o grampo de cabelo e cravar em sua artéria carótida, mas ele ainda era seu marido, mesmo que só no papel. Para ela, era uma missão, para ele, isso pode realmente parecer um casamento real.
Talvez, para o homem, fosse sua última chance de sentir a respiração de sua esposa antes de partir para sua morte inevitável.
Seja como for, o homem partirá para o campo de batalha logo após o casamento, sem consumar o matrimônio.
E se ela o matasse, seu milhão de ouro desapareceria.
Ela tentou suportar, pensando na aposentadoria gorda. Seus olhos arregalaram ao sentir algo duro e grosso pressionando sua barriga.
‘… Ele está de pau duro? Diante de todos?!’
Não podia ser. Talvez esteja carregando um pente de munição no bolso… ou um estojo de charutos… talvez uma arma?
Ela tentou racionalizar. Mas estava quente demais para ser um objeto inanimado.
E então, ele pulsou.
‘Um tarado no cio!’ 😅😅
O beijo pareceu durar uma eternidade, deixando-a tonta pela falta de ar.
Os dedos dos pés de Daisy se curvaram, tentou não cambalear quando uma respiração suave e provocante roçou sua bochecha.
Mas esse não foi o único problema. Assim que a mão dele em sua cintura deslizou pelas costas, algo estalou.
‘O sutiã se soltou?’
O fecho do sutiã abriu.
Com um único toque.
‘Foi de propósito? Talvez tenha sido um acidente? Não, impossível. Ele claramente não tinha vergonha de ficar excitado, não havia como ser sem querer.’
Sua mente estava uma bagunça caótica e confusa. Apesar de um certo alívio por se libertar da peça apertada, um arrepio subiu pela espinha.
— Perdão. Força do hábito.
‘Que tipo de hábito nojento é esse?!’
Foi quando Daisy teve certeza: o homem diante dela era um rude, cafajeste e desavergonhado. O rosto antes inexpressivo finalmente suavizou, agora exibia um sorriso lânguido, seus olhos se curvaram de forma absurdamente encantadora.
— Vou ser breve hoje, só pela formalidade. Não fique decepcionada.
‘… Isso foi breve?!’
Maxim limpou os lábios molhados de Daisy com o polegar, como se estivesse fazendo um favor, comentou:
— Há muitos olhos nos observando.
Então, sussurrou em seu ouvido:
— Se eu continuar, não conseguirei parar.
‘Tarado.’
Não era à toa que sua recompensa era de um milhão de ouro.
Daisy olhou em pânico para os seios livres do sutiã. ‘Oh meu Deus!’ Um movimento errado faria o vestido estourar.
A cerimônia acabou. Restava apenas a procissão.
‘Aquilo ainda tá… duro. Como ele vai andar assim?’
Mesmo tentando ignorar, seus olhos foram atraídos para lá. Sentir havia sido assustador, mas ver era ainda pior.
A calça dele estava tão esticada que parecia prestes a rasgar.
Ela sabia, pois era a parte mais afetada. Seu rosto estava pegando fogo de quão intenso aquele beijo tinha sido. Foi uma reação natural para um homem como ele, mas a questão era a hora e lugar!
Eles estavam de costas para os convidados, então ninguém notou ainda… mas na saída, seria impossível esconder.
‘Como alguém ignoraria algo tão volumoso assim?’
— Hum, vamos encerrar a cerimônia.
Até o padre percebeu.
Daisy, que encarava desajeitadamente o buquê, olhou de relance para o rosto do marido e encontrou seu olhar.
Maxim von Waldeck sorriu. Um sorriso brilhante e radiante.
— Agora, noivos, prossiga pelo corredor!
Relutante, Daisy entrelaçou o braço com o dele e começou a caminhar. Só de pensar em todos os olhares, não conseguia levantar a cabeça. Ele com aquela “situação”, ela com o sutiã solto. Um desastre.
As pernas tremiam de vergonha.
Ao chegarem à porta da capela, Daisy estava praticamente agarrada ao braço dele. Maxim se inclinou e sussurrou:
— Até logo, querida esposa.
‘Sim, foi um prazer te conhecer. Já estou rezando pelo seu descanso eterno.’
— Teremos nossa noite de núpcias quando eu voltar.
‘Que sonhador. Espero que sua morte seja pacífica.’
Ela pensou que era apenas um sonho tolo de um homem com ilusões cor-de-rosa.
‘Coitado.’
Por um instante, ela quase ficou emocionada, pensando no destino trágico do “marido”.
… Mal sabia ela… que o homem mandado como bucha de canhão voltaria como um herói de guerra.
Continua….
Tradução Elisa Erzet